No século XVI, o Discurso sobre as Imagens Sagradas e Profanas, do Cardeal Gabriele Paleotti, emergiu como uma referência inigualável, sendo chamado de "Catecismo das imagens" entre os católicos. Sua abordagem fundamentava o uso das imagens como instrumentos pedagógicos, capazes de transmitir a fé por meio da pregação silenciosa (muta predicatio). O contemporâneo de Paleotti, São Carlos Borromeu, foi o responsável por transformar essas ideias em ação. Seu compromisso com a "transformação da vida cristã através da visão" e as "regras não verbais da linguagem" redefiniram as representações da Virgem Maria nos séculos XVI e XVII.
Padre Coma dos Canais de Santiago, em seu trabalho Via Pulchritudinis: Respuesta de la Iglesia a la Crisis Contemporánea (2012), afirma: "O primeiro desejo do homem contemporâneo, ao contrário do que muitos teólogos dizem, é sair da cacofonia, do barulho, e buscar, com calma, a verdade. No início, ele tateia e não sabe exatamente onde procurar, mas esse instinto de busca pela verdade está sempre presente. Por outro lado, a feiúra está em toda parte. E não falamos apenas de um conceito estético. Existe uma moda direcionada ao feio, ao mau gosto e ao vulgar, promovida pela publicidade e por esferas influentes da sociedade que procuram conferir um valor intrínseco a tudo o que é feio e imundo (cf. Pontifício Conselho para a Cultura, 2008, p. 44-45).
A moda impôs roupas de fábrica gastas e desbotadas; a arquitetura trouxe o concreto armado, cores sombrias ou tons que “gritam” aos olhos; a propaganda disseminou o 'caos visual' em diversas correntes. A explosão dos movimentos de protesto e contracultura de 1968 e toda a manipulação midiática envolvendo filmes, fotos e notícias sobre o festival de Woodstock de 1969 buscaram posicionar a beleza como mero 'preconceito'. Na verdade, essas iniciativas pretendiam antecipar uma nova antropologia baseada em Marcuse, afirmando que o gosto por certos padrões de beleza, comportamento e vestimenta seriam meras imposições sociais das quais o homem precisaria libertar-se por meio da 'espontaneidade'. Assim, o feio e o belo seriam considerados apenas 'convenções', algo a ser deixado de lado.
Mas será que toda essa visão tem consequências práticas para nossa verdadeira união com o Criador? Von Balthasar, citado por Bento XVI (2009b), explicou que, quando alguém se contorce diante da simples menção da palavra beleza, 'podemos garantir que, aberta ou tacitamente, essa pessoa já não é mais capaz de rezar e, em breve, nem mesmo será capaz de amar'. Guardini (1933) foi além ao afirmar que quem aspira a viver dentro da beleza não pode querer ou buscar nada que não seja bom e verdadeiro (p. 172-173). Portanto, reduzir a beleza a um simples prazer sensorial seria privá-la de seu valor supremo e transcendente.
Diante disso, podemos perceber que o mundo atual sofre de uma carência de beleza. O homem contemporâneo, perdido, busca algo que não conhece, mas fica deslumbrado com o que é positivamente belo. O fenômeno das vanguardas históricas, iniciado no século XX, que perdurou até a Segunda Guerra Mundial e continua influente até os dias atuais, trouxe à arte e aos artistas enorme destaque, promovendo novas atitudes e formas – muitas vezes revolucionárias – à cultura contemporânea. No entanto, essas mudanças frequentemente estabeleceram incompatibilidades entre cultura e Evangelho, entre arte e fé, contribuindo para o processo de descristianização e impactando o empobrecimento da arte e da cultura.
O atual Papa está plenamente ciente desse fenômeno. Em diversos escritos, ele incentiva os católicos a buscar soluções para superar a ruptura entre o Evangelho e a cultura, descrita por Paulo VI (1975) como o 'drama do nosso tempo'. Com essa mentalidade, foi escrita a Carta aos Artistas, de Papa João Paulo II, que não se dirige apenas aos crentes, mas 'àqueles que, com apaixonada dedicação, procuram novas epifanias de beleza para oferecê-las ao mundo' (Berrizbeitia, 2008, s.d.).
Nesta carta, datada de 4 de abril de 1999, pouco antes do início do terceiro milênio, com seus desafios, o Papa retomou a frase de Dostoiévski: 'A beleza salvará o mundo', destacando a necessidade da beleza para evitar o desespero, pois nada como a beleza traz tanta alegria ao coração humano. 'É o fruto precioso que resiste à usura do tempo, que une gerações e as faz comunicar com admiração' (João Paulo II, 1999).
No documento, o Papa explica a crise moderna e pós-moderna. Apesar de a época moderna ter produzido muitas obras culturais, também afirmou um humanismo ausente de Deus, muitas vezes em oposição a Ele. Isso gerou uma separação entre arte e fé e o desinteresse de muitos artistas por temas religiosos. Junto ao humanismo cristão, foi-se consolidando gradualmente um humanismo caracterizado pela ausência ou oposição a Deus. Esse contexto levou à separação entre arte e fé, refletindo no menor interesse por temas religiosos por parte de muitos artistas.
Para a Igreja, a arte é essencial como veículo de transmissão da mensagem de Cristo, fascinando com o mundo espiritual, o invisível e o próprio Deus. A arte possui a capacidade de traduzir essa mensagem em cores, formas e sons, preservando seu valor e mistério transcendentes. E não se trata de qualquer beleza, mas da 'beleza que salva'. A beleza é a chave do mistério e um convite ao transcendente. Ela convida à contemplação da vida e ao sonho do futuro. A beleza criada não sacia completamente, despertando aquela nostalgia de Deus que Santo Agostinho interpretou de maneira incomparável: 'Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!' (Confissões, L. X, cap. 27, 38).
Vinte anos antes, o próprio João Paulo II (1979), ao refletir sobre a mesma 'inquietação' de Santo Agostinho em sua busca por Deus, lembrou que o mesmo movimento pulsa nas profundezas do homem: 'a busca da verdade, a necessidade insaciável do bem, a fome de liberdade, a nostalgia do belo.' Essa inquietação encontra na beleza mistério, deslumbramento e estupor, que respondem ao desejo humano de ser plenamente satisfeito."