A Vontade de Deus e a Total Consagração à Santíssima Virgem Maria
Muitas pessoas, ao se converterem, demonstram certo desconforto diante das imagens dos santos, comentando, por vezes, que “eles estão sempre sérios”. Contudo, acredito que, se pudéssemos enxergar o que os santos vivenciaram em suas visões e missões, compreenderíamos a profundidade dessa seriedade. Esses homens e mulheres santos contemplaram a gravidade da existência humana e entenderam, com nitidez, o quanto é decisivo viver bem, ou seja, viver virtuosamente.
Tome como exemplo as crianças de Fátima. Apesar de sua tenra idade, tiveram um encontro direto com realidades espirituais que muitos adultos sequer ousam imaginar. Viram, com clareza, como a vida é um campo de escolhas que determinam o destino eterno das almas. Mesmo desacreditadas por muitos, esforçaram-se para viver de acordo com o que lhes foi revelado. A mensagem de Nossa Senhora de Fátima é, em essência, um chamado à paz, ao fim das guerras, à conversão, e à reflexão sobre os frutos da ganância e dos erros humanos. Ela nos alerta para as consequências eternas do pecado, verdades que, infelizmente, muitos preferem evitar nas catequeses.
Nossa Senhora, entretanto, como Mãe amorosa de todos, não apenas fala, mas também ensina e mostra. É ela quem, com coragem maternal, revelou o inferno a essas pequenas crianças. Contudo, ao fazê-lo, concedeu-lhes a graça necessária para suportar tal visão e transformá-la em um novo modo de enxergar a vida. Essa experiência despertou nelas uma seriedade diante da salvação e da danação que, muitas vezes, falta até mesmo aos adultos.
Essas crianças, com sua pureza e entrega, tornam-se, em si mesmas, um ensinamento vivo. A reação delas à mensagem de Fátima exemplifica a postura que todos nós deveríamos adotar: pureza de coração e seriedade de conduta.
Este ano que se inicia é um Jubileu, marcando o centenário das Aparições em Fátima. Como é sabido, as aparições em Fátima representam um apelo divino, vindo de Jesus por intermédio da Santíssima Virgem Maria. Assim, torna-se oportuno revisitar os principais pontos desse chamado celestial:
- Em todas as seis aparições, Maria Santíssima solicita a recitação diária do Santo Terço, destacando sua importância como prática devocional indispensável.
- Ela revela o desejo profundo do Coração de Jesus: “Meu Filho quer estabelecer no mundo a Devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar prometo a salvação, e essas almas serão queridas de Deus, como flores postas por mim a adornar o Seu trono.”
- Por fim, Maria aponta a necessidade de almas que se sacrifiquem pelos pecadores, exortando: “Sacrificai-vos pelos pecadores.” E, para enfatizar a urgência desse pedido, apresenta aos pastorinhos a realidade aterradora do inferno: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, muitas almas se salvarão e haverá paz...”
Dessa forma, Maria nos confia uma grande responsabilidade, reafirmando: “Se fizerem o que vos digo...” Em outras palavras, cabe a nós tomar a iniciativa. Como nos ensina Santa Faustina: “No final, a decisão é sempre nossa.”
É evidente que os pedidos da Mãe Santíssima, para evitar que a justiça divina se manifestasse, não foram plenamente atendidos. O comunismo se espalhou, e a Igreja sofreu – e ainda sofre – perseguições severas. Contudo, Maria nos conforta com sua promessa final: “Por fim, o Meu Imaculado Coração Triunfará.” Ao dizer “Por fim”, Ela nos adverte que haverá desafios e provações ao longo do caminho, mas a Vontade do Senhor se cumprirá.
É algo que reforçamos na oração do Pai Nosso: “Seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu.” E, em Fátima, essa Vontade foi detalhadamente revelada: Deus deseja que a Devoção ao Imaculado Coração de Sua Santa Mãe seja estabelecida em todo o mundo.
O que significa esta devoção?
Para compreendê-la, é preciso refletir sobre as palavras de Irmã Lúcia. Quando questionada, ela explicou que se trata de uma entrega total.
E como se vive essa entrega total? Como se pratica a Devoção ao Imaculado Coração de Maria, tão desejada pelo Senhor?
São Luís Maria Grignion de Montfort, em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 217, expressa esse ideal com sublime inspiração:
“Ah! Quando virá o tempo feliz em que a divina Maria será estabelecida como senhora e soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? Quando virá esse tempo feliz, esse século de Maria, em que muitas almas escolhidas, obtidas do Altíssimo por Maria, se perderão no abismo de seu interior e se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar a Jesus Cristo? Esse tempo somente virá quando se conhecer e praticar a devoção que ensino: ‘Para que venha a nós o Vosso Reino, Senhor, venha a nós o Reino de Maria.’”
A consagração pelo método de Montfort é um ato de doação total. Este é um ponto de singular importância, onde reside a maior graça dessa Consagração.
Nós, católicos, somos herdeiros da espiritualidade apostólica e, como ensina São Tiago, cremos que “a fé sem obras é morta.” Para nós, a salvação e a santificação passam pela prática de boas obras, unindo fé e caridade.
Neste contexto, cada um de nós possui um “tesouro espiritual” composto pelo valor de nossas boas obras. Parte desse tesouro é aplicada para nossa própria salvação; a outra parte, podemos doar. Esse é o cerne da grande responsabilidade que Deus nos confiou: mediante a doação de nossas riquezas espirituais, muitas almas podem ser salvas.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.”
Ao se consagrar, realiza-se uma obra de caridade espiritual contínua. Mesmo que a pessoa se esqueça, suas boas obras – passadas, presentes e futuras – são oferecidas para a salvação de pecadores, para o alívio das almas no purgatório e, acima de tudo, para a maior glória de Deus.
Deus nos chama à santidade, pois somente o que é santo permanece diante de Seu trono. Ser santo é fazer a Vontade de Deus, mas a escolha de corresponder a esse chamado é sempre nossa.
Você aceita a Vontade do Senhor em estabelecer no mundo a Devoção ao Imaculado Coração de Maria, entregando-se totalmente a Maria e dedicando suas boas obras pela salvação de muitas almas?
A pergunta que muitos fazem: seria isso realmente necessário? A resposta é clara. Em um mundo dominado pela cultura do pecado – que tenta nos convencer de que o pecado é bom ou, pior, que não existe pecado –, incontáveis almas estão se perdendo.
Mas nós podemos ajudá-las, doando o valor de nossas boas obras. Que grande misericórdia Deus nos concede, permitindo-nos cooperar com a salvação das almas! Que alegria saber que nossas boas obras não apenas glorificam ao Senhor, mas também trazem alívio ao Seu Coração ferido. E são, mesmo que imperfeitas, melhoradas pela ação de purificação que a Santa Virgem faz.
E então? Você aceita o chamado de Deus para estabelecer no mundo a Devoção ao Imaculado Coração de Maria e se entregar inteiramente a Ela, contribuindo para a salvação de inúmeras almas? É uma forma simples, ao alcance de todos, que não exige nada mais do que querer, querer verdadeiramente.
Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).
Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.
Totus Tuus, Maria (2015)
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