Hoje, os livros de romance estão amplamente disponíveis no mercado, em diversas categorias, como teen, new adult e adult. Esses gêneros têm conquistado um público vasto e diversificado, cada um com suas particularidades e apelos específicos.
A literatura possui um poder formativo significativo. Alguns livros exploram o potencial da literatura e seus efeitos desastrosos. Por exemplo, em “Madame Bovary” de Gustave Flaubert, que pessoalmente não aprecio, e “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, que considero razoável, os personagens principais adotam modelos de vida retirados de livros e tentam replicar esses modelos em suas próprias vidas. Esse comportamento resulta em narrativas de vida perturbadoras e angustiantes, distantes de qualquer autenticidade ou virtude.
Em “Madame Bovary”, Emma Bovary é influenciada pelos romances que lê, levando-a a buscar uma vida de luxo e paixão que acaba por destruí-la. Como Flaubert escreve: “Ela queria morrer, mas também queria viver em Paris” (FLAUBERT, 1857, p. 123). Já em “O Vermelho e o Negro”, Julien Sorel é inspirado por figuras históricas e literárias, o que o leva a uma ambição desmedida e, eventualmente, à sua queda. Stendhal descreve: “O homem que não tem nada a perder é invencível” (STENDHAL, 1830, p. 45).
Por outro lado, a literatura também pode exercer uma influência positiva. Vemos isso em obras como “As Mulherzinhas” de Louisa May Alcott, “A Elegância do Ouriço” de Muriel Barbery (representada pela personagem Senhorita Prim), e “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien. Nessas histórias, os personagens são inspirados por valores nobres e virtudes, promovendo uma narrativa edificante e enriquecedora.
Em “As Mulherzinhas”, as irmãs March enfrentam desafios com coragem e bondade, inspirando os leitores a valorizar a família e a integridade. Alcott escreve: “Não há nada como ficar em casa para um verdadeiro conforto” (ALCOTT, 1868, p. 78). Em “A Elegância do Ouriço”, a personagem Paloma é transformada pela sabedoria e bondade de Renée, a concierge, mostrando como a literatura pode despertar a beleza na vida cotidiana. Barbery observa: “A beleza consiste naquilo que se vê” (BARBERY, 2006, p. 102).
Finalmente, em “O Senhor dos Anéis”, os personagens embarcam em uma jornada épica que destaca a importância da amizade, coragem e sacrifício. Tolkien escreve: “Mesmo a menor das criaturas pode mudar o curso do futuro” (TOLKIEN, 1954, p. 89).
A Igreja Católica também reconhece a importância da leitura e da literatura na formação moral e espiritual dos indivíduos. A prática da Lectio Divina, por exemplo, é uma forma tradicional de leitura orante das Escrituras, que visa aprofundar a relação pessoal com Deus através da meditação e contemplação. Além disso, a Igreja incentiva a leitura de obras que promovam valores cristãos e virtudes, ajudando os fiéis a crescerem na fé e na moralidade.
Santos e filósofos também têm muito a dizer sobre a leitura. Santo Agostinho, por exemplo, afirmou: “A leitura das Sagradas Escrituras é um meio de nos aproximarmos de Deus” (AGOSTINHO, 397, p. 56). São Tomás de Aquino destacou a importância do estudo e da leitura para o crescimento espiritual: “A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo” (AQUINO, 1274, p. 34).
Entre os filósofos, Blaise Pascal refletiu sobre a condição humana e a leitura: “A leitura é uma forma de pensar com a cabeça de outra pessoa, em vez de usar a própria” (PASCAL, 1670, p. 78). Johann Wolfgang von Goethe, por sua vez, disse: “Aquele que não lê bons livros não tem vantagem sobre aquele que não sabe ler” (GOETHE, 1824, p. 45). Aristóteles também valorizava a leitura, afirmando: “A leitura é o caminho mais curto para o conhecimento” (ARISTÓTELES, 350 a.C., p. 12).
O Midrash também oferece uma perspectiva interessante sobre o estudo noturno. Segundo o Midrash, quando Moisés esteve no Monte Sinai por 40 dias e noites, ele sabia que era noite quando lhe ensinavam a Torá Oral. Isso reflete a importância do estudo noturno na tradição judaica, onde a noite é vista como um tempo propício para a reflexão e o aprofundamento espiritual (MIDRASH, 2024, p. 23).
Portanto, a literatura tem o poder de edificar ou perverter, dependendo da forma como é utilizada e interpretada pelos leitores. Ela pode tanto inspirar comportamentos virtuosos quanto desencadear ações desastrosas, refletindo a complexidade e a profundidade da experiência humana.
Referências
ALCOTT, Louisa May. As Mulherzinhas. 1. ed. Boston: Roberts Brothers, 1868.
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Giovanni Reale. São Paulo: Loyola, 1999.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Correia. São Paulo: Loyola, 2001.
BARBERY, Muriel. A Elegância do Ouriço. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Martin Claret, 2003.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Conversações com Goethe. Trad. Paulo Rónai. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
MIDRASH. Midrash sobre o estudo noturno. Acesso em: 31 ago. 2024.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
STENDHAL. O Vermelho e o Negro. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
TOLKIEN, J.R.R. O Senhor dos Anéis. Trad. Lenita Maria Rimoli Esteves e Almiro Pisetta. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
VATICANO. Lectio Divina. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cclergy/documents/rc_con_cclergy_doc_20080415_lectio-divina_en.html. Acesso em: 31 ago. 2024.