Meditações sobre a Beleza| Parte 4: A Beleza Cotidiana
Mas o caminho desenvolve seu traçado em nosso hoje humano. É lá, agora, que se deve aprofundar nosso conhecimento de Deus, na oração de contemplação, no face a face filial com Deus...Caminho, que desemboca num horizonte sem limite e sem fim, o céu de Deus.Desejo intenso de ser, um dia, mergulhado no amor, no coração de Deus, entregue ao amor, até ser apenas um, na comunhão de amor.¹
Cônego Tonnelier
A vida cotidiana precisa de uma “beleza mínima”, como gotas da Beleza Suprema na realidade concreta, vislumbrada na mente humana e edificada por suas mãos numa arte cotidiana: uma linda fachada de um imóvel, uma bela igreja, um lindo jardim, um arranjo de flores, quadros ou ainda a organização das ruas, de uma mesa ou de uma gaveta. Todas estas pequenas harmonias fazem parte da “beleza mínima” e oferecem à alma um respiro profundo e gratificante durante o dia. São setas para a Beleza Suprema, pequenas luzes preparadas por almas belas para levar outras almas ao Belo.
Estas pequenas belezas harmonizam o lugar em que estão, iluminam internamente e externamente, geram integralidade, já que a alma é lembrada de sua existência eterna e acalmada pela ordem inerente às coisas belas. Ordem que decorre, primeiramente e principalmente, de sua ligação ao Belo Supremo, que é Deus. A vivência da beleza cotidiana, alicerçada na ordem, gera a virtude do zelo.
Todas as buscas por adequação e padrões, etiquetas e estilos, em qualquer área, são uma busca - muitas vezes desordenada, finita e escravizante - pela paz que a ordem gera em nossas almas, que decodificamos como beleza. A ordem é uma característica inerente à beleza, e a paz é a harmonia da ordem. A ordem gera paz, e ambas geram a beleza.
No entanto, alguns caminhos que aludem levar à beleza podem levar a uma série longa e cansativa de aparências - que destoam da realidade concreta e vivenciável cotidianamente - que não trazem a paz da beleza alicerçada no Belo. Como é o caso dos prédios modernos, que são idênticos, passam certa ordem sistemática, mas não são belos e, portanto, não passam paz. O mesmo acontece com muitos estilos e padrões adotados nas mais variadas áreas, da arquitetura à arte, da moda aos padrões de aparência física de cada país.
Por outro lado, um costume familiar ou entre amigos que toma ares de tradição, os costumes culturais sadios e os elevados rituais religiosos católicos são uma dose extra de beleza cotidiana necessária e buscada, que oferecem à vida um tom mais sublime e elevado, como uma sala que, quando banhada por um raio de luz, ganha novas belezas; assim fazem os ritos e as tradições nos nossos pacatos e belos dias.
Vivendo bem cada um dos momentos do “Momento Sagrado de Beleza”, podemos ver com outros olhos as belezas cotidianas e semear belezas mínimas ao nosso redor. Sem padrões escravizantes e pensamentos superficiais, mas com um comportamento cristão e pensamentos devotos, criando em nós um ambiente belo, uma alma bela, que semeia as belezas eternas e não mundanas, em meio ao cotidiano material e temporal. Até o seu encontro com o Supremo Belo.
"Deveríamos - dizia ele - diariamente ouvir ao menos uma pequena canção, ler um bom poema, admirar um quadro magnífico, e, se possível, pronunciar algumas palavras sensatas." ³
Referências:
1) TONNELIER, C. 15 de Dias de Oração com São João da Cruz. Paulinas, 2011. 104 p. Disponível em: https://amzn.to/3GO5PvE.
2) SCRUTON, R. Beleza. São Paulo: É Realizações, 2013. 231 p. Disponível em: https://amzn.to/46vp2xg
3) GOETHE, J. W. Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister. Editora 34, 2009. 608 p. Disponível em: https://amzn.to/3pBcAeR.
1 comments
Boa noite, por favor me diga em qual livro encontro essas meditações de São João da Cruz?
ResponderExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.