A importância dos gestos na arte
Masaccio, Crocifissione, 1426. Tempera su tavola, 83 x 63 cm. Cimàsa del Polìttico di Pisa. Napoli, Museo di Capodimonte.
A arte utiliza uma linguagem não verbal eficaz, muitas vezes imediatamente comunicativa, cujos códigos se desenvolveram ao longo do tempo. Os personagens que animam pinturas e esculturas são obviamente silenciosos, mas ainda se dirigem ao observador "falando" através da linguagem corporal. Palavras não ditas são efetivamente substituídas por gestos, poses e expressões.
Cimabue, Crocifisso di San Domenico, 1270 ca. Particolare di Maria dolente. Tempera su tavola. Arezzo, Chiesa di San Domenico.
A casuística dos gestos é muito ampla: há gestos que ainda hoje são imediatamente compreensíveis e comunicativos, e outros que o eram para o público a quem as obras outrora se dirigiam, mas que para nós, contemporâneos, podem parecer misteriosos, curiosos ou até engraçados. No entanto, reconhecer seu verdadeiro significado é essencial para uma compreensão correta e completa de uma obra.
Na arte, duas categorias principais de gestos podem ser identificadas: os descritivos, que têm caráter predominantemente ilustrativo e indicam uma ação ou declaram o papel social de um personagem; e os expressivos, que revelam sentimentos, emoções e humores. Estes últimos, codificados por uma longa tradição iconográfica, envolvem principalmente braços, mãos e pernas.
Por exemplo, o gesto dos braços estendidos, para cima ou para trás, equivale a um grito de partir o coração, a mais alta expressão de dor e desespero. Nas crucificações, nos enlutados e nos depoimentos há uma explosão incontrolável de angústia, bastante típica das figuras femininas e, em particular, de Maria Madalena, e contrasta com a dor muda, mas dilacerante, de Nossa Senhora.
Pelo contrário, o gesto do braço direito dobrado e apoiado no corpo, com a palma da mão voltada para fora, simboliza a submissão à vontade superior de Deus e indica a aceitação de uma realidade dolorosa. Já os braços cruzados simbolizam um estado de inatividade, típico de quem presencia a manifestação de uma ação sem participar ativamente dela. Quando os anjos que cercam Nossa Senhora estão nessa postura, o gesto denota um estado de espírito de adoração e contemplação.
O gesto mais comum na história da arte, no entanto, é levar a mão ao rosto, típico dos enlutados, expressão de uma dor profunda, mas controlada, com dignidade. Não é um gesto de desespero, não é sintomático de uma paixão forte, mas transitória; pelo contrário, indica sofrimento duradouro, que não pode ser aliviado com o tempo. É típico de Nossa Senhora e João Evangelista que testemunham impotentes a crucificação de Cristo.
Para aprofundamento: Revista Digital Salutaris: Educação Estética, Arte & Patrimônio
Para aprofundamento: Educa-te: Paideia Cristã
Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.
1 comments
Tudo o que importa na vida, depende do discernimento. Nunca tive. Só me estrepei. O que me salvou foi a misericórdia de Deus e no fato dele tirar do mal, um bem maior. tenho um desejo em meu coração que parece tão absurdamente impossível, mas que no entanto, me cala fundo no coração e discernir sobre tal situação, em decorrência da minha falta de 'prática", tem-me deixado mais aflito do que deveria, segundo seu brilhante texto. Reze por mim. Já vivi muito na tempestade. Preciso de um pouco de brisa. Brisa do ESPÍRITO SANTO. Agradeço à Deus pela sua existência. Paz e bem.
ResponderExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.