Fatos históricos são comumente usados como ricas inspirações para produções culturais das mais variadas naturezas. Somos por elas atualizados dos acontecimentos históricos através de um prisma, e isso se torna, de certa forma, uma verdade.
Ver é possuir. Logo, ao assistir a uma série, possuímos, de certa forma, uma forma de conhecimento ou novo conhecimento sobre aquele fato. Não é de todo ruim, no entanto, pode ser perigoso se atrelar a uma visão produzida intencionalmente. O protagonista de O Velho e Negro mostra como uma pessoa comum pode se tornar absolutamente intragável e sem caráter por simplesmente tomar o prisma de um livro sobre Napoleão como uma verdade, assim como o pensamento, ou suposto pensamento, do auto-coroado rei imperador francês. A visão do protagonista era restrita quanto ao personagem histórico adorado.
A série chinesa The Princess Weiyoung se baseia na história da dinastia Wei. Trata-se de uma princesa de um estado subjugado ao estado de Wei.
Vale lembrar que a China era dividida em reinos e tribos, e estes lutavam entre si. Cada estado possuía um rei, e de tempos em tempos surgia um imperador que desejava unificar os estados e desenvolvia batalhas para conquistar os estados vizinhos, para assim acabar com as guerras. Muitos imperadores tentaram isso. Esse era o sonho coletivo chinês. Pois até a última revolução da China, que causou a queda da última dinastia, as grandes cidades ficaram sob o comando de generais que, claro, lutavam entre si. O exército revolucionário acabou se beneficiando dessa situação, conseguindo o apoio dos empresários que queriam manter seus negócios sem a guerra. Esse contexto nos mostra o motivo que levou a China a um regime comunista tão duradouro; em sua cultura, um sistema centralizador não é muito diferente do que desejavam os imperadores que queriam unificar os estados. Muitas produções são feitas numa releitura deste período de transição, que passa a imagem de que o povo chinês foi quem fez a escolha. Uma delas é a produção "Fall in Love".
A série The Princess Weiyoung então se desenrola em capítulos de 40 minutos, sobre a ocultação dessa princesa até a sua influência na família imperial de Wei. O tema é família e, em segundo plano, o poder a serviço do povo. De uma forma geral, as séries sempre tratam muito do tema família e do poder, principalmente em manter o poder ou reconquistá-lo.
As virtudes presentes são: fidelidade, sacrifício do amor, lealdade, confiança, coragem e perdão. É claro que para que estas virtudes se tornem mais evidentes existem também seus antagônicos, os vícios, presentes na trama. É um trabalho realista; a atriz escolhida para protagonista está criando uma carreira como intérprete de imperatrizes, o que torna interessante acompanhar suas atuações. Essa imperatriz fictícia parece muito com a imagem da mulher inteligente e bela que as produções tendem a evidenciar. A inteligência é sua maior capacidade de governo.
Essa releitura do período do império, mesmo com fatos que apontam a existência de imperatrizes assim, mostra a preocupação em evidenciar os talentos da nação como um todo. Não existe um desprestígio do período passado, mas uma comprovação de que o país sempre foi grande em seus governantes, mesmo os maus governantes.
É uma estratégia de releitura histórica interessante que certamente será matéria de observação no futuro.
Sobre Educação Estética: Revista Digital Salutaris: Educação Estética, Arte & Patrimônio
Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.