A complementariedade do feminino e masculino na arte cinematográfica [Crítica de Cultura Católica]

by - terça-feira, outubro 23, 2018




A complementariedade entre a missão feminina e masculina encontra diversos ruídos nas mais diversas produções culturais. Fruto da nossa limitação em conceber essa interação de forma saudável, frequentemente vemos estabelecidos, sem nenhum critério, uma série de padrões, tanto progressistas quanto conservadores, para essa interação.




É interessante observar que, dentre as produções culturais mais equilibradas sobre o assunto, destacam-se as produções chinesas. A produção chinesa, com altos investimentos e artistas de múltiplos talentos, tem mostrado uma abordagem hábil e reflexiva sobre pautas políticas como o feminismo.

A China é uma cultura milenar que se esforça por preservar sua história, mesmo num regime que, em essência, tende a descredibilizar o passado. O país parece trilhar um caminho próprio, fruto da união inusitada entre comunistas e empresários. Durante a revolução chinesa, os empresários apoiaram o avanço militar, o que resultou em um governo comunista militar empresarial.



Dessa interação inicial surgiu uma abordagem de governo de esquerda militar e de riqueza produtiva. E uma das maiores fontes para ver o retrato da China por ela mesma é o grande apoio que os produtores culturais da internet recebem para propagar a cultura chinesa. Cada canal de YouTube está ligado a uma empresa de mídia, uma vez que não existe YouTube na China, é preciso publicar os vídeos fora. Essa leitura da China é realmente agradável, de fartura e muita riqueza alimentar, o que mostra uma abordagem sinalizatória sobre o sucesso da China, que todos podemos ver nos produtos que compramos, pois são todos chineses. Essa potência silenciosa é também uma potência cultural silenciosa.


Na série "Los Intérpretes", a produção é voltada para a educação chinesa sobre o fato de que todo chinês é um embaixador da China nos países em que estão. Essa abordagem mostra a preocupação da China e a ação conjunta dos chineses em fazer da China uma grande nação. É o sonho coletivo chinês, desde a época dos imperadores chineses (assim como o sonho da unificação da China).


Há quem me pergunte o motivo de me atentar às produções chinesas. Além do fato de ser a atual superpotência do mundo, existe a questão da evangelização. Logo, nós estaremos cercados mais pela cultura chinesa do que pelas outras. É importante saber o que eles valorizam.


O sonho coletivo chinês, de uma nação bela, inteligente e forte, é plasmado na sociedade pelas produções, que querem educar mostrando que o país será forte, belo e inteligente se todos, homens e mulheres, assim forem. Veja, portanto, que o objetivo chinês é o crescimento de influência de sua pátria. Para isso, as pautas ideológicas não são favoráveis, já que muitas vezes colocam um em detrimento do outro. Por isso, as produções tendem a mostrar uma ação conjunta em prol de todos e da pátria.





A visão está correta e poderia ser muito melhor aproveitada se colocássemos uma visão cristã sobre isso, não só pelo bem da pátria terrena, mas pela vida na pátria celeste. Esta abordagem é inexistente nas produções chinesas (claro, por conta da mentalidade base do comunismo); no entanto, a complementariedade sempre existe, até mesmo no "olimpo chinês" com seus deuses e criaturas míticas. Mas este olimpo é uma cópia mais caótica do olimpo grego e romano. Com frequência, existem confusões sobre o bem e o mal, numa clara tentativa de incutir que uma vida terrena calma e tranquila é tudo o que poderíamos querer.


Portanto, embora a produção cultural chinesa tenha muitos pontos positivos, carece desse ponto fundamental. No entanto, a maioria das produções ocidentais também nada têm a enriquecer nesse ponto.


Os pontos positivos que podem fazer com que o avanço das produções asiáticas repercutam de forma a favorecer a boa doutrina cristã, através de um alimento cultural menos pernicioso moralmente, são:




Primeiro: são séries marcadas por grande pudor. Por razões culturais, raramente se encontram comportamentos luxuriosos e cenas de nudez explícita nas séries, nem mesmo comportamentos depravados. Para que se tenha uma ideia, até mesmo um beijo e pegar na mão são extremamente raros e só acontecem depois de muitos episódios. Isso é de extremo valor para nós, brasileiros, que temos dificuldade em viver o pudor devido à necessidade, quase crônica, de tocar nas pessoas. Especialmente aqueles que desejam viver um namoro santo encontrarão nessas séries uma forma de absorver comportamentos mais comedidos e poderão reafirmar a certeza de que amor e tocar na pessoa são coisas distintas. Observar como eles são comedidos nos ajuda a viver a temperança, o pudor e a modéstia em nossas atitudes.


Segundo: os personagens realmente condensam em si a missão masculina no homem e a feminina na mulher. Fica extremamente clara a distinção e a importância de cada missão e da individualidade de cada pessoa.


Terceiro: em muitas séries é possível notar a evolução da cultura asiática através do contato com a cultura ocidental (judaico-cristã). Portanto, nos ajuda a notar como os valores cristãos incutidos nas leis e na moral auxiliaram diversos povos a melhorarem (principalmente em relação ao valor da mulher e ao casamento), mesmo indiretamente, como é o caso da Ásia. Eles não são um povo evangelizado; no entanto, em sua maioria, absorveram muitas coisas culturalmente católicas, afinal, o catolicismo é também uma cultura. Além disso, em séries contemporâneas é possível notar como o cristianismo tem feito parte da vida do povo comum. Presentes em hospitais, escolas e orfanatos, além das igrejas, é fácil notar cruzes pelas cenas, assim como as diversas reações ao cristianismo. Temos desde aqueles que acabam recebendo o benefício das obras de caridade até personagens que representam não pessoas em si, mas a cultura milenar desses países e sua tentativa de permanecer. Aliás, boa parte das séries possui a intenção de ressaltar os valores da cultura oriental, não fazendo menção direta a nenhuma religião, o que permite que possamos trabalhar o filtro para absorver as qualidades e nos atentar ao que chamo de brecha de evangelização (todas as civilizações possuem pequenas brechas que possibilitam a conversão ao cristianismo, e é assim que a Igreja vem evangelizando desde São Paulo com os gregos) e observar os pontos de erro para treinar como refutá-los (ao menos essa é a forma que concebo).


Quanto à complementariedade, objeto deste artigo. Podemos observá-la em todas as séries. Na série "General and I" ficam realmente desenhados os aspectos da complementariedade.


E, como o próprio nome indica, trata-se da história de um general e uma moça órfã e só no mundo, mas muito, muito inteligente. A série se desenrola em mais de 60 episódios. O tema da série é a nação. Uma característica muito interessante, como já apontado, é que o romance amoroso é um elemento, não o motivo da história; o tema da série é o patriotismo de ambos os personagens, e exemplos de fidelidade, caridade, abnegação, honestidade, honra e coragem. O que torna os personagens muito interessantes. É claro que, para que estas virtudes se tornem mais evidentes, existem também seus antagônicos, os vícios, presentes na trama.


Além disso, observamos uma representação profunda do casamento, um ponto que merece atenção especial. Aborda os motivos para o casamento e o significado de se unir a outra pessoa, destacando a fidelidade aos votos matrimoniais. Em todas as culturas, o casamento é um compromisso assumido pelos próprios noivos; no catolicismo, não é diferente. O casamento é o único sacramento realizado pelos noivos, onde ambos fazem votos expressos diante de Deus e prometem cumpri-los até a morte. Esse aspecto, que enfatiza o cumprimento dos votos, é tratado com clareza.



Aprofundamento sobre complementariedade: Livro A Mulher Católica: Graça & Beleza (Ana Paula Barros).



Com uma abordagem tão interessante é fácil conceber uma complementariedade social em prol do crescimento nacional. Característica também vista em "Você é a minha glória", "O começo de uma nova vida", "Floresce na Adversidade" e "O Tigre e a Rosa".


Talvez o que mais evidencie a forma chinesa de lidar com as pautas tão debatidas no ocidente seja a produção "O Tigre e a Rosa", sobre uma roteirista feminista que cria um mundo regido pelo "matriarcado" e não pelo "patriarcado". A história mostra de forma divertida o erro de somente inverter os supostos polos de força social.


Também é possível constatar nas séries modernas a resistência ao casamento e alguns pontos sobre a legalização da interrupção da gestação, que mostram como esses atos de pecado foram abraçados. Embora seja possível ver coisas bem piores em séries ocidentais, vale observar como o tema é retratado pela arte do cinema oriental.



Aprofundamento sobre educacional: Educa-te: Paideia Cristã 





Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.












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4 comments

  1. Que legal ver doramas sendo indicados!:)
    Eu sempre gosto muito de dramas asiáticos justamente por retratarem mais o aspecto das diferenças entre homem e mulher, pelo respeito ao corpo de forma geral e digamos que 80% desses romances tem o sexo como algo que acontece após o casamento e nunca (todos os que assisti e olha que foram muitos!) é mostrado de fato o ato.
    Em contrapartida, tenho notado que atualmente mesmo entre os doramas há muitos que tem tratado de temas espíritas, o "empoderamento" das mulheres ou algumas histórias muito muito materialistas. Alguns que não pretendo terminar de assistir são o "The beauty inside" e o "What's wrong with secretary kim" por ter tido spoilers e saber que o último citado pelo menos apela mais para o lado sexual, mostra várias vezes corpos despidos podendo ferir a nossa castidade, a luta cotidiana contra os pensamentos e desejos etc.
    Enfim, sempre temos que estar alertas.

    Esse ano deixei de assistir como oferecimento ao Senhor durante a Quaresma e até agora não voltei. Eu pretendo voltar a assistir no próximo mês e vou começar por tuas indicações que estão aqui e se tiver mais algumas eu agradeço. ^~^
    Também deixo algumas para ti:
    * Come and hug me; (sobre perdoar e se reconciliar com o seu passado, muito bonito)
    * I'm not a robot;
    * Thirty but seventeen ou "still 17";
    * Mother;
    * My Mister ou "My Ahjussi"; (só amorrrrr)
    * Life on Mars;
    * Scarlet Heart Ryeo (pra chorar bastante já deixo um alerta rs)
    * Weightlifting fairy kim bok joo.
    São alguns que me vem na cabeça de doramas bons, nem todos são de romance homem e mulher mas todos trazem um bom enredo, boas histórias e lições. Alguns eu fico pensando e realmente refletindo nas personalidades e pensamentos mostrados..

    Enfim,
    com muito carinho, paz e bem Ana.

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  2. Sério, concordo com você gosto de Dorama justamente por isso ,por ser normalmente sem imoralidade e em geral não tratarem a mocinha como um objeto. Eu estava cheia de ver séries americanas em que a imoralidade reinava solta, até entre séries adolescentes! Que falar das novelas então? Uma porcaria. Eu tinha um pouco de preconceito com doramas, mas agora gosto muito de assistir.

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  3. Achei esse blog uma benção!Eu amo doramas,o problema é que estou procurando algum para mim ver esses dias e eu não sei qual ver,se alguém poder me recomendar um dorama puro que não tenha nada de errado e que faça bem para nossa alma eu agradeceria bastante!Salve Maria!

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  4. Assisti city hunter mais ação e comédia. Assisti a vários também e tenho gostado exatamente pelo recato das cenas.

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Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.