A beleza feminina e as pressões sociais [Crítica de Cultura Católica]
"She Was Pretty" (2015)
Como o nome sugere, a série aborda o tema da "beleza" no sentido de imagem e aparência, especificamente a feminina.
A protagonista é uma "fracassada" que consegue um estágio em uma revista de moda. Além desse fator, ela tem uma aparência considerada desagradável, especialmente para os padrões coreanos. Para contextualizar, a Coreia é um dos países com a maior demanda por cirurgias plásticas, sendo um dos mercados mais renomados da medicina estética. Uma plástica é um dos presentes de maioridade mais frequentes na Coreia.
Assim, é comum que as séries coreanas apresentem reflexões sobre a beleza, os padrões idealizados naquela cultura e seus resultados. No entanto, "She Was Pretty" (2015) aprofunda-se na questão. A beleza estabelecida como um padrão baseia-se na aquisição, por meios financeiros, de alguns traços físicos que conferem ao portador a beleza socialmente aceita. Neste ponto, embora não de forma tão exigente, o Brasil apresenta comportamentos similares em relação à beleza física. A beleza é entendida como uma série de aquisições feitas de forma recorrente, determinando que uma pessoa é bela por adquiri-los. Ou seja, é uma visão materialista da beleza, uma beleza comprável.
Para aprofundamento: Livro A Mulher Católica: Graça & Beleza (Ana Paula Barros)
Esta aquisição torna-se uma forma de comunicação e se desenrola em uma lista de exigências que devem ser seguidas: sempre "passar um batonzinho", nunca "faltar um brinquinho", "que linda essa foto que você está mostrando as pernas", "acho tão bom que você está se cuidando fazendo as unhas". Estas "regras sociais", que parecem insignificantes, mostram uma série de normas (regras não verbais) que passam a possuir o status de beleza e geram uma longa dependência do olhar de aprovação do outro, que determinará se o aspirante a ser belo socialmente está de acordo com os requisitos.
As duas culturas possuem a visão da beleza pela exposição: se a pessoa não mostrar que fez tal coisa - se não é visível - não será belo. Embora a Coreia tenha um padrão de construção dessa imagem mais natural e acessível do que o brasileiro, que é uma sucessão de camadas visíveis para esconder uma determinada insatisfação, ambas compartilham a ideia de que não basta ter uma pele bem tratada ou um cabelo limpo e tratado. Nada do território do saudável basta.
E este é o ponto de várias produções asiáticas sobre a aparência que bem servem para o Brasil, que tem um aspecto de exposição bem mais estabelecido e sedimentado.
A série também aborda o sucesso profissional, a dedicação ao trabalho, os sonhos esquecidos e os relacionamentos que nos ajudam a descobrir quem realmente somos.
O aspecto do sucesso profissional não é insignificante; muitos mercados estão focados na imagem, especialmente o digital. No entanto, ao contrário dos americanos, europeus e alguns latinos, que recentemente têm optado pelo traço do "estranho", a Coreia (e também a China) ainda preserva exigências de imagem e aparência muito específicas e rigorosas quanto ao "normal perfeito". A aparência impecável, que impressiona alguns, pode esconder uma grande máquina de mercado que enriquece à custa das ansiedades dos consumidores.
Outro tema importante da série é a vergonha de si mesmo e suas consequências. "She Was Pretty" mostra que a beleza não está nos adornos que a protagonista coloca em si para parecer bela. Adotando uma abordagem quase socrática sobre a beleza, a série evidencia que a beleza não se resume à aquisição de apetrechos. Essa percepção é importante, pois nos distancia da ideia perigosa de que basta ter uma série de aquisições para ser bonita ou feminina, como se tais atributos fossem mercadorias adquiridas em transações comerciais, refletindo uma visão marxista sobre a aquisição da feminilidade e da masculinidade.
Para aprofundamento: A atual percepção de feminilidade flerta com o marxismo
As pressões sociais sobre a aparência feminina oscilam entre os estereótipos dos comerciais de margarina dos anos 50 e a aparência alienígena. No entanto, cabe observar a perspectiva cristã sobre a aparência e a imagem:
1 Pedro 3, 3-4: "Não sejam, pois, as suas atenções voltadas para o exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro ou roupas caras; mas sim para o interior do coração, unido ao incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus."
Provérbios 31, 25-26: "A força e a dignidade são os seus vestidos, e quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações. Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua."
1 Timóteo 2, 9-10: "Da mesma forma, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada, ou com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras."
Cânticos 4, 7: "És toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito."
Além disso, é interessante notar a presença do cristianismo na cultura coreana. De forma sutil, a série mostra como as percepções do cristianismo e da cultura ocidental se integraram ao cotidiano na Coreia, sendo visíveis em hospitais, escolas e orfanatos. Em uma cena com a protagonista e sua melhor amiga, essas influências são claramente evidentes.
O cristianismo, na percepção das produções coreanas, está atrelado à capacidade de suportar sofrimento, à remissão e ao perdão. Os símbolos cristãos surgem em determinados momentos das cenas, sempre que esses temas são abordados.
Também é possível encontrar produções mais recentes com padres e freiras como protagonistas, como a série "Um Padre Ousado", onde a justiça ativa, tão diferente do comportamento budista e taoísta em relação às ações sociais (baseadas na impassibilidade e na não-ação), está vinculada às ações cristãs. Nessa série, são retratadas pessoas que lutam por justiça e não aceitam o poder das máfias e das injustiças, uma visão que, para um ocidental consciente, é bem bondosa.
Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.
3 comments
Oi Ana, eu assisti a série e gostei muito! Em algumas cenas pude ver cruzes ao fundo e achei isso demais! A série também ensina virtudes e como o amor verdadeiro ultrapassa todos os obstáculos, é o que vemos entre ji Sung-joon e a kie Hye-Jim! O desenrolar da história e interessante e a série é muito engracada(principalmente a Kie Hye Jim com seu jeito de ser e as suas expressões ...rsrs)
ResponderExcluirBom, é isso. Que Maria Santíssima abençoe a nós!
Olá,Ana! Faz um tempo que procurava coisas boas para ler e assistir, todavia, tinha dificuldade de encontrar. Agradeço muito por suas indicações, e será novo para mim assistir doramas. Deus abençoe e Salve Maria!
ResponderExcluirOlá Ana! Que incrível. Acabei de Assistir She Was Prettry e confesso que fiquei encantada. Com o enredo, o pudor, a amizade e todos os valores. É impossível não perceber o cristianismo ali presente. Tanto é que vim no Google ver sobre doramas cristãos e me deparo com este teu artigo.
ResponderExcluirObrigada! E quem puder, não perca a oportunidade de assistir!
Salve Maria!
Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.