História da Igreja 2: A Perseguição
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Textos citados:
Mártires:
"Sabendo então que os oficiais de polícia lá estavam, ele (Policarpo) desceu e falou com eles. Eles estavam surpresos pela sua idade e sua calma e pelo empenho empregado para prender um homem tão idoso. Serviu-os com tanto alimento e bebida quanto quiseram, pedindo-lhes apenas uma hora para rezar à vontade. Eles permitiram, e de pé, ele começou a rezar tão cheio da graça de Deus que por duas horas não pôde parar, e aqueles que o ouviam ficaram admirados e muitos se arrependeram de ter ido prender um homem tão santo. Em sua oração ele se lembrou de todas as pessoas que encontrou, ilustres e obscuros, e toda a igreja Católica espalhada pelo mundo. Quando terminou, chegando a hora de partirem, eles o montaram num burro e o levaram à cidade. Rapidamente eles empilharam em volta dele o material para a fogueira. Quando iam pregá-lo ele disse, 'deixem-me assim'. Aquele que me dá forças para suportar o fogo também me ajudará a permanecer imóvel na fogueira. Então não o pregaram nela, mas o amarraram. Com suas mãos atadas às costas, ele parecia um carneiro escolhido de um grande rebanho para o sacrifício. Levantando seus olhos aos céus ele disse: 'Senhor, Todo Poderoso Deus, Pai do Bem-Amado e Bendito Filho Jesus Cristo, através do Qual recebemos o conhecimento de Vosso Nome, Deus de toda Criação, Eu vos bendigo por me haverdes julgado digno deste dia e desta hora, para partilhar entre o número de vossos mártires no cálice de vosso Cristo, em vista da Ressurreição do corpo e alma na plenitude do Espírito Santo. E por tudo eu vos louvo, eu vos bendigo, eu vos glorifico, através do eterno e celeste, Sumo Sacerdote Jesus Cristo, vosso bem-amado Filho, por Quem seja dada a glória a vós, com Ele e o Espírito Santo, agora e sempre, Amém.' No meio do fogo ele ficou, não como carne que queima, mas como pão que é assado." (Martírio de Policarpo, Bispo de Esmirna - SC n. 10, p. 250, 252; 260, 262;264)
"Então me levantei. Vi um jardim imenso. No meio havia um homem alto vestido como pastor. Estava ocupado em tirar leite das ovelhas. Em volta dele, aos milhares, homens vestidos de branco. Ele levantou a cabeça, olhou para mim e disse: 'Bem-vinda minha filha.' Ele chamou-me e deu-me um bocado de queijo que havia preparado; eu recebi isso com as mãos juntas. Comi e todos disseram 'Amém'. Ao som das vozes acordei, sentindo o sabor de uma estranha doçura em minha boca. Contei logo esta visão para meu irmão (Saturus) e compreendemos que o martírio nos aguardava."
"Nosso martírio havia terminado. Deixamos nossos corpos para trás. Quatro anjos nos carregaram para o Oriente mas suas mãos não nos tocavam. Quando havíamos passado através da primeira esfera que envolve a terra, vimos uma grande luz. Então eu disse a Perpétua que estava a meu lado: 'Eis aí o que o Senhor nos prometeu.' Tínhamos alcançado uma planíce vasta que parecia ser um jardim com oleandros e todo tipo de flor. As árvores eram tão altas como ciprestes e suas folhas cantavam sem cessar. Chegamos a um palácio cujas paredes pareciam ser feitas de luz. Entramos e ouvimos um coro repetindo: "Santo, Santo, Santo". No hall está sentado um homem vestido de branco. Ele tem um rosto jovem e seu cabelo brilhava, branco como a neve. De cada lado dele estão quatro homens de pé. Vamos em frente maravilhados e beijamos o Senhor que nos acaricia com sua mão. Os anciãos dizem a nós 'Levantem-se'. Obedecemos e trocamos o beijo da paz. Reconhecemos muitos irmãos, mártires como nós. Por alimento tínhamos todos um perfume inefável que nos saciava plenamente." (Martírio de Felicidade e Perpétua, Ed Knopf-Kruger)
Heresias:
Montanismo
Montanismo foi uma heresia do século II, de um certo Montano da Frígia que, com suas auxiliares Priscila e Maximila, anunciavam o fim do mundo e a volta iminente de Cristo.
Pregavam um rigorismo moral: jejum perpétuo, proibiam o casamento, pregavam o martírio, minimizavam o papel dos bispos. Montano se dizia a encarnação do Espírito Santo, chegava a batizar em “Nome do Pai, do Filho e de Montano”. O papa São Zeferino (199-205) condenou a heresia.
Milenarismo
É antiga a visão religiosa segundo a qual o tempo caminha linearmente e chega a um final. Os antigos egípcios, os mesopotâmicos, os indo-arianos e outros povos compartilhavam essa perspectiva fatalista da temporalidade.
Entre 1 500 a.C. e 1 200 a.C., Zoroastro, na Pérsia, propôs um novo paradigma: o final dos tempos traria um novo mundo, de paz e felicidade. Os povos semitas também tinham essa visão (que inspirou seus diversos "apocalipses"), sobretudo os grupos essênios.
Entre os primeiros cristãos, o milenarismo difundiu-se pela Ásia Menor e no Egito a partir do século III. Com base nas palavras do Apocalipse de João (Apocalipse 20:3-4), os seus adeptos acreditavam que, após o tempo de Satanás, o reino do Messias duraria mil anos na Terra. Tal crença, originada no messianismo judaico, supunha que, após esse período, o demónio retornaria para ser morto para sempre, quando se instauraria definitivamente o reino celeste. Ressalte-se que, naquele momento, para essas pessoas, as perseguições dos imperadores pagãos pareciam confirmar a vinda messiânica, posterior aos sofrimentos vividos.
Marcionismo
Foi estabelecida por Marcião de Sinope (110-160), filho de um bispo. Propagou-se na Ásia Menor e na antiga Roma, em comunidades que se multiplicaram e constituíram uma vasta rede na bacia do Mediterrâneo. Foi considerada herética e Marcião excomungado em 144.
De características gnósticas, tinha base no cristianismo ligado à tradição paulina. Simplificou as cerimônias dos primeiros cristãos, praticando uma moral severa, com interdição ao casamento, jejuns rigorosos, preparação para o martírio e fraternidade austera.
O seu corpo doutrinário partia da oposição entre Justiça e Amor, Lei e Evangelho. Rejeitava o Antigo Testamento como ultrapassado, anunciando um cristianismo autêntico baseado na contradição entre dois deuses:
O Deus da Lei, o Demiurgo, que seria o deus do Velho Testamento; e
O Deus do Amor, como revelado por Jesus Cristo.
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