Gotas de Tomismo I| Nosso Deus (São Tomás de Aquino)

by - setembro 25, 2019


Ponto I 

No silêncio, existe uma Palavra,
Ela ressoa em toda alma,
Vivifica e acalma,
Já escutaste o Santo Silêncio que fala?


“Nada pode existir sem que exista um Ser que exista per si. Se todos os seres necessitam de alguma coisa, logo nenhum pode existir per si. Dessa forma, a nossa própria existência é prova da existência de Deus.” (Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino)

“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo.” (Salmo 19,1-4)

A voz de Deus ressoa em nossos corações e reverbera em nossas ações. Nele vivemos e nos movemos, todo o Universo canta a sua glória e é manifestação da mesma glória.

Vivemos para nos deixarmos insuflar pelo amor de Deus e transformar pela sua Palavra, sopro suave e fundamental que tudo mantém e vivifica, tudo ordena e sustém.

Eclesiastes 3,11 nos diz que Deus: “… também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade”. Eis a razão que nos faz sentir que fomos feitos para algo maior e melhor.


Ponto II

Quão belo é o Senhor que me criou,
Aquele que adornou toda a terra e o céu,
É também o Pai que me formou.

Deus é espírito. Espírito, pois está completamente isento de matéria; assim, dizemos que Deus é o Ser por essência. Deus existe per si, é a origem de todos os seres, n’Ele se concentram todos os modos do ser, por isso dizemos que Ele é o Ser por essência. Essência é o que é o centro, o eixo.

O Ser é Perfeito, Bom, Infinito, Imutável e Eterno.

Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus. (Sl 90, 2)
É Perfeito, pois nada Lhe falta, e se é Perfeito, também é Bom.

Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam. (Sl 86, 5)

Sendo Perfeito, também é Infinito, nada o limita, sendo assim também é Onipresente.

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;
E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação;
Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. (Atos 17, 24-28)

Sendo Perfeito, é Imutável, pois só muda quem almeja algo de perfeito; no entanto, Deus é Perfeito.

Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. (Tg 1, 17)

Sendo Imutável, é também Eterno, pois Deus não está à mercê da mutabilidade gerada pela sucessão do tempo.

Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: “Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito” (Isaías 57,15).

O que faremos então para conhecer a um Ser assim? Podemos conhecê-lO pela razão, pelas obras das mãos humanas, sim, podemos, mas existe um caminho mais perfeito, que é conhecê-lO pelo que Ele mesmo revelou de Si; esse caminho é o caminho da fé. Crer através do véu do conhecimento limitado, sem ver por completo a plenitude da claridade Divina, crer.

É esse manto, constituído pela fé em cada momento, que constituirá a nossa bem-aventurança no Céu.

Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim, ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez (Eclesiastes 3,11).


Ponto III

A Presença de Deus é a Luz do mundo,
No Céu, o sol é a Presença de Deus,
Todos são banhados pela Luz do Criador do universo.
Não se comove em pensar em ver os olhos de Alguém tão amoroso e poderoso?
Pois esta é a razão da sua existência: eleva o olhar para o belo e o bom, até que um dia possa ver o Teu Senhor.

A Onipresença de Deus é conforto e segurança. Ele sabe o que se passa no mundo, nos corações e o que acontecerá. Ele é o grau supremo do imaterial, portanto, Inteligência Infinita. Todos e tudo dependem da Ciência Infinita de Deus. Essa Ciência se manifesta na sua Vontade, que é sempre boa, perfeita, agradável, caminho largo para quem o ama; embora seja estreito, segue-se em passos seguros e firmes. O Amado Deus está sempre presente!

“Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor” (Jeremias 23, 24)

Pois que nós, criaturas, somos obras do Amor Divino, tal amor produz o efeito de dar a cada criatura o bem que possui.

A Justiça Divina é uma das nossas maiores alegrias. Ele dá a cada um o que exige a sua natureza, dá o prêmio aos bons e o castigo aos maus. Tal merecimento pode ser vivido nesta vida, mas nunca totalmente, pois em plenitude somente no Céu ou no Inferno, conforme a escolha de cada um. Eis a Justiça Divina que faz nascer o sol aos bons e aos maus, confirmando os primeiros e esperando a conversão dos segundos até a hora derradeira da morte, pois além dela não há mais chances de escolha.

Deus também dá a cada um de nós mais do que exige a nossa natureza, dá aos justos mais do que seus merecimentos e castiga os pecadores menos do que mereciam. Essa é a manifestação da Santa Misericórdia Divina.

O poder do Senhor abarca Céus e Terra. Ao governo de Deus no mundo chamamos Providência; tal ação se estende por todas as coisas criadas, nada escapa à ação divina, não existe nada que não tenha sido previsto e premeditado desde toda a eternidade. Os seres inanimados e os atos livres dos homens se curvam a esse Maestro Celestial, pois que tudo só acontece se o Bom Deus ordena ou permite. A liberdade que Deus deu aos homens não é independência de Deus, pois Deus tudo abarca; n’Ele vivemos e nos movemos.

A Providência Divina fia planos, tece em meio à história as determinações do Coração Divino, e ao que se refere aos justos chama-se Predestinação, pois a cada ação da Graça, os que desejam e buscam ao Bom Deus respondem e, portanto, são os que caminham para gozar o Céu. Aos que, mesmo recebendo as tentativas de resgate divino, continuam a negar a Graça, chamam-se réprobos ou não eleitos, pois que negaram os chamados da eleição. A predestinação, a eleição, está sempre enlaçada ao livre-arbítrio.

Deus ama a todas as suas criaturas, mas os predestinados, os buscadores de Deus, são amados com amor de preferência e Deus os orienta, pois estabeleceram uma relação de fiel comprometimento amoroso.

Eis a Justiça Divina que, com olhar amoroso, busca aqueles que a buscam; eis o Amor Divino que é transbordante aos que estão verdadeiramente abertos. O Santo Amor Divino oferece a graça a todos, mas os homens, munidos de liberdade, podem aceitar ou não. Deus é amigo dos homens, veio até nós para resgatar os laços que nos unem a Ele; cabe a cada um aceitar verdadeiramente essa amizade ou recusá-la, sendo cada um responsável por sua escolha. Mas aceitar o oferecimento Divino de sua Graça nunca é mérito próprio, mas ação da Providência e seus decretos, que concede doses da virtude de fidelidade e retidão.

Tais decretos, a que chamamos predestinação, significam que o Bom Deus assinalou, a cada um, um lugar na glória e, pela graça, o porá em condições de possuí-la.

Eis o Deus das Maravilhas, Ele que tudo dispõe, nada deve a ninguém e concede a Graça como quer.

Devemos caminhar em espírito de humildade, pedindo a Deus que nos inscreva no livro dos eleitos e nos conceda as graças necessárias para alçar voo aos Altos Céus. Peçamos a Deus a graça de sermos bem-sucedidos nessa jornada, a única jornada que importa.

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