Carta aos Bispos do Mundo: Imodéstia nas modas contemporâneas
Carta da Sagrada Congregação do Concílio aos Bispos do mundo (A Reforma da Moral por ocasião do Ano Mariano)
Ninguém pode ser ignorante do fato que, especialmente durante a estação de Verão, aqui e ali se têm espetáculos que não podem senão ofender os olhos e almas dos que não consideram de importância secundária, ou que não menosprezam completamente, a virtude cristã e a decência humana. Não só nas praias e em locais de recreação no feriado, mas quase em todos os lugares, até mesmo nas ruas das cidades, nos lugares públicos e privados, e quase até mesmo dentro das igrejas, está sendo difundido um modo de vestuário indigno e inadequado. Para a alma da mocidade, tão inclinada ao mal, há o grande perigo de que este abuso entregue a sua inocência, o mais precioso e mais belo ornamento da alma e do corpo, ao sopro da morte.
Os adornos da mulher, se é que podem ser chamados “adornos” esses modos de vestuário, “se é que pode ser chamado de vestuário o que não protege nem o corpo nem a modéstia” [2], às vezes são tais que parecem encorajar a sensualidade em vez da modéstia.
Nós alcançamos o ponto onde tudo o que acontece na vida pública e na vida privada, se é depravado e indecente, é publicado descaradamente em jornais, revistas e periódicos de todo tipo. Nos cinemas, frequentados por toda a parte como eles são, estas coisas são exibidas ante os olhos de todos, de forma que não só a juventude fraca e irrefletida, mas até mesmo pessoas de idade madura, permanecem profundamente afetadas por esses espetáculos imorais, tão trágicos para os espíritos saudáveis. Não podem ser conhecidos quantos males derivam disso, nem a que perigos a moralidade de todos está exposta. Consequentemente é necessário, por um lado, lançar uma verdadeira luz sobre isso e exortar a todos à beleza da modéstia e, por outro lado, impedir e prevenir, tanto quanto possível, tudo que incite ao mal; e finalmente, é necessário, até mesmo com severidade, conduzir o mundo de volta ao caminho da virtude.
O maior dos oradores romanos, de fato, disse: “Frequentemente nós vemos homens que não podiam ser superados por nada, mas que cederam ante as tentações da impureza.” [3] Esse é obviamente um problema muito sério, que não só afeta a virtude cristã, mas a saúde também do corpo e o vigor do desenvolvimento da sociedade humana. Um antigo poeta poderia afirmar justamente: “A nudez do corpo praticada pelos homens é o começo da dissolução.” [4]
Portanto, pode ser visto facilmente que este problema não é de interesse somente da Igreja, mas também daqueles que governam, já que deveria ser seu desejo buscar remover o que pode debilitar e quebrar a força do corpo e o entusiasmo para a virtude.
“Vós acima de tudo, a quem o Espírito Santo deu poder como Bispos, para reger a Igreja de Deus” [5], vós, Bispos, tendes que considerar cuidadosamente este tipo de assunto, tomar sob vossos cuidados e promover com todo vosso poder toda iniciativa para proteger a modéstia e restabelecer a moralidade cristã.
“Nós somos templos de Deus, pela presença e ação do Espírito Santo em nós; e a guardiã, a sacerdotisa deste templo, é a modéstia, que não permite que nada impuro ou vulgar entre por medo que Deus, que mora dentro, o abandone, ofendido por esta habitação manchada pelo pecado.” [6]
Agora, como todos podem ver facilmente, o modo atual de vestuário entre mulheres e especialmente as moças, constitui uma ofensa séria contra a decência, e decência é “a companheira da modéstia, em cuja companhia a própria castidade está mais segura.” [7]
Então é completamente imperativo prevenir e exortar, do modo que pareça mais hábil, pessoas de todas as situações, mas particularmente a juventude, a ficar livre dos perigos desse tipo de vício que é, sem dúvida, diretamente oposto e potencialmente tão perigoso aos cristãos e à virtude cívica, deixando-os disponíveis para maiores perigos. “Quão bela é a modéstia e que pedra preciosa ela é entre as virtudes!” [8] Então, cuidemos para não pecar contra ela ou manchá-la, deixando-nos ser atraídos pelos vícios que surgem com a moda, ou por outros instrumentos de sedução que nós mencionamos acima e aos quais as pessoas decentes podem apenas lamentar.
Texto retirado da Carta da Sagrada Congregação do Concílio aos Bispos do mundo [1] de 15 de agosto de 1954. A reforma da moral por ocasião do Ano Mariano. Tradução não oficial de Andrea Patrícia e revisão de Mário César.
Notas:
[1] Papal Teaching, “The Woman in the Modern World“, St. Paul Editions (1958)
[2] Sêneca, De Bem, 7,9.
[3] Cícero, Tusc. 2,21.
[4] Ennius, Apud Cic. Tusc. 4,33.
[5] Atos, 20,28.
[6] Tertuliano, De Cultu fern., 2,1; P.L. 1,1316.
[7] Santo Ambrósio, De Off., 1,20; P.L. 16,48.
[8] São Bernardo, Serm. 86 in Cant.; M. L. 183.
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