Gotas de Tomismo VI: Origem Divina do homem

by - dezembro 09, 2019

Devocional 14| Do estado feliz em que foi criado o homem
“Adão e Eva no paraíso terrestre”, de Peter Wenzel (1745-1829), conservada nos Museus do Vaticano




Ponto I


Santas Mãos nos modelaram, 
Santas Mãos nos conduziram, 
Santas Mãos nos redimiram, 
As Santas Mãos do Senhor nos abençoam, 
Ah, como é bom o meu Senhor.


Os homens que existem e têm existido descendem dos mesmos pais, Adão e Eva, que foram criados por Deus.

Deus os criou dando-lhes corpo e alma. E as suas almas foram produzidas por Criação. Já os corpos, o próprio Deus nos diz que criou Adão do barro e de uma de suas costelas formou Eva.

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Tal afirmação quer dizer que a natureza e operações mais elevadas do homem lhe permitem entrever a natureza divina e a vida íntima da Augusta Trindade e imitam, de certo modo, a perfeição das Pessoas Divinas.

Dado que nossa alma é espiritual e suas operações mais perfeitas, entender e amar, concluímos que tais operações devem ter por objeto primeiro a Verdade e o Bem Supremo, que é o próprio Deus.

Assim, nos atos de entender e amar, visando o Sumo Bem, podemos ver uma semelhança da vida íntima da Trindade, pois o nosso espírito, ao pensar em Deus, concebe um “verbo interior”, algo que serve de “imagem visual de Deus” (já que Deus é Espírito, ao pensarmos na pessoa “Deus”, a mente concebe a imagem de Pai, ou de Mestre, ou de Rei, ou Juiz; Deus é uma e todas essas percepções, mas a mente humana e ainda o coração humano podem possuir mais facilidade com alguma ou algumas delas, gerando um “verbo interior”, uma expressão interior mais familiar de Deus; tal conhecimento é de suma importância, já que uma imagem equivocada de Deus ou a deturpação de um atributo verdadeiro em algo falso pode impedir o próximo passo da alma, que é amar).

Sob a influência do pensamento sobre o “verbo interior” brota o ato de amor, produzido no espírito do homem (assim, o pensar, o meditar, o conhecer antecede o amar).

Podemos ainda imitar a perfeição própria das Pessoas Divinas quando o primeiro e último fim de nossos pensamentos e afetos é o próprio Deus, já que o Pai fez tudo para o Filho, o Filho governa o mundo para entregá-lo ao Pai e o Espírito é o amor que os une. Quando também convergimos nossos pensamentos, afetos e, por fim, os atos para Deus, imitamos o agir das Pessoas Divinas e ainda entramos, de certa forma, pela ação do Espírito Santo, na vida íntima da Trindade.




“Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração.” (Salmos 37, 3-4)

“Pois a visão aguarda um tempo designado; ela fala do fim e não falhará. Ainda que demore, espere-a; porque ela certamente virá e não se atrasará.” (Habacuque 2, 3)

“E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos.” (Gálatas 6, 9)

“Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos.” (Efésios 2, 10)





Ponto II


Deus criou o homem perfeito.

Nesse primitivo estado de felicidade, o homem possuía os bens da:
  • Ciência: conhecimento claríssimo e universal da natureza e composição dos animais, plantas, etc.
  • Justiça: dar a Deus o que é devido, original unida à prática de todas as virtudes (esforço habitual e firme na prática do bem, com todas as forças sensíveis e espirituais).
  • Império absoluto da alma sobre o corpo.
  • Domínio sobre todas as criaturas.

O homem também não estava sujeito à morte, visto que a alma, por especial privilégio, protegia o corpo contra todo o mal e ela, por sua vez, de coisa alguma poderia receber dano, enquanto a vontade permanecesse submissa a Deus.

Pintura "Anjo da Presença Divina trazendo Eva a Adão", por William Black em The Metropolitan Museum of Art




O homem, portanto, foi criado em estado de verdadeira felicidade, mas não ainda a sua felicidade definitiva no Céu da Glória, em companhia dos anjos, para onde seria levado por Deus, depois de algum tempo de prova e contração de méritos no primitivo estado. A vivência de tal estado e a contração de méritos aconteceria num jardim de delícias chamado Paraíso Terrestre.





Quem de vocês quer amar a vida e deseja ver dias felizes? Guarde a sua língua do mal e os seus lábios da falsidade. Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança. Os olhos do Senhor voltam-se para os justos e os seus ouvidos estão atentos ao seu grito de socorro; o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal, para apagar da terra a memória deles. (Salmos 34, 12-16)

Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação! Com alegria vocês tirarão água das fontes da salvação. (Isaías 12, 2-3)

Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento. (Provérbios 3, 13)

Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso. (Jó 5, 17)

Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam. (Tiago 1, 12)


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino.

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