Carta de São Tiago| São Tomás de Aquino sobre o Espírito Santo: fé e obras
Introdução
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SÃO TIAGO
São Tiago, o Justo, morto em 62 d.C., também conhecido como Tiago de Jerusalém, Tiago Adelfo (de Tiago Adelphoteos) ou ainda Tiago, irmão do Senhor, foi uma importante figura nos primeiros anos do Cristianismo. A Enciclopédia Católica conclui que, baseado no relato de Hegésipo, Tiago, o Justo, é o mesmo que o apóstolo conhecido por Tiago Menor (irmão do apostolo Judas, não o Iscariotes), e, em linha com a maior parte dos interpretes católicos, é também Tiago, filho de Alfeu e o Tiago, filho de Maria de Cleofas (irmã de Maria, a Mãe do Senhor; segundo boa parte dos exegetas). Ele não deve ser confundido, porém, com o também apóstolo conhecido por Tiago Maior (irmão de São João Evangelista).
Após a Paixão, São Jerônimo (Confessor e Doutor da Igreja, 347-420 d.C, século III e inicio do IV) escreveu, que os apóstolos selecionaram Tiago como bispo de Jerusalém. Ao descrever seu modo de vida ascético em seu De Viris Illustribus (Homens Ilustres) cita o relato de Hegésipo (cronista católico do século I) sobre Tiago a partir do quinto livro da obra "Comentários" , hoje perdida: “Após os apóstolos, Tiago, irmão do Senhor, chamado o Justo, foi feito líder da igreja de Jerusalém. Muitos de fato são chamados de Tiago. Este era sagrado desde o útero de sua mãe. Ele não bebia vinho ou bebida alcoólica, não comia carne e nunca se barbeava ou se ungia com cremes ou se banhava. Ele apenas teve o privilégio de entrar no Santo dos Santos, pois ele de fato não vestia roupas de algodão, apenas de linho, e entrou sozinho no templo e orou tanto por seu povo que seus joelhos têm a fama de terem adquirido a aspereza dos de um camelo.” — De Viris Illustribus, Jerónimo, citando Hegésipo
Como era ilegal para qualquer um exceto o sumo-sacerdote do templo adentrar o Santo dos Santos e, mesmo assim, uma vez por ano durante o Yom Kippur (Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do judaísmo), a citação de Hegésipo por Jerônimo indica que Tiago era considerado um sumo-sacerdote. A obra "Reconhecimentos", de Pseudo- Clemente (Papa Clemente, século I), também sugere assim.
Sobre o martírio:
De acordo com Hegésipo, os escribas e os fariseus foram até Tiago em busca de ajuda para liminar as crenças cristãs. O relato diz:
“Eles vieram, portanto, em grupo até Tiago e disseram: "Nós te suplicamos, contenha o povo: pois eles se desviaram em suas opiniões sobre Jesus, como se ele fosse o Cristo. Nós te suplicamos, convença todos que vieram aqui para o dia da Páscoa, sobre Jesus. Pois nós todos ouvimos sua persuasão; pois nós também, assim como todo o povo, somos testemunhas que tu és justo e não mostras preferência por ninguém. Convence portanto o povo a não entreter opiniões errôneas sobre Jesus: pois todo o povo, e nós também, ouvimos a sua persuasão. Tome uma posição firme, então, no alto do templo, de modo que possas ser visto claramente por todos, e tuas palavras possam ser claramente ouvidas por todos. Pois, para comemorar a Páscoa, todas as tribos vieram para cá e também alguns gentios.
Para desgosto dos escribas e os fariseus, Tiago corajosamente testemunhou que Cristo "sentava-se no céu do lado direito Grande Poder e retornará nas nuvens celestiais".
Então eles confabularam entre si "Erramos ao procurar seu testemunho sobre Jesus. Vamos então subir e jogá-lo de lá, para que eles tenham medo e não acreditem nele.”
...lançaram abaixo o homem justo... [e] começaram a apedrejá-lo, uma vez que ele não morrera na queda; mas ele virou e se ajoelhou e disse: "Eu imploro-te, Senhor Deus nosso Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem." E, enquanto eles estavam apedrejando-o até a morte, um dos sacerdotes, dos filhos de Recab, o filho de Rechabim, de quem testemunhou Jeremias, o profeta, começou a gritar, dizendo: "Parem, o que estão fazendo?
O homem justo está rezando por nós.". Mas um dentre eles, um dos tintureiros, tomou seu cajado com o qual ele estava acostumado a manipular as vestes que tingia, e atirou na cabeça do homem justo.E assim ele sofreu o martírio; e eles o enterraram ali mesmo, e o pilar que foi erguido em sua memória ainda está lá, perto do templo. Este homem foi uma testemunha verdadeira tanto para os judeus quanto gregos de que Jesus é Cristo."
— Fragmentos dos "Atos da Igreja" sobre o Martírio de Tiago, o irmão do Senhor.
O QUE É UM CONFESSOR?
Confessor ou Confessor da Fé é um título masculino concedido pela Igreja Católica e Igreja Ortodoxa a santos e beatos que não foram martirizados.
Historicamente, o título de confessor foi concedido a todos aqueles que sofreram perseguição e tortura pela fé, mas não ao ponto do martírio. Muitas vezes é usado para definir qualquer santo, bem como aqueles que tenham sido declarados abençoados, que não podem ser categorizadas como mártir, apóstolo, evangelista, ou virgem.
Como o cristianismo emergiu como a religião dominante na Europa após o quinto século, as perseguições tornaram-se raras, e o título foi dado a homens santos que viveram uma vida sagrada, mas sofreram algum tipo de atentado, não propriamente por serem cristãos, como São Luís de Montfort, que sobreviveu a um envenenamento por outros sacerdotes por inveja de suas pregações.
Talvez o exemplo mais conhecido seja o do rei inglês São Eduardo, o Confessor (foi o penúltimo Rei saxão de Inglaterra, entre 1042 e 1066. Era filho de Etelredo II e de Ema da Normandia. Foi canonizado pelo papa Alexandre III, em 1161.).
É possível que confessores tenham outros títulos, como, por exemplo, Papa e confessor, confessor e doutor da Igreja, entre outros.
O QUE É UM DOUTOR DA IGREJA?
Os Doutores da Igreja são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja.
Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem. Padres da Igreja são aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulação das verdades da fé (SS. Trindade, Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório
Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente.
Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se antiguidade (até os séculos VII/VIII), ao passo que isto não ocorre com um Doutor.Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio. Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que
para um Doutor se exige um saber de grande vulto.
EM SUMA
Doutor da Igreja é aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzeno e S. João Crisóstomo).
Portanto, o parecer de um Doutor da Igreja é maior do que achismos, independente do assunto em estudo ou discussão.
SÃO TOMÁS DE AQUINO
Conta-se que, quando criança, com cinco anos, Tomás, ao ouvir os monges cantando louvores a Deus, cheio de admiração perguntou: “Quem é Deus?”.A vida de santidade de Santo Tomás foi caracterizada pelo esforço em responder, inspiradamente para si, para os gentios e a todos sobre os Mistérios de Deus.
Nasceu em 1225 numa nobre família, a qual lhe proporcionou ótima formação, porém, visando a honra e a riqueza do inteligente jovem, e não a Ordem Dominicana, que pobre e mendicante atraia o coração de Aquino.Diante da oposição familiar, principalmente da mãe condessa, Tomás chegou a viajar às escondidas para Roma com dezenove anos, para um mosteiro dominicano. No entanto, ao ser enviado a Paris, foi preso pelos irmãos servidores do Império. Levado ao lar paterno, ficou, ordenado pela mãe, um tempo detido. Tudo isto com a finalidade de fazê-lo desistir da vocação, mas
nada adiantou.
Pregador oficial, professor e consultor da Ordem, Santo Tomás escreveu, dentre tantas obras, a Suma Teológica e a Suma contra os gentios. Chamado “Doutor Angélico”, Tomás faleceu em 1274, deixando para a Igreja o testemunho e, praticamente, a síntese do pensamento católico.
Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!
COMENTÁRIOS
Como foi dito, o Verbo de Deus é o Filho de Deus, como o verbo (mental) do homem é concebido pela inteligência. Mas algumas vezes o verbo (mental) do homem fica como morto, quando alguém pensa em realizar alguma coisa, mas a vontade de executa-la não se manifesta.
Assim também quando alguém crê e não faz as obras, a sua fé pode ser chamada de morta, conforme se lê na carta de São Tiago: “Como o corpo sem alma é morto, a fé sem as obras é morta” (Tiag. 2, 26). A carta aos Hebreus afirma que o Verbo de Deus é vivo, lendo-se nela: “é viva a palavra de Deus” (Heb. 4, 12).
Por essa razão é necessário que haja em Deus vontade e amor. Escreve Santo Agostinho no seu livro De Trinitate: “O verbo sobre o qual pretendemos dar uma noção é um conhecimento com amor”. Como o Verbo de Deus é o Filho de Deus, assim também o amor de Deus é o Espírito Santo.
Por isso, quando o homem ama a Deus, possui o Espírito Santo. São Paulo escreve: “A caridade de Deus foi difundida em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5, 5).
Muitos frutos provêm para nós do Espírito Santo.
Primeiro, porque Ele nos purifica do pecado. Ora, compete a quem criou uma coisa, refaze- la. A nossa alma foi criada pelo Espírito Santo, porque Deus fez todas as coisas por meio d’Ele, pois é amando a sua própria bondade que Deus faz tudo.
Lê-se: “Amais todas as coisas que existem e nada odiastes do que fizestes” (Sb 11, 25). Lê-se também no livro “Sobre os homens Divinos”, do Pseudo Dionísio: “O divino amor não se
podia permitir ficar sem geração” (Cap. IV). Convém pois que os corações dos homens destruídos pelo pecado fossem refeitos pelo Espírito Santo.
Lê-se: “Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra” (Sl. 103, 30). Nem é motivo de admiração que o Espírito Santo purifique, porque todos os pecados são perdoados pelo amor, conforme se lê nas Escrituras: “Foram-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou” (Is. 7, 47); “A caridade cobre todos os delitos” (Pr 10, 12); “A caridade cobre uma multidão de pecados” (1 Pd 4, 8).
Segundo, porque ilumina a inteligência, já que tudo que sabemos, o sabemos pelo Espírito Santo. Confirmaram-no os seguintes textos da Escritura: “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas sugerir-vos-á tudo o que vos disse” (Jo 24 ,26); “A sua unção ensinar-vos-á tudo” (1 Jo 2, 27).
Terceiro, porque o Espírito Santo nos ensina a observar os mandamentos, e, até de certo modo, no-lo obriga.
Ninguém pode seguir os mandamentos de Deus, se não amar a Deus, pois: “Se alguém me amar, observará os meus mandamentos” (Jo 24, 23). Ora, o Espírito Santo nos faz amar a Deus, e nos auxilia nesse sentido. Lê-se no Profeta Ezequiel: “Dar-vos-ei um novo coração, e colocarei no meio de vós um novo espírito; tirarei o coração de pedra da vossa carne; dar-vos-ei um coração de carne, e colocarei o meu espírito no meio de vós; e farei que guardeis os meus mandamentos e os pratiqueis” (Ez 36, 26).
Quarto, por que Ele confirmará em nós a sua esperança da Vida Eterna, já que o Espírito Santo é o penhor da sua herança, conforme estas palavras do Apóstolo aos Efésios: “Fostes assinalados com o Espírito da promessa, que é o penhor da nossa herança” (Ef 1, 14). Ele é, com efeito, a garantia da Vida Eterna.
A razão disto está em que a Vida Eterna é devida ao homem, enquanto este é filho de Deus, e o é feito, enquanto se assemelha a Cristo. Assemelha-se alguém a Cristo pelo fato de possuir o Espírito de Cristo, que é o Espírito Santo. Lê-se na carta aos Romanos: “Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o Espírito de adoção dos filhos, no qual chamamos Abba, Pai. O próprio Espírito certifica ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16). Lê-se também em outra carta do Apóstolo: “Porque sois filhos de Deus, enviou Deus o espírito do seu Filho nos nossos corações, chamando — Abba, Pai”. (Gl 4, 46).
Quinto, porque o Espírito Santo nos aconselha em nossas dúvidas e nos ensina qual seja a vontade de Deus. Lê-se: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 7); “Escutá-lo-ei como um Mestre” (Is 50, 4).
Trechos dos "Comentários" retirados da Suma Teológica
Creio no Espírito Santo
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