Gotas de Tomismo VII: O governo do mundo
Ponto I
Deus é Soberano e Senhor de todas as coisas, pois todos os seres do mundo estão sujeitos ao governo e domínio supremo, único e absoluto de Deus. Assim, coisa alguma existe no mundo espiritual, material e humano, independente da ação divina, a qual conserva a existência de todos os seres e os conduz ao fim para o qual foram criados, que é Deus mesmo e a sua própria glória.
Deus rege e conserva o universo para que, na ordem e concerto do mundo, se possa refletir e manifestar o pensamento Daquele que o criou, o conserva e o governa. Assim, o concerto e a ordem admiráveis do universo expressam a glória de Deus.
No plano atual da Providência, não existe nada mais perfeito e grandioso que a obra da Criação, a conservação e o governo do universo. Isso considerando um fato ainda mais sublime: dizemos plano atual da Providência, pois Deus é onipotente, assim nem o conjunto das obras mais perfeitas pode exaurir o seu poder infinito.
Ponto II
Deus governa o universo conservando-o no ser e conduzindo-o ao fim para o qual foi criado. É o próprio Deus que conserva a existência dos seres. Assim, a conservação do universo, assim como a Criação, são obras próprias e exclusivas de Deus.
Deus poderia aniquilar o mundo, se assim quisesse; bastaria que suspendesse por um instante a ação que dá, a cada momento, a virtude do ser. Logo, a existência das coisas se mantém debaixo da ação direta, absoluta e constante de Deus.
O fim da Criação é a glória de Deus, e a glória exige não a destruição, mas a conservação do criado.
As criaturas, por sua vez, apresentam transformações, mais ou menos profundas, conforme a espécie, e dentro da mesma espécie, conforme os diversos estados. Algumas transformações ocorrem por ação direta de Deus. Tais ações, quando fogem da explicação humana, são chamadas de milagres. Deus fez e faz milagres por sua bondade, para que os homens vejam a sua grandeza, para fazê-los ver que intervém no mundo e para a sua glória e bem dos homens.
Não há absolutamente ninguém comparável a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é o poder do teu nome. (Jeremias 10, 6)
“Ah! Soberano Senhor, tu fizeste os céus e a terra pelo teu grande poder e por teu braço estendido. Nada é difícil demais para ti.” (Jeremias 32, 17)
Ponto II
As criaturas podem exercer um influxo umas nas outras para efetuar mudanças e alterações que se observam no mundo. Neste mútuo influxo se funda a ordem do universo, que, por sua vez, é regulada pelas leis da Providência. A Providência é o meio ou o instrumento que Deus utiliza para induzir as criaturas ao fim que Ele preparou. Deus poderia não utilizar tal recurso, mas tal procedimento possibilita a Sua maior Glória e ainda enobrece e torna mais perfeita a criatura que toma parte com Ele na execução de Seus Planos, que é guiar os seres ao seu fim último (o Sumo Bem). Digo que possibilita a maior glória de Deus, pois é sinal de grandeza e poderio soberano possuir uma legião de ministros submissos e prontos a executar Suas Santas Ordens.
Assim, quando as criaturas exercem o mútuo influxo, estão a cumprir as Ordens absolutas de Deus, pois é impossível que qualquer criatura execute atos não previstos, nem ordenados no plano da Providência Divina.
Também não é possível que a atuação de uma criatura, sendo instrumento de Deus, perturbe ou contrarie o Plano Divino, pois quaisquer que sejam os seus atos, ordenados estão por Deus, para o bem do universo.
No entanto, os atos desordenados podem ocasionar males físicos e morais, ou seja, podem ocasionar um mal particular. Pois podem alterar a ordem de um grupo em particular ou impedir a manifestação secundária do poder e da vontade de Deus. Portanto, não geram um impedimento do Plano Divino em seu nível macro, considerando o plano em conjunto, mas geram um mal num nível particular, inferior.
Isso acontece devido ao soberano poder de Deus, que é de tal forma grandioso que se utiliza do mal particular, subordinando-o a um fim mais elevado para que contribua para o bem universal.
Isso não significa que não há ação das criaturas que não estejam dispostas maravilhosamente a cooperar para o bem do universo; antes, se algo aparece prejudicial e deslocado, num plano inferior, tem razão de ser visto como ruim, prejudicial e desordenado, mesmo considerando um plano de vista mais alto, ou seja, mesmo considerando que tais atos inferiores não interferem nos Planos Divinos numa visão em conjunto, mas geram, como vimos, males particulares.
Compreenderemos, no entanto, a maravilhosa grandeza de Deus somente no Céu, pois o nosso entendimento não abarca os corações de todas as criaturas e os segredos do Coração Divino.
Baseado na Suma Teológica de São Tomás em forma de Catecismo
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