O homem só pode dispor-se para alcançar, como recompensa, a visão beatifica, unicamente por meio de seus atos. As ações que merecem tal recompensa são as ações virtuosas.
As ações virtuosas são aquelas que a vontade humana executa, em conformidade com a vontade divina e sob o impulso da graça. Deve ser voluntário e para isso, há de ser espontâneo e feito sob conhecimento de causa.
Uma ação espontânea é aquela que a vontade executa por impulso próprio e isenta de violência e coação.
O homem pode ser obrigado a executar atos contra a sua vontade por dois modos: por violência e por medo. Entendemos por violência, toda força externa que impede o exercício voluntário dos membros ou os obriga a executar atos que a vontade recusa. O medo, por sua vez, é um movimento interior que, em determinadas circunstâncias, e para evitar males que se consideram iminentes, arrasta a vontade a consentir no que, em outras circunstâncias, não consentiria.
Portanto os atos que são resultado de violência exterior são involuntários. Dizemos violência exterior, pois que também se chama violência o movimento interior da ira.
No entanto, embora a ira e as paixões sejam violências causadas por movimentos interiores, são atos voluntários, ao menos que seja tão violenta que impeça o exercício da razão.
Os atos praticados por medo também são voluntários, ainda que a eles se junte algo de involuntário, pois não podemos negar de todo o consentimento da vontade, ainda que o faça com pesar e para evitar males maiores.
O ato voluntário deve, no entanto, ser feito com conhecimento do fim, pois se o individuo se engana no que há de fazer, o ato é involuntário, mas só é involuntário se o individuo conhecendo o erro, não o executaria.
Apesar do que fica dito, um ato ou omissão podem ser voluntários se o sujeito é culpado pela ignorância ou pelo erro, chama-se a isso negligência culpável; que se dá quando o sujeito se recusa ou é negligente em aprender suas obrigações.
Para apreciarmos a moralidade dos atos voluntários é preciso se atentar as: circunstâncias da pessoa, objeto, consequências, lugar, intenção, meios e tempo.
Circunstâncias da Pessoa: ao caráter ou condição da pessoa,
Objeto e Consequências: a realidade do ato, seus efeitos e consequências,
Lugar: lugar da ação,
Intenção: ao fim ou objetivo que se propõe o operante,
Meios: aos meios e auxílios que utiliza,
Tempo: ao tempo em que a executa.
A mais importante é a quarta, ou seja, o fim ou objetivo do operante.
Todos os atos voluntários procedem da vontade e o valor dos atos humanos e sua virtude tem raízes exclusivamente na faculdade da vontade.
Dentre os atos da faculdade da vontade o mais importante e o que carrega maior responsabilidade é o ato de escolher ou o ato de eleição. Pois mediante a eleição, a vontade, com conhecimento de causa e prévia análise, adere a um bem determinado que desde logo aceita e ao qual trata de apropria-se, dando a ele preferência. Assim a eleição é um ato de livre arbítrio. Logo os atos humanos tem seu caráter moral e valor - para alcançar as bem aventuranças - determinados pelo ato eleger.
O ato de eleição de dividi em: boa e má.
Diremos que é boa quando são bons o objeto (a realidade do ato, seus efeitos e consequências), o fim (objetivo que se propõe o operante), e as circunstancias (o caráter da pessoa). A bondade do ato provêm da reta razão.
A reta razão é a razão humana que opera esclarecida com a luz divina, ou, ao menos, não lhe opõem obstáculos.
Assim para que um ato seja bom, virtuoso, é necessário que o objetivo seja conforme a reta razão, que esta lhe aprove o fim e não oponha reparo às circunstâncias (caráter da pessoa). E ainda, se falta alguma das ditas condições, o ato deixa de ser bom e se converte, ainda que em graus distintos, em ato mau.
Os atos maus chamam-se culpas ou pecados.
Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás
“Deve-se dizer que o caráter distingue uma pessoa de outra levando em consideração a finalidade a que está orientado” (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, q.63, a. 3).
“O caráter é propriamente um sinete com que alguém é marcado para que se oriente a determinado fim: assim o denário é marcado com um caráter para ser usado no comércio, e os soldados são marcados com um caráter por serem incumbidos do serviço militar” (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, q.56, a.3.).