Devocional 34| Da Graça e Do Mérito (São Tomás de Aquino)
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Não é suficiente, no entanto, a tutela da lei para praticar a virtude e livrar-se do pecado, é preciso ainda o auxílio da Graça.
A Graça é um auxílio especial que Deus concede ao homem para ajudá-lo a praticar o bem e a fugir do mal. O homem necessita deste auxílio em todas as ocasiões.
O homem, entretanto, pode com suas próprias forças, usando de suas faculdades operativas e com auxílios da ordem natural, fazer atos de virtude e evitar o pecado; no entanto, se Deus não vem em seu auxílio, remediando os estragos causados na natureza pela pecado, não poderá praticar todas as virtudes nem evitar todos os pecados. Isso no que se refere à virtudes e pecados na ordem natural, pois se considerarmos a ordem sobrenatural nada pode o homem fazer sem o auxílio da Graça.
O homem pode participar da ordem sobrenatural de duas maneiras: uma habitual e permanente e outra na forma de moções sobrenaturais transitórias.
Entendemos por estado habitual de Graça o conjunto de qualidades que Deus produz e conserva na alma com o fim de divinizar sua essência e suas faculdades.
A qualidade permanente que diviniza a essência da alma chama-se graça habitual ou santificante. As virtudes e os dons estão vinculados a graça santificante e dela se derivam de maneira que é impossível que exista graça na alma sem que os dons e as virtudes adornem suas faculdades.
As virtudes e os dons são de grande valia e estima pois conferem ao homem a dignidade de filho de Deus e lhe proporcionam meios para comportar-se como filho de tal Pai.
Assim a graça, juntamente com as virtudes e os dons, fazem do homem o mais perfeito da criação na ordem natural, fazem-no superior aos anjos. Não existe, portanto, nada mais digno de ser ambicionado neste mundo do que a posse, conservação e progresso da graça divina. Podemos alcançá-la, conservá-la e fazer nela progresso se correspondermos fielmente às inspirações do Espírito Santo, que nos convida a preparar-nos para recebê-la, se ainda a não possuímos e a aumentá-la incessantemente, se já temos a dita de possuí-la.
Já as moções ou inspiração do Espírito Santo chamamos graça atual. A graça atual que nos coloca em disponibilidade para recebermos a graça santificante e para aumentá-la, uma vez adquirida. Entretanto, a graça atual não pode produzir o seu efeito a contragosto nosso ou sem nossa cooperação. Assim é necessário a cooperação de nosso livre arbítrio, essa cooperação chama-se correspondência à graça.
Quando já possuímos a graça santificante a qualidade de nosso livre arbítrio em cooperação com a graça atual adquiri a qualidade de ato meritório.
Existes duas classe de mérito: uma chamada de côngruo e outra de condigno.
O mérito de condigno é o que dá direito estrito e de justiça à recompensa. Um ato humano assume esta qualidade quando se executa debaixo do influxo da graça atual; que proceda da graça santificante por meio da caridade (amor a Deus e ao próximo); que se ordene para a consecução da própria felicidade eterna, ou para adquirir maior grau de graça e virtudes. Esta classe de mérito é intransferível, assim não podemos alcança-lo para outra pessoa, somente Jesus Cristo pôde merecer de condigno para os demais, como chefe e cabeça da Igreja.
O mérito de côngruo funda-se em que Deus, em atenção à intimidade que o une com os justos, recompensa em conformidade com as leias da amizade e não da justiça os empenhos de seus amigos por lhe agradar, fazendo-lhes mercê do que pedem e desejam.
Logo, as únicas fontes de mérito, para o homem, reduzem-se à amizade com Deus e à vida da graça e prática das virtudes sob a inspiração divina do Espírito Santo; fora dessa circunstância é inútil todo o trabalho e fadiga, pois não são de proveito para a vida eterna.
Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino
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