Confiança Obstinada: uma "santa insistência" em estar com Jesus
Pintura: Johann Georg Meyer von Bremen |
Os Graus da Conformidade com a Vontade de Deus
São três os graus da conformidade com a vontade de Deus. No primeiro grau, a alma sofre com paciência; mas preferiria não sofrer. Não é isento de queixa, embora acompanhada sempre do estribilho: Não pode ser!… Paciência! Deus assim quis! Seja feita a Vontade de Deus! Já é agradável a Nosso Senhor a alma assim resignada, mas ela se acha ainda na via do temor e da imperfeição. No segundo grau, o sofrimento é acolhido como um hóspede do Céu, sendo reconhecido o seu valor e as vantagens que traz para o nosso adiantamento. Mas há ainda alguma queixa. A natureza não pode ainda dominar-se inteiramente. Entretanto, a alma se conserva em paz e bendiz a Mão Divina que a fere. Já se apresenta mais perfeita. No terceiro grau é alcançado o ideal da perfeição, que consiste na santidade. Procura-se, ama-se o sofrimento. A alma se alegra porque sofre e pode dizer, como Santa Teresa: Sofro, porque não sofro. O anjo do Carmelo de Lisieux escrevia à sua irmã:
“Tenho necessidade de esquecer a terra. Aqui tudo me aborrece e só encontro uma alegria, a de sofrer, e essa alegria ultrapassa a toda alegria” (Cartas de Santa Teresinha do Menino Jesus à Celina)
É o ideal da perfeição. Os principiantes têm a resignação que vem do temor; os adiantados, a conformidade que vem da esperança; os perfeitos, o amor à cruz, que abraçam com ardor. Ah! Sejamos generosos e abracemos a cruz na perfeição do amor.
Confiança Obstinada
Podem-se pôr limites ao que é infinito? Pois não é infinita a misericórdia Divina, não é um Oceano Infinito de Misericórdia? Se o Senhor é infinitamente justo, é também infinitamente Misericordioso. E, neste mundo, vivemos no tempo da Misericórdia. Abri o Evangelho. Tudo ali vos inspira confiança e enche o coração. Por que duvidar, se empenhamos da nossa parte todos os nossos esforços, porque desconfiar de um Pai tão bom e poderoso? Nosso Senhor é o Pai do filho pródigo, e o Bom Pastor. Por que nos deixou Ele, no Evangelho, parábolas tão belas, tão comovedoras? Não foi para a manifestação da Sua bondade infinita? Ah! Não compreendo as almas que têm medo de Deus! Como é doloroso e triste ao coração de um pai estender ao filho os braços cheios de ternura e se ver repelido! É preciso que confiemos. A medida da confiança é confiar sem medida. A confiança, somente ela nos leva ao Amor! O temor leva à justiça severa, tal como a representam os pecadores.
Mas não é essa justiça que Jesus terá para com os que O amam – escreve Santa Teresinha à irmã – nossa confiança é combatida obstinadamente pelo Inferno, porque ela é a vida, a salvação. À obstinação de Satã, oporemos a obstinação de nossa confiança. E seremos salvos!
Um brado de confiança!
O seráfico doutor São Boaventura é incomparável quando fala do Amor Divino e de Nossa Senhora. É dele este brado de confiança. O pecador miserável e pobre jamais poderá desesperar da salvação, se, penetrado de sentimentos de confiança, repetir, cheio de confiança e amor, o que diz o santo:
“Ainda que o Senhor me tivesse condenado, eu teria a certeza de que não recusaria a salvação a quem O ama e busca de coração. Eu O estreitaria em meus braços, cheio de amor, e enquanto não me abençoasse, não O deixaria. Se se retirasse, teria de levar-me consigo. Se outra coisa não pudesse fazer, esconder-me-ia nas suas Chagas e, nesse Asilo Sagrado, Ele não se há de separar de mim. Enfim, se o meu Redentor, por causa de meus pecados, atirasse-me longe de Si, lançar-me-ia aos pés de Sua Mãe e, prostrado, não me levantaria enquanto Ela não me obtivesse o perdão. Pois essa Mãe de Misericórdia não pode ser insensível às misérias de seus filhos, nem recusará atender aos infelizes que a Ela recorrem. E, se não por obrigação, ao menos por compaixão, Ela não deixaria de fazer violência ao Coração de Jesus para que me perdoe”
Que brado de confiança! É a linguagem autorizada de um teólogo e doutor da Igreja. Assim se exprimem São Pedro Damião, Santo Anselmo e, mil vezes, Santo Afonso, o apóstolo da confiança em Maria! Ó Maria, perpétuo socorro de minha perpétua miséria, tenho confiança em Vós!
Nunca – dizia Santa Teresinha – nunca é demais a confiança no bom Deus, tão poderoso e tão misericordioso! Que belas consoladoras palavras da incomparável missionária da confiança! Sim, a confiança na Misericórdia Divina nunca é demais. Pode-se limitar o que não tem limites, o que é infinito? Para nos incutir confiança, Nosso Senhor se fez menino, em Belém, nosso irmão, nosso amigo. Pregou na Judeia, comparando-se ao bom pastor e ao bom samaritano acariciando as criancinhas, comendo e bebendo com os pecadores. Deixou-se ficar reduzido, aniquilado, sob as espécies Eucarísticas, no Cenáculo, e morreu, pregado a uma cruz, perdoando e amando. E, depois disso, encontram-se ainda almas desesperadas da sua salvação!… Não se compreende como se possa ter medo de um Pai tão misericordioso e terno! Essa desconfiança fere e ofende tanto o coração de Jesus!
“Ó Jesus – escreve Santa Teresinha – deixai-me dizer que vosso amor vai até a loucura. Como queres que meu coração não se atire para Vós? Como poderá ter limites a minha confiança?” (História de uma alma, cap. XI)
Por que temer? A um missionário, seu irmão espiritual, escrevia a santinha:
“Desde que me foi dado compreender o amor do Coração de Jesus, confesso que expulsei todo temor de meu coração! A lembrança de minhas faltas me humilha e me leva a, não me apoiar em minha força, que é fraqueza; porém, mais do que isso, ela me fala, da misericórdia e do amor. Pois as faltas, quando lançadas com confiança no braseiro devorante do Amor, não serão sem demora consumidas?”(5 me. lettre à des Missionaires)
Almas tímidas e desconfiadas, se com sinceridade vos quereis dar à emenda de vossa vida, bani de vossos corações todo esse medo de Deus, que vos acabrunha, e abri as asas da confiança. Voai sem receio na amplidão infinita do céu do Amor! Amor e confiança! E nada mais vos será necessário!
(Brandão, Ascânio. Breviário da Confiança: Pensamentos para cada dia do ano. Oficinas Gráficas “Ave-Maria”, 1936, p. 16; p. 97, p. 163, p. 267 ). Disponível em: Rumo à santidade
Se O amamos e buscamos viver bem, sem ofender O Senhor e obedecendo-O, se sabemos que Ele nos ama, com amor infinito, busquemos não desconfiar dEle.
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