Confiança Obstinada: uma "santa insistência" em estar com Jesus

by - outubro 13, 2020

Pintura: Johann Georg Meyer von Bremen






Este conteúdo é um material de apoio do Clube de Leitura Conjunta, saiba mais aqui


Pe. Ascânio Brandão foi pároco, em meados do século XX, da paróquia de São Dimas, em São José dos Campos (São Paulo).


Os Graus da Conformidade com a Vontade de Deus


São três os graus da conformidade com a vontade de Deus. No primeiro grau, a alma sofre com paciência; mas preferiria não sofrer. Não é isento de queixa, embora acompanhada sempre do estribilho: Não pode ser!… Paciência! Deus assim quis! Seja feita a Vontade de Deus! Já é agradável a Nosso Senhor a alma assim resignada, mas ela se acha ainda na via do temor e da imperfeição. No segundo grau, o sofrimento é acolhido como um hóspede do Céu, sendo reconhecido o seu valor e as vantagens que traz para o nosso adiantamento. Mas há ainda alguma queixa. A natureza não pode ainda dominar-se inteiramente. Entretanto, a alma se conserva em paz e bendiz a Mão Divina que a fere. Já se apresenta mais perfeita. No terceiro grau é alcançado o ideal da perfeição, que consiste na santidade. Procura-se, ama-se o sofrimento. A alma se alegra porque sofre e pode dizer, como Santa Teresa: Sofro, porque não sofro. O anjo do Carmelo de Lisieux escrevia à sua irmã:



“Tenho necessidade de esquecer a terra. Aqui tudo me aborrece e só encontro uma alegria, a de sofrer, e essa alegria ultrapassa a toda alegria” (Cartas de Santa Teresinha do Menino Jesus à Celina)



É o ideal da perfeição. Os principiantes têm a resignação que vem do temor; os adiantados, a conformidade que vem da esperança; os perfeitos, o amor à cruz, que abraçam com ardor. Ah! Sejamos generosos e abracemos a cruz na perfeição do amor.



Confiança Obstinada


Podem-se pôr limites ao que é infinito? Pois não é infinita a misericórdia Divina, não é um Oceano Infinito de Misericórdia? Se o Senhor é infinitamente justo, é também infinitamente Misericordioso. E, neste mundo, vivemos no tempo da Misericórdia. Abri o Evangelho. Tudo ali vos inspira confiança e enche o coração. Por que duvidar, se empenhamos da nossa parte todos os nossos esforços, porque desconfiar de um Pai tão bom e poderoso? Nosso Senhor é o Pai do filho pródigo, e o Bom Pastor. Por que nos deixou Ele, no Evangelho, parábolas tão belas, tão comovedoras? Não foi para a manifestação da Sua bondade infinita? Ah! Não compreendo as almas que têm medo de Deus! Como é doloroso e triste ao coração de um pai estender ao filho os braços cheios de ternura e se ver repelido! É preciso que confiemos. A medida da confiança é confiar sem medida. A confiança, somente ela nos leva ao Amor! O temor leva à justiça severa, tal como a representam os pecadores.


Mas não é essa justiça que Jesus terá para com os que O amam – escreve Santa Teresinha à irmã – nossa confiança é combatida obstinadamente pelo Inferno, porque ela é a vida, a salvação. À obstinação de Satã, oporemos a obstinação de nossa confiança. E seremos salvos!


Meu Jesus, ajudai-me a vencer-me, e dai-me esta confiança obstinada que arrebatava o vosso Coração!



Um brado de confiança!


O seráfico doutor São Boaventura é incomparável quando fala do Amor Divino e de Nossa Senhora. É dele este brado de confiança. O pecador miserável e pobre jamais poderá desesperar da salvação, se, penetrado de sentimentos de confiança, repetir, cheio de confiança e amor, o que diz o santo:



“Ainda que o Senhor me tivesse condenado, eu teria a certeza de que não recusaria a salvação a quem O ama e busca de coração. Eu O estreitaria em meus braços, cheio de amor, e enquanto não me abençoasse, não O deixaria. Se se retirasse, teria de levar-me consigo. Se outra coisa não pudesse fazer, esconder-me-ia nas suas Chagas e, nesse Asilo Sagrado, Ele não se há de separar de mim. Enfim, se o meu Redentor, por causa de meus pecados, atirasse-me longe de Si, lançar-me-ia aos pés de Sua Mãe e, prostrado, não me levantaria enquanto Ela não me obtivesse o perdão. Pois essa Mãe de Misericórdia não pode ser insensível às misérias de seus filhos, nem recusará atender aos infelizes que a Ela recorrem. E, se não por obrigação, ao menos por compaixão, Ela não deixaria de fazer violência ao Coração de Jesus para que me perdoe”

Que brado de confiança! É a linguagem autorizada de um teólogo e doutor da Igreja. Assim se exprimem São Pedro Damião, Santo Anselmo e, mil vezes, Santo Afonso, o apóstolo da confiança em Maria! Ó Maria, perpétuo socorro de minha perpétua miséria, tenho confiança em Vós!


Nunca – dizia Santa Teresinha – nunca é demais a confiança no bom Deus, tão poderoso e tão misericordioso! Que belas consoladoras palavras da incomparável missionária da confiança! Sim, a confiança na Misericórdia Divina nunca é demais. Pode-se limitar o que não tem limites, o que é infinito? Para nos incutir confiança, Nosso Senhor se fez menino, em Belém, nosso irmão, nosso amigo. Pregou na Judeia, comparando-se ao bom pastor e ao bom samaritano acariciando as criancinhas, comendo e bebendo com os pecadores. Deixou-se ficar reduzido, aniquilado, sob as espécies Eucarísticas, no Cenáculo, e morreu, pregado a uma cruz, perdoando e amando. E, depois disso, encontram-se ainda almas desesperadas da sua salvação!… Não se compreende como se possa ter medo de um Pai tão misericordioso e terno! Essa desconfiança fere e ofende tanto o coração de Jesus!


“Ó Jesus – escreve Santa Teresinha – deixai-me dizer que vosso amor vai até a loucura. Como queres que meu coração não se atire para Vós? Como poderá ter limites a minha confiança?” (História de uma alma, cap. XI)




Por que temer? A um missionário, seu irmão espiritual, escrevia a santinha:


“Desde que me foi dado compreender o amor do Coração de Jesus, confesso que expulsei todo temor de meu coração! A lembrança de minhas faltas me humilha e me leva a, não me apoiar em minha força, que é fraqueza; porém, mais do que isso, ela me fala, da misericórdia e do amor. Pois as faltas, quando lançadas com confiança no braseiro devorante do Amor, não serão sem demora consumidas?”(5 me. lettre à des Missionaires)


Almas tímidas e desconfiadas, se com sinceridade vos quereis dar à emenda de vossa vida, bani de vossos corações todo esse medo de Deus, que vos acabrunha, e abri as asas da confiança. Voai sem receio na amplidão infinita do céu do Amor! Amor e confiança! E nada mais vos será necessário!

 

(Brandão, Ascânio. Breviário da Confiança: Pensamentos para cada dia do ano. Oficinas Gráficas “Ave-Maria”, 1936, p. 16; p. 97, p. 163, p. 267 ). Disponível em: Rumo à santidade



Se O amamos e buscamos viver bem, sem ofender O Senhor e obedecendo-O, se sabemos que Ele nos ama, com amor infinito, busquemos não desconfiar dEle. 

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