Visão Geral: Carta de São Judas

by - outubro 26, 2020

 







Introdução

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Autor da Carta


A autoria da epístola é do discípulo Judas (Judas, irmão de Tiago) e não do apóstolo Judas Iscariotes. Já os destinatários da epístola poderiam ser judeus convertidos ao cristianismo espalhados pela Ásia Menor, embora a epístola não dê informações cabais para que público específico Judas teria se dirigido. O seu conteúdo apenas indica que os destinatários seriam pessoas conhecedoras do Antigo Testamento e das tradições judaicas, não havendo referências expressas aos gentios.


Judas (ou Judah), chamado de um dos irmãos de Jesus, segundo o Novo Testamento (em grego: ἀδελφοί, transl.: adelphoi). Ele é tradicionalmente identificado como sendo o autor da Epístola de Judas, uma curta epístola que é uma das sete Epístolas católicas (somadas às Epístolas paulinas) do Novo Testamento e considerada canônica em todo o Cristianismo. Uma vez que Tiago, o Justo (autor da Carta de São Tiago, falamos dele aqui), primeiro bispo de Jerusalém, também é considerado irmão de Jesus (ele era primo do Senhor, por isso se usa o termo "irmão na carne", os outros o eram no espírito), Judas é também chamado de Judas, irmão de Tiago.



Hegésipo, um escritor cristão do século II d.C., menciona descendentes de Judas vivendo durante o período do imperador romano Domiciano (81 - 96 d.C.). Eusébio de Cesareia relata o seguinte em sua História Eclesiástica (III, 19-20):


Mas quando o mesmo Domiciano comandou que todos os descendentes de David fossem assassinados, uma antiga tradição afirma que alguns dos heréticos acusaram os descendentes de Judas (dito irmão do Senhor pela carne), com base em sua linhagem vinda de Davi e sua relação com o próprio Cristo. Hegésipo relata esses fatos usando as seguintes palavras.

— História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia


Da família do Senhor ainda estão vivos os netos de Judas, que acredita-se que tenha sido irmão do Senhor pela carne. Foram passadas informações de que eles seriam da família de Davi e eles foram levados até o imperador Domiciano pelo Evocatus, pois Domiciano temia a vinda de Cristo como Herodes também temeu. Ele os perguntou se eles eram descendentes de Davi e eles confessaram que eram. Então ele os perguntou quais eram as suas propriedades e quanto dinheiro eles tinham. E ambos responderam que eles tinham apenas nove mil denários, metade para cada um. E estas posses não consistiam de prata, mas de um pedaço de terra de trinta e nove acres sob os quais eles coletavam impostos e se sustentavam por seu próprio trabalho. E eles foram perguntados sobre Cristo e o seu reino, de que tipo era, onde estava e quando seria, ao que eles responderam que não se tratava de um reino temporal e nem terreno, mas um reino celestial e angélico, que apareceria no final dos tempos, quando ele virá em toda glória para julgar os vivos e os mortos, dando à cada um de acordo com as suas obras. Ouvindo isso, Domiciano não passou seu julgamento contra ele, desprezando-os como se não tivessem importância, e os deixou partir. E, por decreto, encerrou a perseguição à Igreja. Após terem sido soltos, eles lideraram as igrejas por terem sido testemunhas e também parentes do Senhor. E a paz tendo sido estabelecida, eles viveram até o tempo de Trajano.

Estas foram as palavras de Hegésipo.


— História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia, citando Hegésipo

 

Eusébio termina seu relato afirmando que eles sofreram o martírio sob o imperador Trajano (98 - 117 d.C.), ainda citando Hegésipo (Hist. Ecles. III, 32.5):


O mesmo historiador afirma que havia outros também, descendentes de um dos assim chamados irmãos do Senhor, cujo nome era Judas, que, após terem dado seu testemunho perante Domiciano, como já foi relatado, em nome da fé em Cristo, viveram até o mesmo reinado [de Trajano]. Assim escreve Hegésipo: "Eles vieram, portanto, e tomaram a liderança de todas as igrejas como testemunhas e como parentes do Senhor. E uma paz profunda tendo sido estabelecida, assim permaneceram até o reinado de Trajano e até que o já mencionado Simeão, filho de Cleofas, um tio do Senhor, foi dedurado pelos heréticos e foi, igualmente, acusado da mesma pena [ser descendente de Davi] perante o governador Atticus. Após ter sido torturado por muitos dias, ele sofreu o martírio e todos, incluindo até mesmo o procônsul, se maravilharam que, com a idade de cento e vinte anos, ele conseguiu aguentar tanto tempo. E ordens foram dadas para que ele fosse crucificado.




Epifânio de Salamina, em sua obra Panarion, menciona um Judas Ciríaco (Judas de Jerusalém), bisneto de Judas, como tendo sido o último bispo de Jerusalém judeu antes da Revolta de Barcoquebas (uma rebelião dos judeus contra o Império Romano, que aconteceu na Judeia em 132). 


A carta

Foi escrita provavelmente no ano 65. Outras suposições, porém, induzem que a obra teria sido escrita por volta dos anos 66 e 67, logo após à morte de Pedro, em razão das fortes semelhanças com a segunda carta deste outro apóstolo. No entanto, uma terceira possibilidade seria que Judas e Pedro tivessem se utilizado de uma fonte comum, talvez de um panfleto muito utilizado na época para alertar à Igreja contra os falsos mestres.

Quanto ao local onde a epístola teria sido escrita não existe até hoje uma correta identificação, ainda que existam suposições de que Judas teria enviado sua carta da Palestina ou do Egito.



O propósito principal dessa epístola é a advertência contra os mestres imorais e as heresias da época, que colocavam em risco a fé dos cristãos. Há quem diga que Judas estaria escrevendo contra os mestres ateus que afirmavam que aos cristãos seria permitido fazer tudo o quanto desejassem, sem temer o castigo divino. Assim, sua carta enfoca a apostasia, que seria a troca dos ensinamentos cristãos pelas falsas doutrinas.


A epístola é bem pequena e tem apenas 25 versículos em um único capítulo. Inicia-se com uma curta introdução de dois versos, fala sobre o perigo da atuação de homens perversos que estavam tentando alterar o propósito da fé cristã, dá exemplos históricos sobre os falsos mestres descrevendo o caráter destes, destaca o viver em santidade como o objetivo dos convertidos e conclui com sua benção apostólica.

Curiosamente, encontra-se nos seus versos 14 e 15 uma breve citação do livro apócrifo de 1 Enoque 60:8, 1:9, sobre uma profecia do julgamento dos homens maus.

"Enoque, o sétimo depois de Adão" é uma citação de 1En.60:8
"Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos.." é uma citação de 1En.1:9 (de Deut.33, 2)

Outra interpretação é de que o Senhor Jesus Cristo contou aos seus servos sobre as profecias de Enoque, e Judas escreveu sua epístola baseada nas palavras do próprio Jesus a respeito do profeta Enoque. O Primeiro Livro de Enoque foi escrito a partir do terceiro século antes de Cristo. Ele nasceu na sétima geração, depois de Adão e foi "tomado por Deus", por volta dos 365 anos (jovem se comparado a idade dos patriarcas que estavam vivos quando ele foi tomado por Deus). 

Dom Estêvão Bettencourt julgou que "A epístola canônica de S. Judas 14 o cita, mas nem por isto o tem como livro inspirado" (Anjos caídos e as origens do mal Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” Nº 489 – Ano 2003 – Pág. 121).

Um ponto da epístola que desperta a atenção é o seu verso 9 que fala sobre uma disputa entre o Arcanjo Miguel e o diabo pelo corpo de Moisés, incidente este que não está registrado em nenhuma outra parte das Escrituras, cuja narrativa é atribuída por alguns à citação de uma parte perdida de um livro antigo chamado de Assunção de Moisés, uma vez que o capítulo 34 de Deuteronômio nada diz a respeito do fato comentado pelo apóstolo. Outros consideram que Judas fala sobre a disputa entre o Arcanjo e o diabo pelo corpo do sumo sacerdote Josué (Zacarias 3, 1-7), que foi talvez uma alegoria sobre a corrupção do sacerdócio, nos dias de Neemias. 

Judas: E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.
Zacarias 3, 2:  não é este um tição tirado do fogo? Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo.




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