Uma das minhas metas é escrever, inclusive fiz essa meta por não conseguir fazer nenhuma outra.
Há momentos na vida em que simplesmente os sonhos e metas somem, não como num estado depressivo necessariamente, mas como alguém que não conhece o lugar em que está. Como numa viagem em que se para numa cidade desconhecida, não é o término, não é o destino da viagem, mas lá estamos. Então fazemos o que já sabemos fazer, e podemos fazer, em qualquer lugar.
Não sei se somente eu sinto isso, mas parece que estamos todos cansados e cansativos, desesperançados, as frases já tão repetidas não fazem mais efeito.
Eu estava lendo o comentário de São João Crisóstomo à carta de São Paulo aos Gálatas. Bem, ele fala sobre a fé de crer sem ver, que nós somos mais felizes pois de fato cremos sem ver, enquanto outros viram o Senhor Jesus e não creram. Crer… Amar… Esperar.
Sempre achei que em cada momento da história da humanidade os santos se destacavam pela vivência mais brilhante de uma das três virtudes teologais. Nos primeiros séculos, a Fé dos Mártires brilhou, a Caridade até muito recentemente, e a Esperança, ao meu ver, será a virtude que brilhará no final dessa era.
Eu não sei se estou sendo feliz em explicar, existem alguns pensamentos que, quando escritos, possuem muitas falhas pela limitação da linguagem e capacidade de quem escreve. Mas, resumindo, me parece que a esperança será a santificadora desses tempos… Santo Luís de Montfort disse que os santos dos últimos tempos serão maiores do que qualquer santo já visto na Igreja (veja bem, maiores que Padre Pio… é claro que não acho que ele fala da nossa geração). No entanto, suspeito que ele diz isso porque terão, e já temos, que fazer um esforço gigante para manter a sanidade e outro para alcançar a santidade.
Todos estão cansados, e é porque estamos vivendo em estado de sítio. Estamos cercados por todos os lados: alguns fisicamente, com suas dores, fraquezas e limitações; alguns psicologicamente, pelo medo, pela insegurança, pela falta de esperança, pelo cansaço, pela tristeza; outros estão cercados pelos dois. E todos estamos cercados por palavras que nos fazem adoecer, vindas da TV, do rádio e de todos os locais. Tudo se tornou um discurso político, até mesmo a fala dos bons. E quando digo político, não me refiro à discussão de ideias, e sim ao partidarismo e apoios que transpassaram o bom senso do saudável para humanos. Novamente, falo tanto dos revolucionários como dos normais. Todos os discursos, de ambos os lados, estão voltados para o medo e a insegurança, usados como armas para alistar as pessoas a uma ou outra ideia.
Ninguém está interessado na pessoa que está escutando ou lendo o conteúdo. Nós estamos presos em nós mesmos, cada vez mais.
Esses tempos andei pensando muito sobre a frase que o Papa Francisco mais fala: “sair de si”, “uma Igreja em saída”… Sempre achei as explicações para a fala do Papa muito ruins, me parecia que faltava alguma coisa nas explicações… Isso porque pareciam frases de autoajuda (nada contra, veja bem), e eu achava que o Papa não falaria algo que encontramos numa prateleira de livraria. Até que recentemente me deparei com o que ele disse, na prisão em que eu e você estamos, consciente ou inconscientemente, e que nos impede de ver o outro de verdade. Vou dar exemplos: a maior parte de nós, quando sabe do problema de alguém, dedica no máximo meia hora e depois volta para si e seus problemas… É raro encontrar alguém que ofereça ajuda concreta e palpável; é comum encontrar quem diz “pode chamar se precisar” e, no entanto, não passa o contato. Eu acho que o Papa estava falando disso, sabe? Dessa falta de atenção genuína e efetiva, que se torna gesto concreto, que testifica alguém que saiu de si para ajudar.
The Cliff Walk, Pourville por Monet (Impressionismo)
Visitei a América do Norte uma única vez, um presente da Santa Virgem na verdade, e até hoje penso em coisas que aprendi lá, observando os costumes locais. Eu cheguei e a vizinha, que não me conhecia, deixou um bolo no hall da casa em que fiquei hospedada e me disseram: “É pra você!”. Minha mente deu um nó, nunca pensei que aquilo pudesse ser real, que as pessoas separam mesmo um tempo do dia para fazer ou comprar, que seja, um bolo para uma desconhecida hóspede da vizinha.
Depois, eu fui visitar uma pequena capela com 24 horas de adoração. A moça que estava comigo, depois de rezar um tempo, disse que ia sair para comprar flores… Bem, eu olhei o altar e vi que tinha muitas flores, eram rosas vermelhas, parece que ela as achou cansadinhas e foi comprar novas. E não, ela não era da equipe de manutenção, ou limpeza ou seja lá o que for na capelinha… Ela era só uma fiel que participava da adoração.
Em outro momento, uma das moças estava passando um pouco mal e, logo que a comunidade ficou sabendo, alguém fez uma sopa, uma vizinha que também era da mesma igreja, e levou lá.
Esses cuidados me vieram muito à mente nesses dias. Talvez seja por ser um grupo pequeno que sustentam uns aos outros, mas vi muito da igreja primitiva nessas atitudes simples e sem nenhuma intenção de abalar o mundo conhecido. Tenho tentado ser mais atenta às pessoas para fazer algo concreto, para fazer parte do pequeno número dos que fazem algo mesmo. É bem desafiador, nós todos estamos habituados a dar alguns minutos de atenção aos que precisam de ajuda e depois deixar pra lá. Eu acho que já fiz isso e já fizeram isso comigo. Eu sempre acho estranho que se pergunte “Como você está?” e depois da resposta nada de concreto vem, é uma pergunta vazia. Foi nesses momentos que me lembrei de tudo que contei antes. Quando uma pessoa precisa de ajuda… ela precisa de ajuda, não de palavras.
Uma vez o professor Olavo disse isso (se ele souber que eu o citei no mesmo texto que citei Sua Santidade rsrs), salvo várias ressalvas em suas falas, acrescidas da minha gratidão - já que a justiça me impede do contrário - ele disse que o brasileiro tem essa mania de discursar quando a pessoa pediu ajuda e não discurso. Infelizmente, é a pura verdade. Claro que palavras são curativas, quando você pediu palavras, como ao buscar uma terapeuta, um padre, enfim. Mas muitas vezes a pessoa precisa de coisas concretas, ajudas concretas e palavras são inúteis, não fazem surgir a solução concreta e nem facilitam o caminho para a solução.
Sair de si é um desafio mesmo, já que estamos soterrados em nós mesmos, cercados de todos os lados em várias instâncias. E para sair de si é preciso ter esperança.
A esperança é simbolizada por uma âncora. Um barco, quando está ancorado, está esperando, parou. Talvez precisemos parar, ancorar, para sair de si, para contemplar, para viver, para ficar forte no posto, para não ser levado pelas ondas, para estar seguro no porto do Senhor. Ancorados.
Singelamente, Ana
"Pitágoras foi o primeiro que chamou de filosofia ao estudo da sabedoria, preferindo ser conhecido como filósofo do que como sábio, pois antes dele os homens que se dedicavam a este estudo chamavam-se sofos, isto é, sábios. Mas é belo que ele tivesse chamado aos que buscam a verdade de amantes da sabedoria em vez de sábios, porque a verdade é tão escondida que por mais que a mente se inflame em seu amor e se disponha à sua busca, ainda assim é difícil que possa vir a compreender a verdade tal como ela é. Pitágoras, porém, estabeleceu a filosofia como a disciplina daquelas coisas que verdadeiramente existem e que são, em si mesmas, substâncias imutáveis.
A filosofia é o amor, o estudo e a amizade da sabedoria; não porém desta sabedoria que trata de ferramentas, ou de alguma ciência ou notícia sobre algum método fabril, mas daquela sabedoria que, não necessitando de nada, é uma mente viva e a única e primeira razão de todas as coisas. Este amor da sabedoria é uma iluminação da alma inteligente por aquela pura sabedoria e como que um chamado que ela faz ao homem, de tal modo que o estudo da sabedoria se nos apresenta como uma amizade daquela mente pura e divina. Esta sabedoria impõe a todo gênero de almas os benefícios de sua riqueza, e as conduz à pureza e à força própria de sua natureza. Daqui nasce a verdade das especulações e dos pensamentos, e a santa e pura castidade dos atos." (Hugo de São Vítor)