Carta 18: Colhendo Pérolas
Piracicaba, 14 de abril de 2020
Este é um daqueles tempos em que a poesia parece que foge e as palavras parecem mais úteis se não ditas. Um daqueles tempos que já dizia Adélia Prado: "olho pedra, vejo pedra mesmo". Talvez o caminho seja somente andar e colher as pérolas que se formam no mar do cotidiano. Só andar, nadar e ir indo, mas buscando pontos de luz aqui e ali de boas práticas.
Um dia um conhecido me disse que eu não devia gastar tanto tempo fazendo material para as pessoas, era jogar pérolas fora. Pensei nisso e quase sucumbi a esse jeito mercenário de ver a vida, mas aí lembrei que talvez isso fosse as pérolas de algumas pessoas e na pior das hipóteses no fim do percurso teria eu deixado um caminho de pérolas. Não me pareceu ruim...
Esses dias li aquela frase da Clarisse Lispector: "o que me mata é o cotidiano, eu queria só exceções". Penso que muitas vezes pensamos assim, quando vivemos nas ondas calmas... No entanto, devo dizer, prefiro pensar como Rilke: "se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas". E se Deus, por sua Providência, vela-nos a nossa querida poesia, que ao menos vejamos uma pedra repousada na grama da esperança, iluminada pelas nuances dos raios da Providência, envolta nas flores da paciência... linda pedra essa...
Talvez o caminho seja somente andar, ou navegar, em busca de pérolas e tudo se ajeita.
Singelamente, Ana.
2 comments
Olá,Paz e Bem!
ResponderExcluirEsta carta é uma pérola que colhi.
Obrigado por passar e deixá-la pelo caminho.
Paz e Bem! Louvado seja Deus, fico muito feliz!
ExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.