Visão Geral: I e II Crônicas
Introdução
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Crônicas
Os dois Livros de Crônicas, geralmente chamados de I Crônicas e II Crônicas, são livros do Antigo Testamento da Bíblia cristã. Eles geralmente aparecem depois dos dois Livros de Reis e antes do Livro de Esdras, concluindo a seção conhecida como "livros históricos do Antigo Testamento", também conhecida como "história deuteronômica".
Na Bíblia hebraica, os livros de Crônicas aparecem num único livro, chamado "Diḇrê Hayyāmîm" (em hebraico: דִּבְרֵי־הַיָּמִים, "O Assunto dos Dias") e é o livro final do Ketuvim, a terceira e última parte do Tanakh (Biblia hebraica), depois do Torah e do Nevi'im.
As Crônicas foram divididas em dois livros na Septuaginta, a tradução da Bíblia para o grego koiné realizada no século II a.C., chamados I e II Paralipoménōn (Παραλειπομένων, "coisas deixadas de lado") ou Paralipômenos. O nome em português deriva do nome em latim destes livros, "chronikon", que foi dado por São Jerônimo em sua tradução no século V.
Crônicas apresenta a narrativa bíblica começando no primeiro ser humano, Adão, e atravessando a história de Judá e Israel até a proclamação do rei persa Ciro, o Grande (540 a.C.) libertando os israelitas do cativeiro na Babilônia.
Os últimos eventos em Crônicas ocorrem durante o reinado de Ciro, o Grande, o rei persa que conquistou o Império Neobabilônico em 539 a.C., a data mais antiga possível para a composição da obra. É provável que ela tenha sido escrita entre 400 e 250 a.C., mais provavelmente entre 350 e 300 a.C.. A última pessoa mencionada em Crônicas é Anani, um descendente da oitava geração do rei Joaquim segundo o texto massorético (é uma família de manuscritos com o texto hebraico da Bíblia utilizado com a versão padrão da Tanakh ). O nascimento de Anani provavelmente ocorreu em algum momento entre 425 e 400 a.C. A Septuaginta apresenta mais cinco gerações na genealogia de Anani. Para os estudiosos que preferem esta leitura, a provável data de nascimento de Anani seria um século depois.
Crônicas parece ter sido majoritariamente obra de um único indivíduo, com algumas poucas adições e edições posteriores. O autor era provavelmente um levita (sacerdote no templo) e provavelmente oriundo de Jerusalém. Ele era erudito, um editor habilidoso e um sofisticado teólogo. Sua intenção era usar o passado de Israel para passar mensagens religiosas aos seus pares, a elite política letrada de Jerusalém na época do Império Persa.
As tradições judaica e cristã identificam o autor como sendo Esdras, uma figura do século V a.C. que emprestou seu nome ao Livro de Esdras. Acredita-se que ele seja o autor de Crônicas e de Esdras-Neemias, mas a crítica textual posterior abandonou esta tese e passou a chamar o autor anônimo de "Cronista". Uma das mais notáveis características de Crônicas, apesar de inconclusiva, é que sua sentença final é repetida na abertura de Esdras-Neemias. Na segunda metade do século XX houve uma radical reavaliação e muitos estudiosos atualmente consideram improvável que o autor de Crônicas seja também o autor das porções narrativas de Esdras-Neemias.
O cronista retrata a grande esperança profética de que a cidade e o templo seriam reconstruídos. Deus iria habitar entre o Seu povo, o Rei Messiânico viria e todas as nações viriam habitar debaixo de seu governo de paz, mas nada disso aconteceu.
O cronista usa sabiamente as histórias dos reis judeus, principalmente o rei Davi, para evidenciar a sua esperança.
Para isso o autor expõem dois temas de forma clara:
1- a esperança da vinda do Rei Messiânico,
2- a esperança de um novo templo.
1ª Crônicas começa com 9 capítulos de genealogia, uma longa lista de nomes. Eles são muito importantes. O autor está sumarizando todo o enredo do Antigo Testamento, nomeando todos os personagens principais na história. E ao fazer isso, ele modela as genealogias para enfatizar duas linhas principais:
1- é a linhagem do prometido Rei Messiânico: bastante espaço é dedicado para traçar a linhagem de Judá, que vai até o Rei Davi, a quem foi dado a promessa messiânica e de Davi, o autor traça a linhagem até os seus próprios dias.
2- outra linhagem familiar que recebe bastante atenção aqui é a dos sacerdotes: os descendentes de Arão, que serviam no templo
Portanto o autor mostra a sua esperança do autor na vinda do Messias, que virá construir um novo templo. E essa esperança está enraizada nessas antigas genealogias.
Depois disso, o autor fala das histórias sobre o rei Davi, e a maioria delas será familiar pois já as lemos no livro de Samuel, mas novamente, há diferenças bem importantes.
Primeiramente, o autor deixa de lado todas as histórias negativas sobre o rei Davi, ou seja, suas fraquezas morais. Portanto, Saul perseguindo Davi no deserto, a história do adultério de Davi com Betsabá, assassinando o seu marido, não são contados. São relatas as histórias do rei Davi herói.
E não apenas isso, também há um novo material adicional que você não irá achar no livro de Samuel
que mostra Davi de forma bem positiva: o rei Davi faz preparativos para o templo, junta recursos, trabalhadores, levitas, corais... O autor retrata o rei Davi como uma figura similar a Moisés. Deus dá a Davi planos para construir o templo, assim como deu planos para Moisés construir o tabernáculo.
O autor não está tentando esconder as falhas de Davi, ele sabe que qualquer um pode ler sobre elas no livro de Samuel. Ao invés disso, ele está tentando retratar Davi como o rei ideal, com o intuito de fazer uma imagem, uma pré- figuração do futuro messias da linhagem de Davi. Lembra a forma como Jeremias ou Ezequiel falaram sobre o vindouro messias, como um novo Davi.
Isso fica mais claro quando o autor reconta a história das promessas da aliança de Deus para Davi. Se compararmos 1ª Crônicas 17 com 2ª Samuel 7 vemos que o cronista está destacando que nem Davi, Salomão ou qualquer rei de sua linhagem, eram o Rei Messiânico. E que quando o Messias vier, Ele será um rei como Davi.
Então, a história do Davi do passado são o que sustentam sua esperança para o futuro. Depois que Davi morre, nós lemos 2ª Crônicas, que foca nos reis que viveram em Jerusalém.
E novamente, existem várias sobreposições com 1ª e 2ª Reis, mas muitas diferenças. O autor deixou de fora todas as histórias sobre os reis do norte de Israel para focar apenas na linhagem de Davi. Ele destaca os reis que foram obedientes a Deus e ele adiciona novas histórias sobre como a obediência deles levou ao sucesso e as bênçãos de Deus. Mas ele também adiciona novas histórias sobre os reis que foram infiéis a Deus, eles não seguiram a Torah, levaram Israel a adorar outros deuses e esses reis enfrentaram consequências terríveis, todas levando ao exílio de Israel. Uma desgraça que eles mesmo causaram.
Toda essa seção se torna uma série de estudos de caráter onde o autor quer que as futuras gerações de israelitas aprendam com a história do passado. E então, se tornem fiéis ao Deus deles e a Torah.
A conclusão do livro também é bem única. No final do livro, o rei dos persas, Ciro, diz aos israelitas que eles podem voltar para casa, retornar do exílio, reconstruir a cidade e o templo.
E ele diz, no último verso do livro: "Quem há entre vós, de todo o seu povo, o Senhor seu Deus seja com ele, e suba...". Deus usa Ciro para cumprir as promessas que fez.
O livro de Crônicas, o último livro das escrituras judaicas, termina apontando para frente. Ele chama o povo de Deus para olhar para trás para que possam olhar para frente. Porque o passado se tornou a fonte de esperança para o futuro. É uma história em busca de um final.
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