Primeiro e Segundo Livro Reis: Visão Geral
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Introdução
I Reis e II Reis, concluem uma série de livros conhecidos como "história deuteronômica", que começa em Josué, passando pelo Juízes, Samuel e Reis, exceto Crônicas, cujos dois livros foram escritos, segundo muitos estudiosos, para prover uma explicação teológica para o Cerco de Jerusalém (587 a.C.) que resultou na destruição do Reino de Judá pelo Império Babilônico em 586 a.C. e para prover uma base para o retorno do exílio.
Na Bíblia hebraica, os dois livros de Reis estão reunidos num único livro, chamado Livro de Reis (em hebraico: ספר מלכים, Sepher M'lakhim). Na Septuaginta, os livros de Samuel e Reis eram parte de um único texto divido em quatro livros. Os dois livros de Samuel eram chamados de I Reis e II Reis e os modernos livros dos Reis eram chamados de III Reis e IV Reis (em grego: Βασιλειῶν, "reis").
Os dois livros dos Reis apresentam uma história de Israel e de Judá da morte de Davi até a libertação de Joaquim do cativeiro na Babilônia, um período de cerca de 400 anos ( 960–560 a.C.).
A narrativa começa com a ascensão ao trono de Salomão depois da morte de Davi. No começo de seu reinado, ele assume as promessas de Deus a Davi e seu reinado marca um período de esplendor para o Reino de Israel, de paz e prosperidade para os israelitas. O ponto alto do reinado de Salomão foi a construção do Primeiro Templo, construído, segundo a narrativa, 480 anos depois do Êxodo, do Egito. No final de sua vida, porém, Salomão adora outros deuses e passa a oprimir os israelitas.
Como resultado do fracasso de Salomão em extirpar a adoração de outros deuses que não a Javé, o reino de Davi se divide em dois durante o reinado de seu filho, Reoboão, que se tornou o primeiro a reinar sobre o Reino de Judá. Os reis subsequentes a Reoboão em Jerusalém continuaram a linhagem real de Davi (ou seja, herdaram a promessa a David) enquanto que, no norte, no Reino de Israel, diversas dinastias se seguiram em rápida sucessão e seus reis, segundo a narrativa, foram todos maus . Depois de algum tempo, Deus levou o Império Assírio para destruir o reino do norte, deixando Judá como o único descendente e depositário da promessa.
Ezequias, o décimo-quarto rei de Judá, "fez o que era certo aos olhos do Senhor" e instituiu uma reforma religiosa de grandes proporções, centralizando os sacrifícios no Templo em Jerusalém e destruindo todas as imagens de outros deuses. Por causa disto, Javé salvou Jerusalém e o Reino de Judá dos assírios. Mas Manassés, o rei seguinte, reverteu as reformas e Deus anunciou que destruiria Jerusalém por esta apostasia. O piedoso e justo neto de Manassés, Josias, reinstituiu as reformas de Ezequias, mas já era tarde: Deus, falando através da profetisa Hulda, anuncia que Jerusalém será destruída.
Deus então leva os babilônios a atacarem Jerusalém. Sem a ajuda de Javé, a cidade é arrasada, o Templo é destruído e os sacerdotes, profetas e a corte real são levados para o cativeiro. Os versículos finais relatam como Joaquim, o último rei de Judá, é libertado e homenageado pelo rei babilônio Evil-Merodaque.
Livro de Reis
Mesmo sendo dois livros separados na Bíblia eles foram originalmente escritos como um único livro contando uma história unificada que continua de onde o livro de Samuel, que veio antes dele, parou.
Davi unificou as tribos de Israel em um único reino e Deus prometeu que da sua linhagem viria um Rei Messiânico que estabeleceria o Reino de Deus sobre as nações e cumpriria a promessa feita para Abraão. O livro de Reis conta a história da longa linhagem de reis que vieram depois de Davi e nenhum deles se tornou essa promessa. Pelo contrário, eles levaram a nação de Israel para o fundo do poço. O livro é esquematizado em 5 movimentos principais. A história começa e termina focando em Jerusalém. Começa com o reino de Salomão e a construção do templo e termina com a destruição de Jerusalém e o Exílio de Israel para a Babilônia, já a história que aponta para essa tragédia compõem as 3 seções centrais que explicam como Israel se dividiu em dois reinos rivais, como Deus tentou prevenir a corrupção de Israel ao mandar os profetas e como o exílio se tornou inevitável, consequência dos pecados de Israel.
Primeira seção
O livro começa com dois capítulos sobre a passagem do reino de um Davi já idoso para o seu filho Salomão. As últimas palavras de Davi são bem similares as de Moisés, Josué e Samuel para o povo. É um chamado para permanecer fiel aos mandamentos da aliança e para ser fiel apenas ao Deus de Israel, mas as palavras de Davi são vazias nesse momento porque Davi e Salomão conspiram para consolidar o novo reino através de uma série de assassinatos políticos (por conta da já conhecida ação dos filhos de Davi contra o pai e contra si mesmos)... não é um bom começo.
O melhor momento de Salomão é quando ele pede a Deus sabedoria para liderar Israel e ele até mesmo completa os sonhos de Davi de construir o Templo do Deus de Israel. Aqui a história pára e descreve detalhadamente o projeto do Templo do mesmo jeito que o projeto do tabernáculo na Torá, com todo ouro, jóias, representações de anjos e frutas. É todo um simbolismo que ecoa a volta ao Jardim do Éden. É um lugar onde o céu e a terra se encontram, onde a presença de Deus habita com Seu povo. O templo é a honra de Israel.
Logo depois de Salomão terminar de construir o Templo ele faz péssimas escolhas e o reino começa a ruir: ele se casa com as filhas de centenas de reis diferentes para fazer alianças políticas, adota os seus deuses e ainda introduz a adoração a esses deuses em Israel.
Salomão então acumula uma quantidade enorme de riquezas e reúne um grande exército, até mesmo institui o trabalho escravo para todos os seus projetos de construção. No entanto, se você voltar até a Torá e dar uma olhada nas orientações de Deus para os reis de Israel em Deuteronômio 17, verá que Salomão está quebrando todas as orientações solenemente.
No momento de sua morte Salomão se assemelha mais ao Faraó, rei do Egito, do que ao seu pai, Davi. Um desastre, se considerarmos que Salomão era um dos homens mais sábios de sua época.
Segunda Seção
A próxima seção do livro abre com o filho de Salomão, Roboão , agindo da mesma forma que seu pai. É uma história muito triste de ganância e desejo de poder. Ele tenta aumentar os impostos para o trabalho escravo.
Mas sobre a liderança de Jeroboão, as tribos do Norte rejeitam esse decreto, se rebelam e se separam; formando o seu próprio reino, rival. Temos agora na história o Reino do Sul, Judá centrado em Jerusalém com reis da linhagem de Davi e esse novo Reino do Norte chamado Israel cuja capital seria eventualmente a Samaria (guarde esse ponto já que com a vinda do Senhor somos apresentados à preocupação do Senhor em sarar as sequelas dessa ruptura que gerou muita aversão entre o Sul e o Norte de Israel).
Jeroboão constrói dois novos templos para competir com o templo de Salomão, colocando um Novilho Dourado em cada um dos templos para representar o Deus de Israel. A conexão com Êxodo 32 é bem explícita.
A partir desse ponto, a história vai e volta do Norte ao Sul, traçando o destino de ambos os reinos. Cada um deles teve por volta de 20 reis sucessivamente. A cada introdução do autor para cada rei, acontece uma avalição centrada em alguns critérios: eles adoravam somente o Deus de Israel ou eles promoviam adoração a outros deuses? como eles lidaram com a idolatria entre o povo? permaneciam fiéis à Aliança, como Davi, ou eles se tornavam corruptos e injustos?
De acordo com esses critérios, o autor não encontra nenhum bom rei no Reino do Norte de Israel, nenhum entre vinte.
No Reino do Sul de Judá, apenas oito dos vinte tem uma avaliação positiva, o que se conecta com outro grande propósito desse livro que é: introduzir o papel dos profetas como figuras chaves na história de Israel e na Bíblia, os profetas não eram adivinhos, eles falavam em nome do Deus de Israel e eles tinham o papel de "cães de guarda" da Aliança; o que significa que eles condenavam a idolatria e a injustiça entre os reis e o povo, constantemente lembravam Israel do seu chamado para ser luz para as nações e que para isso deveriam obedecer aos mandamentos da Torá. Os profetas chamavam Israel ao arrependimento e seguimento de Deus.
Seções centrais
Nessas seções centrais de cada Rei, Deus levanta os profetas para os responsabilizar. O mais proeminente dos profetas no Norte foram Elias e seu discípulo Eliseu; na porção central do livro vemos que Elias era um profeta "selvagem", vivendo no deserto; seu arquinimigo era o rei do Norte, Acabe, e sua mulher canaanita Jezabel. Juntos, os dois instituíram a adoração ao deus canaanita Baal em Israel. O profeta Elias desafiou 450 profetas de Baal para um desafio sobre qual Deus seria o real, ambos construíram altares e oraram, mas apenas o Deus de Israel respondeu com fogo.
Depois disso, Acabe usa seu poder real para assassinar um fazendeiro israelita e roubar o vinhedo de sua família. Elias novamente confronta a injustiça de Acabe e anuncia o fim de sua linhagem. Por fim o grande profeta passa o seu manto e sua liderança para seu jovem discípulo Eliseu que pede pelo dobro da autoridade de Elias. E o que é fascinante é como o autor recontou 7 milagres realizados por Elias e depois ele oferece histórias de 14 atos de poder realizados por Eliseu (exatamente o dobro). Ambos os profetas eram claramente homens notáveis e tiveram o mesmo papel em confrontar os reis de Israel contra a idolatria e a injustiça, mas por fim, não tiveram sucesso em convencer Israel a deixar a apostasia.
Na próxima seção, o reino do norte foi sacudido por uma revolução sangrenta iniciada por um rei chamado Jeú que destruiu a família de Acabe. Mas mesmo tendo sido comissionado por Deus, a principio, logo a sua violência ficou fora de controle e criou uma espiral de assassinatos políticos e rebeliões das quais Israel nunca se recuperou.
Golpe após golpe, as horríveis injustiças nos levam a 2ª Reis capítulo 17: o grande e mal império da Assíria atacou violentamente, derrubando todo o Reino do Norte, a capital Samaria foi conquistada e os israelitas foram exilados e dispersos por todo o mundo antigo. O capítulo 17 é um capítulo chave: o autor pára a história e oferece uma reflexão profética sobre o que acabou de acontecer; ele culpa a idolatria do reino do norte por sua queda e a infidelidade à aliança de Israel. Por fim, Deus permitiu que eles enfrentassem as consequências de suas decisões.
Seções finais
O movimento final do livro conta a história do isolado reino do sul: vemos reis heróicos como Ezequias, que confiou em Deus quando os exércitos da Assíria vieram bater na porta de Jerusalém ou Josias, que descobriu os pergaminhos perdidos da Torá no templo e começou a ler. Ele ficou convencido e instituiu uma reforma religiosa para remover a idolatria e a influência dos canaanitas da terra prometida... mas Judá já havia se afastado demais de Deus.
O rei entre esses dois, Manassés, foi de longe o pior. Ele não apenas introduziu a adoração às estátuas dos ídolos no Templo de Jerusalém, como também institui o sacrifício infantil. Deus enviou profetas para avisar que o tempo havia terminado. Israel havia chegando em um ponto sem retorno. O capítulo final conta a história do Império Babilônico a caminho de invadir Jerusalém, destruir o Templo e levar o povo e a linhagem real de Davi para o exílio.
A história termina nos levando a imaginar: Deus havia terminado com Israel? Ele havia terminado com a linhagem de Davi?
Bem, o parágrafo final dá um salto no tempo de mais ou menos 40 anos à frente do exílio e conta uma história bem interessante. É sobre Joaquim, um descendente de Davi que seria rei se estivesse em Jerusalém. O rei da Babilônia o liberta da prisão e o convida a comer na mesa real pelo resto da vida e o livro termina.
É uma história que nos dá um pouco de esperança de que Deus não abandonou a linhagem de Davi. A questão agora é: como Deus irá cumprir as promessas feitas a Abraão e a Davi? Como Ele irá abençoar a nações e trazer o Rei Messiânico?
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