Catequese com Contos Medievais 4: O monge piedoso e o barrilzinho

by - agosto 20, 2021

 



CONTO

 O Monge piedoso e o barrilzinho


Habitava nos confins da Normandia um destemido cavaleiro, cujo nome causava terror na região. De seu castelo fortificado junto ao mar, não receava nem mesmo o rei. De grande estatura e belo porte, era no entanto, vaidoso, desleal e cruel, não temendo a Deus nem aos homens. Não fazia jejum nem abstinência, não assistia à Missa nem ouvia sermões. Não se conhecia homem tão mau. Numa Sexta-feira Santa, bradou ele aos cozinheiros: 

— Aprontai-me para o almoço a peça que cacei ontem. 

Ouvindo isto, seus vassalos exclamaram: 

— Senhor, hoje é Sexta-feira Santa. Todos jejuam, e vós quereis comer carne? Crede-nos: Deus acabará por vos punir.

 — Até que tal aconteça, terei enforcado e roubado muita gente.

— Estais seguro de que Deus tolerará mais isso? Vós devíeis arrepender-vos sem demora. Em um bosque vizinho há um padre eremita, varão de grande santidade. Vamos até lá e confessemo-nos — insistiram os vassalos. 

— Confessar-me? Aos diabos! — respondeu com desprezo o senhor. 

— Vinde ao menos fazer-nos companhia.

 — Para me divertir, concedo. Por Deus, nada farei. 

E puseram-se a caminho. Na floresta solitária e quieta encontraram o santo varão na ermida. Advertido pelos vassalos, que se confessaram, saiu o eremita ao encontro do orgulhoso senhor, que ficara montado. E disse-lhe:

— Sede bem-vindo, senhor. Visto que sois cavaleiro, deveis ser cortês. Desmontai e vinde falar comigo.

 — Falar convosco? Por que diabos? Estou com pressa. 

— Entrai e conhecei minha capela e minha morada. 


Muito a contragosto e resmungando, o cavaleiro apeou. O eremita tomou-o pelo braço, conduziu-o diante do altar e disse-lhe: 

— Senhor, matai-me, se quiserdes, mas daqui não saireis sem antes confessar-vos. 

— Não contarei nada! E não sei o que me impede de matar-vos.

— Irmão, dizei-me um só pecado. Deus vos ajudará a confessar os demais. 

— Diabos! Não me dareis sossego? Eu o farei, mas de nada me arrependerei. E com grande arrogância contou de um só lance todos os pecados. 


Depois de ouvi-lo, o eremita propôs: 

— Senhor, pelo menos sujeitai-vos a uma penitência. 

— O quê!? Penitência!? Caçoais de mim! — vociferou furioso o cavaleiro. 

— Jejuareis todas as Sextas-feiras durante três anos. 

— Três anos! Estais louco! Jamais! 

— Então, um mês. 

— Também não.

— Ireis a uma igreja e direis aí um Padre-Nosso e uma Ave-Maria.

— Para mim seria enfadonho, e ademais, tempo perdido. 

— Pelo amor de Deus todo poderoso, pegai pelo menos este barrilzinho, enchei-o no regato próximo e trazei-o de volta para mim. 

— Bem, isto não me custa tanto. E sobretudo para ficar livre de vós, concedo. 


Saiu o cavaleiro em direção à fonte, e de um só golpe afundou na água o barrilzinho. Mas neste não entrou uma gota sequer. Tentou novamente de um jeito, de outro... Nada! Intrigado e rangendo os dentes de raiva, voltou à ermida e esbravejou:

— Barril enfeitiçado! Não consigo meter-lhe uma só gota de água! 

— Senhor, que triste estado é o vosso! Uma criança o teria trazido transbordando. Isto é um sinal de Deus, por causa de vossos pecados.

— Pois eu vos juro que não lavarei minha cabeça, não farei a barba nem cortarei as unhas enquanto não encher este barril, ainda que tenha de dar a volta ao mundo. 

E nisto empenho minha palavra! E assim partiu o cavaleiro com o barrilzinho, levando só a roupa do corpo. Em todos os poços e regatos, cascatas e rios, lagos e mares, experimentava encher o pequeno tonel, mas sempre em vão. Caminhando sem cessar, passando frio e calor, por planícies e montanhas, percorreu ele muitos países. Maltrapilho e sujo, curtido pelo sol, obrigado a mendigar, sofreu fome, insultos e chacotas, pois muitos desconfiavam dele. Seu corpo ia definhando, e o barrilzinho pesava-lhe enormemente, amarrado ao pescoço. Ao cabo de um ano de fracassos, decidiu voltar à ermida, onde por fim chegou, exatamente na Sexta-feira Santa. O eremita, não o reconhecendo, perguntou:

— Caro irmão, quem vos deu esse barrilzinho? Há um ano entreguei-o a um belo cavaleiro, que não voltou mais aqui. Nem sei se ainda vive.

— Esse cavaleiro sou eu, e este é o estado em que me colocaste! — respondeu cheio de cólera o desgrenhado peregrino, contando a seguir suas desventuras. 

O santo homem indignou-se ante tanta dureza de alma, bradando: 

— Vós sois o pior dos homens! Um cão, um animal qualquer teria enchido o barril. Ah! bem vejo que Deus não aceitou vossa penitência, porque não vos arrependestes! 

E pondo-se a chorar, rogou à Santíssima Virgem que intercedesse por aquele pecador empedernido. Enquanto o eremita soluçava em sua longa oração, o cavaleiro, quieto, foi tocado pela graça. Seu coração tão duro comoveu-se. Os olhos se lhe turvaram. Uma grossa lágrima rolou-lhe pela face ressequida, caindo diretamente dentro do barrilzinho, que trazia amarrado ao pescoço. E esta única lágrima encheu-o até os bordos. Sinceramente arrependido, o cavaleiro pediu para confessar-se. O eremita, maravilhado, abraçou-o em prantos de alegria. Após ministrar a absolvição sacramental ao penitente, o eremita perguntou-lhe se queria receber a comunhão. 

— Sim, meu pai. Mas apressai-vos, porque sinto que vou morrer. Tendo recebido o Santíssimo Sacramento, com a alma purificada, o cavaleiro agradeceu comovido ao eremita, e colocou-se em suas mãos. Pouco depois exalava o último suspiro. A capela iluminou-se, e os anjos levaram sua alma ao Paraíso. Diante do altar, o eremita velou longamente aquele corpo coberto de andrajos, tendo junto de si o prodigioso barrilzinho. 


Fonte: Catolicismo, nov. 1978 - Adaptado de "Poètes et prosateurs du Moyen Âge", Hachette, Paris, 1921.

 

 

CATEQUESE


I) Que é o Pecado?


O pecado é um não a Deus, isto é, uma desobediência consciente e deliberada da Lei de Deuscometida por pensamentos, palavras, atos e omissões.




1- Pecado Original


Chama-se "pecado original" a privação da Graça Santificante, isto é, o estado de decadência, a falta de uma qualidade essencial que deveríamos possuir e, por conseguinte, uma nódoa ou mácula moral, que nos afasta do Reino dos Céus. Foi "pecado pessoal" dos nossos pais, Adão e Eva, no entanto, nós também ficamos culpados, pois pecamos neles. Tal pecado é remediado no Batismo, mas sofremos as sequelas e feridas do pecado original: a morte, a ignorância e a concupiscência; que são remediadas pela esperança da salvação, pela busca das virtudes e pela busca da Verdade, ensinada pela Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana. 



2- Três tipos de pecado atual, isto é, pessoal.


Pecado contra o Espírito Santo: é a recusa explicita do perdão e da graça de Deus: "pecado para a morte" (I Jo 5, 16).

Pecado mortal ou grave: ocorre quando se preenchem três condições:
a) matéria grave, importante
b) conhecimento de causa
c) vontade deliberada

É dito mortal porque leva à perda da vida sobrenatural, isto é, da graça santificante. Quem está em pecado mortal desce a escada que leva a morte eterna. Sua vida da graça esta extinta, até que se arrependa. Assim qualquer mérito das boas obras feitas em pecado mortal não são atualizados e é como se não o tivesse feito, já que esta alma rompeu por vontade própria a relação com Deus que é a fonte de toda Bondade, a alma só volta a ter os benefícios espirituais das boas obras que fez se arrepender-se e confessar-se. 

- Pecado venial ou leve: se dá quando falta um dos três requisitos acima. Não tira a vida da graça, mas contribui para torná-la anêmica, a alma se torna gradativamente mais fraca na batalha contra o mal.



3- Quatro tipos de pecados?


A distinção de quatro tipos de pecado:

a) contra o Espírito Santo
b) mortal
c) grave
d) venial

Proposta ultimamente, segundo a qual o pecado grave não extinguiria a vida da alma, foi repetidamente rejeitada pelo Magistério da Igreja (Reconciliatio et Paenitentia, 17, 1984). Portanto, a distinção entre pecado grave e mortal, como se o primeiro fosse um "pecado médio", não existe. O pecado ou é venial ou é mortal, mortal e grave são a mesma coisa.



4- Pecado pessoal e pecado social?


"O pecado é sempre um ato de pessoa individualmente considerada. Esta pode ser condicionada por fatores externos como por tendências da sua personalidade. Não digamos, porém, que o ser humano é tão condicionado que careça de livre arbítrio; resta sempre a cada individuo sadio a capacidade de opção em meio às pressões de cada dia. Por conseguinte, não devemos atribuir os pecados às estruturas e as sistemas, como se não fossem atos de pessoas" (Reconciliatio et Paenitentia, 16, 1984).




5- Os pecados contra o Espírito Santo são seis: 


1) desesperar da salvação
2) presunção de se salvar sem merecimento
3) combater a Verdade conhecida
4) ter inveja das graças que Deus dá a outrem
5) obstinar-se no pecado
6) morrer na impenitência




6- Os pecados que bradam ao Céu e pedem vingança a Deus são quatro:


1) homicídio voluntário
2) pecado impuro contra a natureza
3) opressão dos pobres principalmente órfãos e viúvas
4) não pagar o salário a quem trabalha

Diz-se que esses pecados pedem vingança a Deus, porque o diz o Espírito Santo, e porque a sua malícia é tão grave e manifesta, que provoca o mesmo Deus a puni-los com os mais severos castigos.

 "A perda do sentido do pecado é uma forma ou um fruto da negação de Deus: não só da negação ateísta, mas também da negação secularista. Se o pecado é a interrupção da relação filial com Deus para levar a própria existência fora da obediência a Ele devida, então pecar não é só negar a Deus; pecar é também viver como se Ele não existisse, bani-lo do próprio cotidiano. Um modelo de sociedade mutilado ou desequilibrado num ou noutro sentido, como é frequentemente veiculado pelos meios de comunicação, favorece bastante a progressiva perda do sentido do pecado." (Reconciliatio et Paenitentia, 18, 1984)




II) O que é Penitência?


A Penitência, chamada também confissão, é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecadores cometidos depois do Batismo. 




1- Instituição da Penitência.


A Penitência foi instituído na tarde do dia da Ressurreição, quando Jesus, depois de entrar no Cenáculo, deu solenemente aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, dizendo: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23)



2- Jesus ensina-nos a confessar bem


Com a parábola mais linda do Evangelho, a do filho pródigo, Jesus ensina-nos a fazer uma boa confissão, com a alma cheia de confiança no Amor Misericordioso do Pai. Vale a pena ler e meditar a parábola: Lc 15, 11-26.



3- Para uma boa Confissão requerem-se cinco coisas:


1ª) Exame de consciência, isto é, rezar e pensar nos pecados cometidos por pensamentos, palavras, atos e omissões ("caindo em si, disse..." Lc 15, 17);

2ª) Arrependimento dos pecados (também dos já perdoados); ("quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morrendo de fome" Lc 15, 17);

3ª) Propósito de nunca mais pecar (antes morrer do que tornar a pecar); (Vou-me embora, procurar o meu pai" Lc 15, 18);

4ª) Confissão, isto é, contar os pecados ao confessor: (em espécie, número e circunstâncias), ("Pai, pequei contra céu e contra ti" Lc 15, 21);

5ª) Satisfação, isto é, execução da penitência imposta pelo confessor, se possível imediatamente ("Já não sou digno de ser chamado teu filho" Lc 15, 21) (Código de Direito Canônico 981, 987 e 988).




4- Arrependimento dos pecados


Das cinco coisas necessárias para fazer uma boa confissão, é o arrependimento dos pecados a mais importante. Este pode ser de três espécies:

Natural (produzido por motivos meramente humanos): não apaga nenhum dos pecados. 

Sobrenatural imperfeito (atrição; é produzido principalmente pelo medo dos castigos de Deus): sem a confissão, apaga os pecados veniais; com a confissão, apaga também os pecados mortais.

Sobrenatural perfeito (contrição; é produzido principalmente pelo amor para com Deus): unido ao propósito ou ao desejo de confessar-se, apaga todos os pecados, mas fica de pé  a obrigação de acusar os pecados mortais já perdoados, na próxima confissão, sem a qual não é lícito comungar.



5- Confissão frequente


"A acusação dos pecados graves é necessária; a confissão frequente continua a ser uma fonte privilegiada de santidade, de paz e de alegria!" (Paulo VI - Exortação apostólica sobre a Alegria Cristã - 09 - 05 - 1975). 

"Por inspiração do Espírito Santo foi introduzido na Igreja o uso piedoso da Confissão frequente, com a qual: 

- aumenta-se o reto conhecimento de nós mesmos;
- desenvolve-se a humildade cristã;
- arranca-se a perversidade dos costumes;
- resiste-se à negligência e ao torpor espiritual;
- purifica-se a consciência;
- procura-se a salutar direção da consciência;
- fortalece-se a vontade;
-aumenta-se a graça por força do próprio Sacramento"

Pio XII, Encíclica Mystici Corporis


Para um cristão, o Sacramento da Penitência é a via ordinária para obter o perdão e a remissão dos seus pecados graves cometidos depois do Batismo (Encíclica Redemptoris Mater, São João Paulo II, sobre a Bem Aventura Virgem Maria; 31 - 02-12-1984). 


Faculdade da Vontade 


O corpo vive das potências vegetativas, que são três: o poder de nutrição, o do crescimento e de reprodução.

E sente por virtude das potências sensitivas que são se dividem em duas classes: cognoscitiva e afetiva.



Das cognoscitivas


1- Cognoscitivas (com sentidos exteriores) que são cinco sentidos

2- Cognoscitivas sensíveis (sem órgão externo) que são o senso comum, a imaginação, o instinto e a memória.

O homem possuí também outra faculdade cognoscitiva chamada de inteligência ou razão, que são uma só potência, no entanto, tem dois nomes pois há verdades que o entendimento compreende de um só golpe e outras que necessita de raciocínio.

O homem possuí assim a capacidade de discorrer (entender pelo raciocínio), tal habilidade é uma perfeição do homem em relação a outros seres, pois pode chegar a verdade por esse meio. E imperfeição, comparado a Deus e aos anjos, pois pode ainda cair no erro.

A verdade é o conhecimento do que existe. 

A ignorância é a carência de conhecimento sobre algo. 

O erro é atribuir existência ao que não a teve ou tem. 

A verdade pode ser conhecida a partir da idade da razão, 7 anos. No entanto, não é possível, mesmo por investigação, adquirir o conhecimento de todas as verdades; mas poderá conhecer naturalmente as coisas sensíveis e as verdades que deste conhecimento se derivam.



Das Afetivas: o Livre Arbítrio


As faculdades afetivas é o poder que o homem tem de propender para o que as faculdades cognoscitivas lhe apresentam como bom e de fugir do que como mau lhe põem diante dos olhos.

Existem duas classes de faculdades afetivas: o apetite sensitivo e a vontade (que é um apetite, mas mais nobre e espiritual) e portanto mais perfeito.


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja







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