Alice no País das Maravilhas

by - setembro 13, 2022




Reflexão 1 
7 de junho de 2022


A Alice dormiu e depois caiu, caiu, caiu e foi parar no País das Maravilhas, que é maravilhosamente cheio de coisas estranhas. O conto chega a dar medo com aquele sorriso que paira no ar, lembram?

Assim que chega no maravilhoso país, ela encontra o gato. Veja só que diálogo interessante:

“Alice: - Para onde vai esta estrada? Gato: - Para onde você quer ir? Alice: - Eu não sei, estou perdida. Gato: - Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.”

Uma alma perdida que entra em si mesma, uma alma perdida em si mesma. O País das Maravilhas está dentro da Alice, é a própria Alice.

Interessantemente, ela está destinada a matar um dragão. Veja bem, dentro dela mesma, ela está destinada a matar um dragão, a lidar com duas rainhas irmãs contraditórias, a fazer bons amigos um tanto doidinhos, outros medrosos, outros pequenos corajosos.

Tudo se passa como um sonho muito louco, mas no fim a Alice enfrenta um dragão e ganha. No fim, ela sabe para onde quer ir. A narrativa toda é a luta interior de uma alma que se perdeu em si, mas no fim se encontra em si mesma.

Ela fica pequena para entrar, enorme quando já está lá dentro e no tamanho normal quando vence o dragão. Ela só vence quando tem a real proporção de quem ela é. Mas mesmo assim precisa dizer cinco coisas impossíveis para cogitar vencer.

Nos contos, o que é improvável, dentro da própria narrativa fantástica do conto que muitas vezes já é improvável, é símbolo da Graça, da Ação Divina. A própria entrada nesse país pode ser vista dessa forma e, quando ela fala “coisas impossíveis”, também nos remete a essa ação.

Por fim, chegamos à conclusão que precisamos saber para onde estamos indo e que qualquer caminho que tomarmos nos leva ao momento de matar dragões. Lembra? A Alice dormiu, ou caiu num buraco e desmaiou, pois estava fugindo, mas aí, quando ela entrou em si, não teve para onde fugir. Precisou diminuir e depois crescer e depois ser ela mesma, somar com a Graça e aí vencer.

Boas lonjuras para você!






Reflexão 2 
10 de agosto de 2022

“… – Mas eu não quero ficar entre gente maluca – Alice retrucou.

– Oh, você não tem saída – disse o Gato – Somos todos malucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.

– Como sabe que eu sou louca? – perguntou Alice.

– Você deve ser – afirmou o Gato – ou então não teria vindo para cá. …”.

“Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: ‘Quem é que eu sou?’. Ah, essa é a grande charada!”

A última vez que falei sobre a Alice, disse que o País das Maravilhas era ela mesma, a Alice. Ela estava perdida nela mesma e nem reconheceu todo o mundo fantástico que estava dentro dela. Nem sempre é fácil se deixar cair no buraco e: “desde que cheguei a esse mundo, só escuto o que tenho que fazer e quem eu tenho que ser. Já fui encolhida, esticada, esfolada, escondida num bule de chá, já fui acusada de ser e não ser a Alice certa, mas esse sonho é meu, eu decido o que fazer a partir de agora, eu faço o meu destino.” Não é fácil tomar decisões, eleger, escolher, ter pontos inegociáveis. Todos querem nos esticar, amassar, dobrar, esfolar, nos enfiar no bule de chá mais próximo. Os diversos ciclos sociais nos fazem ter personalidades 1, 2, 3 e 4 para grupos 1, 2, 3 e 4. Acontece que isso gera fragmentação. Buscar a integralidade é a forma mais honesta de viver. Mas para isso é preciso entrar no mundo que só loucos entram, nosso fantástico mundo interior, matar um dragão lá e sair sabendo quem somos.

É claro que contamos com a Graça para isso, não podemos fazer nada sozinhos, mas tampouco podemos esperar tudo pronto como aturdidos assumidos.

“Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.” Rainer Maria Rilke

Já parou para pensar que ser como uma criança é ter a plenitude de si e de sua riqueza interior, como uma criança brincando plena e ricamente só?

Boas lonjuras pra você!




Indicação de leitura: 

Alice no País das Maravilhas (Ed: Zahar, comentada e ilustrada): aqui

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