Educação Cristã 5: A falsa percepção de formação
Como relatei nos textos anteriores, a formação catequética e intelectual católica está em um novo patamar.
Há 10 anos, quando a internet era só mato e ninguém se importava com alguns temas, falar sobre catequese, beleza, meditação, caminho da perfeição e livros era o caminho de sucesso caso a meta fosse não ser escutado. No entanto, “uma pá de gente” fazia isso… eu sei porque eu estava lá, fazendo isso.
Lembro-me agora de um vídeo sobre leituras anuais. Recordo-me de que recebi um comentário interessantíssimo: “você só lê?”. No entanto, acredite, em tão pouco tempo - 5 anos - não recebo mais comentários desse tipo. Existem mais clubes do livro do que uma pessoa é capaz de ler, e as editoras de livros católicos não estão mais falindo. Escrevo isso para que você saiba, com muita clareza, que nem sempre foi assim e que, para que isso acontecesse, foi necessário muito trabalho, abrindo o mato, para que outros semeassem e colhessem. É importante ter noção dos acontecimentos na linha do tempo, uma visão clara da ação e do tempo da Graça, principalmente nessa terra tupiniquim.
No entanto, com o aumento de conteúdo na internet (outra coisa que não era assim, uma aula na internet era considerada uma pedra preciosa para uns ou uma coisa enfadonha para outros), me parece que a percepção da educação e da formação foi alterada. Veja bem, as pessoas têm acesso a muito conteúdo, muitos são realmente bons, mas isso gera duas questões:
- Será realmente que é possível existir uma banalização do conhecimento, a ponto de as pessoas não valorizarem mais tudo o que é preciso para que determinada aula exista?
- Com tantas lives e aulas acessadas com um clique, será realmente que isso pode ser considerado um verdadeiro processo formativo?
Pois bem, essas são perguntas que qualquer professor ou formador já se fez, principalmente se trabalha na internet. Será mesmo que as pessoas podem valorizar uma coisa que acessam com um clique? Não digo somente valor monetário, mas valor efetivo. Talvez seja uma questão individual, mas existem alguns pontos que me vêm à mente sempre que penso nisso. Há uns dois anos, lembro-me de abrir o canal de um instituto, hoje muito famoso, para assistir a uma aula de um professor que me é muito caro. Acontece que, por algum motivo, a aula 1 foi duplicada como aula 2, ou seja, era a mesma aula. No entanto, meu espanto foi ler os comentários das pessoas reclamando. Fiquei espantada por ser o cúmulo da desvalorização. É incomum esse tipo de reflexão, por isso deixo-a aqui: todo professor é chamado a ensinar, mas ele não é obrigado a ensinar, tampouco é obrigado a oferecer anos do seu conhecimento de graça. Se o professor o faz, é por amor fraterno e por gentileza. Dez minutos de um ensinamento com um professor já devem ser vistos como prêmio, como graça.
Lembro-me de que, em 2010 - 2012, encontrar uma aula, uma palestra na internet era um achado, um congresso era uma grande graça, isso em qualquer área. A percepção do valor do conhecimento mudou muito. E isso se relaciona com o volume da oferta.
Por outro lado, existe a falsa percepção de formação que a internet oferece. A pessoa assiste a uma live aqui, outra ali, outra já lá adiante e pronto, acredita que está em um processo formativo. Não está, me perdoe a sinceridade. Essa falsa percepção de formação é muito danosa para a vida de estudo, e o motivo principal é que está baseada no mimetismo. Dado que a pessoa assiste ao fulano, ao beltrano e ao sicrano da Silva Sauro, passa a falar como ele, a usar os mesmos jargões, expressões e exemplos. Isso não é uma formação, é uma imitação.
Em outros textos, citei que, a depender do modelo, isso é melhor do que nada. Mas de forma alguma é o ideal. O processo educativo busca lapidar o que de melhor você tem, incentivar a pesquisa, a busca, a aprendizagem verdadeira e não a imitação através de lives e aulas soltas, cada uma guiada por um professor.
É preciso buscar um método.
Para um processo formativo, de fato, não é necessária faculdade, mas sim um método, e esse método precisa ter um mentor. Você pode passar por vários processos formativos, mas é preciso entrar em um e seguir até chegar no que deseja e depois mudar, se for o caso. Não deve ficar quicando de live em live achando que isso é uma formação, pois não é.
É como uma criança que passa o dia lambiscando tudo que encontra em uma mesa de petiscos; ela está comendo, mas não está se alimentando, está lambiscando. Aquilo sacia, aparentemente dá forças, mas não nutre.
Conta-se que Santo Agostinho foi para Roma, esperançoso de lá não encontrar os costumeiros alunos que passavam de uma aula a outra. Para que me entenda melhor, explico. Na época de Santo Agostinho, ainda se fazia muita “formação em rodas” nas praças, o mestre e os discípulos, assim o aluno podia entrar e sair dessas rodas de formação… Pois, Santo Agostinho não gostava nada disso, achava desrespeitoso e, de fato, devia atrapalhar muito o professor. Quando penso nessa questão da falsa formação, me parece a mesma coisa, mas online.
Eu falo sobre isso no Curso de Introdução à História da Igreja. O povo quer assistir a aulas mirabolantes, no entanto, não sabe a diferença entre matéria e forma. Desejam entender os grandes momentos conturbados da História da Igreja, mas não buscam saber para onde foram cada um dos apóstolos após o envio do Senhor na Ascensão, ou como cada país da Europa recebeu o Evangelho, quem levou, quem ajudou, depois como os reinados se tornaram católicos, já que eram todos pagãos. Me espanta que poucos queiram suprir os déficits de conhecimento básico antes de se tornarem “católicos cool”.
1 comments
É muito cansativo. Você abre o Instagram e a cada duas postagens tem um curso. No início me aumentava a sensação de que eu precisava aprender mais. Depois me irritou porque de repente todo mundo parece ser o 'papa' em algum nicho que mais ninguém é. Finalmente, hoje estou cansada. Cansada de ver tanto curso, palestra, master class... E mesmo assim outro dia, só por ironia, dei um google pesquisando "como ser feliz" (claro que tinha muitas respostas, mas nenhuma era A resposta que eu já sabia). São os sintomas desses tempos tão insanos onde tudo está tão ao contrário que até a Marilena Chauí se acha digna de aparecer no meu YT pra me vender seu lixo. Cada vez mais sinto necessidade de fazer meus dias de "celular off" e apenas estar onde estou. Deus nos ajude.
ResponderExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.