A Virtude da Pureza| Uma Virtude por mês: Junho

by - junho 05, 2023







"A alma cristã abraça a pureza pelo desejo de ser mais livre no seu voo para Deus, na prática do amor divino... não há virtude verdadeira e perfeita senão a que conduz a Deus sob o impulso da caridade.

Assim compreendida, a castidade ou pureza é uma virtude especial que tem objeto próprio, distinto do de qualquer virtude.

A nossa alma, criada para amar e pertencer só a Deus inclina-se, entretanto, a aderir às criaturas e a procurar nelas a sua felicidade. Ora, toda afeição desse gênero é desordenada quando se afasta de Deus; mancha a alma culpada e faz dela, em relação a Deus, uma esposa infiel. É, pois, possível conceber-se uma castidade, uma pureza espiritual que consiste em interditar-se qualquer apego desordenado à criatura e em procurar a sua glória só em Deus pela prática da divina caridade. Ao contrário, todo pecado, toda afeição desordenada, podem ser considerados como uma fornicação espiritual, como ensina o doutor angélico (2º, 2º q. 151).

Essa castidade, porém, essa pureza espiritual não é virtude especial; mas é como estado de alma, o resultado do esforço de todas as outras virtudes, que desembaraçam a alma, cada uma em sua esfera, das afeições desordenadas. Assim, a pobreza impede a alma de procurar o gozo no amor das riquezas; a humildade arranca-a às falsas alegrias do orgulho. Mas essa pureza resulta, sobretudo, diz Santo Tomás, das virtudes teologais, e especialmente da caridade que, unindo a alma intimamente a Deus, não só a afasta do amor desregrado das criaturas e a preserva de toda mancha, mas lhe outorga ainda todo o brilho da beleza de Deus."¹





Corações Despedaçados

Na reflexão do mês de maio vimos os males da concupiscência, que nos faz ver o mundo - e os outros - com lentes deturpadas e maldosas, fragmentadas e cheias de ideias pré concebidas que não são amplas para abarcar a proposta salutar do evangelho. 

Passamos a andar cegados pela concupiscência e isso nos fez carregar um coração despedaçado, infiel às atitudes amáveis e amigáveis, aos bons sentimentos e altos ideais, às palavras do evangelho e a culta, alta e calma instrução cristã. Ideias turbulentas, apegos passageiros e tantos pecados nos fizeram fragmentar "a sede do ser" que é o nosso coração. 

Tantos males só poderiam ser solucionados por Aquele  a quem tudo está subordinado e por Sua morte e ressurreição nos ofereceu remédio salutar. No entanto, ainda estamos neste vale de lágrimas, nesta barca em mar turbulento, nesta terra de ilusões. Antes que o Senhor subisse ao Céu rezou por nós, para nos "consagrar à verdade" e pediu para que o Pai nos protegesse do Maligno. 

Consagrados à verdade e não ao amor, veja bem, sendo Ele Caminho, Verdade e Vida. Somente a verdade pode nos tirar dessa perspectiva ilusória do mundo e nos abrir os olhos para as realidades espirituais, que são maiores e mais eficazes do que o mundo material. Veja bem, existem mais anjos do que seres humanos, o mundo espiritual é maior e mais efetivo que o material. O mundo espiritual é a realidade, a nossa realidade. Estamos consagrados à essa Verdade e protegidos, por isso, do Maligno que é o mestre das ilusões.



Amizades que nos defendem do Mal ou que nos associam ao Mal


"A modéstia dos olhos pouco nos servirá se não vigiarmos sobre o nosso coração.


“Aplica-te com todo o cuidado possível à guarda de teu coração, diz o Sábio (Pr 4, 27), porque é dele que procede a vida”

É aqui o lugar apropriado para se dizer algumas palavras sobre as amizades e, primeiramente, sobre as santas, depois sobre as puramente naturais e, enfim, sobre as perigosas.

1) Descrevendo São Paulo a corrupção moral dos gentios, enumerava entre seus vícios a falta de sentimentos e de susceptibilidade para a amizade. A amizade, segundo Santo Tomás, é mesmo uma virtude. A perfeição não proíbe se entretenham amizades, diz São Francisco de Sales; exige somente que sejam santas e edificantes, a saber, só devem ser mantidas aquelas uniões espirituais por meio das quais duas, três ou mais pessoas comunicam entre si seus exercícios de devoção, seus desejos piedosos e sentimentos nobres, tornando-se como que um só coração e uma só alma para a glória de Deus e o bem espiritual próprio ou alheio. Com toda a razão podem tais almas exclamar:

“Vede quão bom e suave é habitarem os irmãos em união” (Sl 132, 1)

São Francisco de Sales diz mais que, em tal caso, o suave bálsamo da piedade destila de coração em coração, por meio dessas mútuas comunicações, e bem se pode dizer que Deus lança Sua bênção sobre tais amizades por toda a eternidade (Filotéia, parte 3, c. 19).

Tais amizades são recomendadas pela Escritura mesma em termos eloquentes:


“Nada se pode comparar com um amigo fiel e o valor do ouro e da prata não iguala a bondade de sua fidelidade” (Eclo 6, 10)

“Um amigo fiel é um remédio para a vida e a imortalidade, e os que temem o Senhor encontram um tal” (Idem)

Mas como podeis aconselhar as amizades particulares, dirá alguém, quando elas são tão rigorosamente condenadas por todos os ascetas? Respondo: As amizades particulares são proibidas unicamente nos claustros e com toda a razão, pois é imperiosamente necessário que todos os religiosos se amem mutuamente com amor fraterno, para que haja uma vida comum clausural. Ora, num claustro, as amizades particulares podem facilmente ocasionar perturbações dessa mútua caridade, dando ocasião a invejas, suspeitas e outras misérias humanas. São Basílio não hesitou em dizer que as amizades particulares em um convento são uma sementeira perpétua de invejas, de suspeitas, de desconfianças e inimizades. O mesmo acontece nas famílias em que o pai ou a mãe tem mais carinhos para um filho que para os outros. Os filhos de Jacó odiavam a seu irmão José, porque seu pai lhe dedicava um amor especial.

Não há, além disso, nenhum motivo de se alimentar tais amizades num estado religioso, pois, num convento, onde reinam a disciplina e a ordem, todos os membros tendem ao mesmo fim, à perfeição, e não é necessário travar amizades particulares para animar-se mutuamente ao serviço de Deus e ao trabalho do aperfeiçoamento próprio.

Os que, vivendo no mundo, desejam dedicar-se à prática da virtude verdadeira e sólida, precisam, pelo contrário, de se unir aos outros por uma amizade santa e edificante, para poderem, por meio dela, se animar, se auxiliar e se estimular ao bem. Há no mundo poucas pessoas que tendem à perfeição e muitas que não possuem o espírito de Deus e, por isso, é preciso que os bons, quanto possível, evitem os que podem, impedir seu adiantamento espiritual e travam amizade com os que os podem auxiliar na prática do bem.

2) Quanto às amizades puramente naturais, deve-se dizer que elas têm seu fundamento na nossa natureza, que nos compele a amar a nossos pais, nossos benfeitores e todos aqueles em quem vemos belas qualidades e com quem simpatizamos. Esta espécie de amizade é o laço da família e da sociedade, mas facilmente degenera em amizades falsas; por exemplo, se os pais, por um carinho demasiado, toleram as faltas de seus filhos, ou se um amigo ofende a Deus para agradar a seu amigo, etc. Quanto à essas amizades, devemos notar que só são agradáveis a Deus, se as santificarmos por meio da boa intenção; por exemplo, amando a nossos pais e amigos por amor de Deus.

3) Por amizades perigosas entendem-se, em particular — as sensuais — isto é, aquelas que se baseiam sobre uma complacência sensual, sobre a fruição comum de prazeres sensuais, sobre certos dotes fúteis e vãos de espírito e coração. Essas amizades são já por si perigosas, mesmo que, no começo, nada tenham de inconveniente, e devemos guardar nosso coração desembaraçado, delas.

a) “Quem não evita relações perigosas, cai facilmente no abismo”, diz Santo Agostinho (Sermo 293). O triste exemplo de Salomão bastaria para nos encher de terror. Depois de ter sido amado tanto por Deus, servindo ao Espírito Santo de mão para escrever, travou relações com mulheres pagãs, já na sua velhice, e caiu tão profundamente que chegou a sacrificar aos deuses. Isso, porém, não nos deve estranhar, pois, será para admirar que alguém se queime, pergunta São Cipriano (De sing. cler.), permanecendo no meio das chamas?"²





Pureza Espiritual


A pureza espiritual é a harmonia entre o nosso comportamento e a nossa fé, quando os nossos comportamentos são uma expressão fiel do que acreditamos, há pureza, se existe uma fragmentação entre o comportamento e a fé, existe uma impureza, que também chamamos de desvio moral. Estas fragmentações geram erros de doutrina, imoralidade e contaminação mundana. Portanto, a pureza espiritual não se realiza num terreno etéreo e imaterial, mas sim na realidade concreta, pois, o ser humano é corpo e alma e como um conjunto de matéria e espírito, consagrado à Verdade, tem o papel de expressar em si a harmonia da matéria e da fé em ato concreto.

No entanto, diversas são as atitudes diante da contaminação. 

Jacó tinha uma filha (lembra?), o nome dela era Diná. Quando Jacó se estabeleceu entre os cananeus, em Siquém, Diná foi tomada por um heveu, príncipe da região. Apesar das ordens expressas do Senhor para que não houvessem relações entre eles e os pagãos. Jacó não foi atento e Diná foi tomada e corrompida. Além do aspecto humano do texto (talvez tenha sido um estupro), existe uma lição muito profunda sobre a pureza espiritual. Jacó não zelou pela pureza espiritual do seu clã e - veja bem - quando soube, se calou. Já seus filhos primogênitos, levados pela ira, mataram todos do clã de Siquém, para vingar Diná. Rubens perdeu a benção da primogenitura (que foi dada a Judá) por conta disso. 

Diante da impureza espiritual, pessoal e eclesiástica, podemos nos associar a Jacó ou a Rubens... os dois estavam errados. Não houve uma boa resposta para a impureza, nenhum deles pediu a Deus a resolução da situação da pobre Diná que tinha um pai patriarca e 12 irmãos e mesmo assim ninguém a estava protegendo. Depois, um se calou e dois se rebelaram, o restante só Deus sabe. 

Talvez esteja acontecendo a mesma coisa com a Doutrina ou com o nosso comprometimento numa pureza espiritual. Falta de zelo e vigilância geram um comodismo silencioso ou agitação desordenada diante da contaminação. 

No entanto, algo realmente precisa ser feito... 



Proteja a sua mente


"Tomai o capacete da salvação" (Efésios 6, 17)

Só precisa de armadura quem está em ambiente sem segurança. Só precisa de capacete quem sabe que  sua cabeça corre algum risco ou que alguém lhe mira a cabeça. Portanto, não receberíamos orientação de nos revestir de uma armadura completa se estivéssemos sem perigo eminente de receber alguns golpes. O inimigo mira a sua cabeça, a sua mente, os seus pensamentos. Este é um dos motivos de recebermos tantas informações e não conseguirmos convertê-los em conduta santa. Os pensamentos, ainda que enriquecidos de instrução, não se fortaleceram na meditação. 

A meditação é o tempo dedicado em pensamentos devotos e de amor a Deus, pensamentos que fluem da nossa fé na salvação, pensamentos que provêm do grande fluxo salvífico que o Senhor abriu para nós. Tais pensamentos nos protegem e nos fazem converter o ensinamento em conduta santa. Uma hora de meditação vale mais que muitos livros, é mais forte que muitos conhecimentos.

A meditação é capaz de converter a força dos ensinamentos em uma unidade concreta que tem uma grande ação no mundo visível. Esse tempo de cultivo pela oração mental é o que faz usar bem a espada da Palavra e o escudo da Fé. 

Esta concretude é antes de tudo para a própria vida. Purificar os próprios pensamentos, cultivar um período de elevação da mente em piedosos e devotos pensamentos e por fim transformar os ensinamentos, fortalecidos no cultivo da oração mental, em atos concretos. E então começamos a construir a fortaleza de uma mente forte. 

O inimigo mira a tua cabeça, a tua mente, para aprisioná-la às coisas baixas e vis. 

Se nos dedicamos ao cultivo de pensamentos elevados, à construção dessa muralha, já começamos, através desta constante união com Deus, a viver em pureza espiritual e gerar dardos de pureza espiritual no mundo e na Igreja. Como um raio luminoso que dissipa as trevas, simplesmente por existir.



Dissipando as trevas da mente


Os pensamentos pecaminosos só podem ser vencidos por pensamentos piedosos, se a mente está repleta de um não tem espaço para o outro. No entanto, vivemos num mundo que realmente nos puxa para o lodo. Mas podemos nos munir de alguns bons comportamentos que nutrem bons pensamentos e que (como num ciclo) geram comportamentos ainda melhores.

- Confissão dos pensamentos que, mesmo sem serem praticados (portanto, não são pecado), rondam a mente e o coração,
- Boas amizades,
- Tempo dedicado para tal,
- Boa música,
- Verificar se a nutrição corporal está boa (falta de boa nutrição gera "nuvem mental")
- Vida ascética dentro do estado de vida,
- Uso de sacramentais com frequência: água benta, sal bento.
- Se for uma perturbação mental passageira, verificar donde vem e se afastar dela.
- Cordão de São José



Referências


1) AZEVEDO C.SS.R., Padre Oscar das Chagas. As Doze Virtudes para cada Mês do Ano. Editora Vozes, p. 102-118

2) OMER C.SS.R., Padre Saint. Escola da Perfeição Cristã para Seculares e Religiosos: Obra compilada dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja. Editora Vozes, 1955, p. 186-204


3) JERUSALÉM, B. de. Bíblia de Jerusalém. 10. ed. São Paulo: Paulus, 2015.

















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1 comments

  1. Gostei do conteúdo deste esclarecimento e orientação . Reconheço que nos tempos de hoje é muito dificil um jovem ou ate adulto conviver com outras pessoas socialmente e se proteger se nao quiser se corromper porque uma das coisas mais comuns é : a hipocrisia , a mentira , as conversas mudanças (sobre temas de novelas , BBB , noticiários sociais e políticos com temas sobre crimes , corrupções...) E quem quer se proteger , se preservar destas más influências precisa ter um cuidado muito atencioso para as suas amizades ou relações sociais , ou até mesmo se afastar . Porque nos Tempos de hoje um homem ou mulher de Bem ficam até com vergonha de ser nobres de Espírito, corretos , honestos e dignos ! A feiúra está tão disseminada no mundo...

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