Crônicas: Revolucionários enrustidos e as maluquices de cada dia

by - junho 15, 2023





É, realmente as pessoas ficaram malucas. Às vezes me sinto como a Alice que diz ao Gato que não quer ficar entre gente maluca e o Gato responde que todos são malucos, inclusive ela. Talvez o único antídoto contra a maluquice seja outra forma de maluquice. Como o Chapeleiro e a Rainha de Copas. Mas antes que eu entre no País das Maravilhas com esse papo, falemos das maluquices cotidianas. 

A mentalidade revolucionária é caracterizada por três atos: 1) renega o passado e seus aprendizados, gerando uma busca por algo novo que irá mudar o rumo da história; 2) utiliza a autoridade para defender esta busca por novidade colocando todos os que não aceitam tal caminho como párias, o que gera uma dinâmica de grupos que lutam entre si (isso se chama demagogia), 3) o "pária" é excluído do meio em questão e o motivo da sua exclusão é a sua negação em acatar as novidades e as buscas pelo novo, ou seja, ele mesmo se excluiu. Che Guevara quando matava os que não estavam de acordo com ele dizia que não era ele quem matava, era a pessoa que se matava. 

Bem, a maioria de nós acredita que isso só acontece nos grupos revolucionários. Que se refere a uma forma de pensar do outro lado, ou seja, que estamos ilesos e sãos. Doce ilusão. Estamos todos soterrados em pensamentos revolucionários, por todos os lados. A diferença é que estão enrustidos.

Por isso, também é uma característica do pensamento revolucionário, não pertencer ao grupo x ou y, a mentalidade revolucionária é uma alteração mental e espiritual que pode acontecer - e acontece - em vários grupos, até mesmo nos mais bem intencionados. 

Exemplos notórios e enrustidos: 

O padre que não deixa um catequista ensinar a Doutrina e nega que este seja catequista, é a mentalidade revolucionária. O outro acredita que só o seu grupo pode trazer algo bom para a Igreja ou a sociedade, também é a mentalidade revolucionário. 

Quando um grupo é impedido de fazer um evento na Igreja porque é católico demais, é um impedimento de uma mentalidade revolucionária; mas quando um grupo excluí todos os outros membros da Igreja Católica, como inferiores em conhecimento, também é a mentalidade revolucionária. 

Quando uma moça quer ter atenção e "lugar de fala" defendido, calando os homens para que não abordem tais temas, é a mentalidade revolucionária; mas quando um homem acha que a mulher nem mesmo deva falar, que ela não tem lugar para falar, também é movido por uma mentalidade revolucionária. 

Quando uma mulher acredita que pode ensinar sobre doutrina no púlpito, isso vem da mentalidade revolucionária. Mas quando se acredita que  ela nunca deva abordar ensinos sobre doutrina, também há um movimento do pensamento revolucionário.

Quando se tem desdém do passado, caçoando e debochando dos costumes antigos, principalmente os religiosos, isso é resultado da mentalidade revolucionária. Mas também o é quando existe um excesso de idealização do passado numa tentativa de destruir tudo para construir algo novo compatível com o idealizado.

Quando não podemos falar sobre a Missa Tridentina, o último Concílio, os debates da época e somos orientados somente sobre as maravilhas atuais e o novo que buscamos (que nunca chega), este é um impedimento da mentalidade revolucionária. Mas quando não se vê como reais a realidade eclesiástica, quando existe uma tendência a excluir tudo que não pertença a determinado grupo, inclusive pessoas e almas, isso também é resultado da mentalidade revolucionária. 

Quando temos uma negação da transcendência e sacralidade, ficando somente no aqui e agora, isso é a mentalidade revolucionária. Mas quando temos uma diocese que não abraça a realidade da variedade das almas e acolhe somente uma forma de vivência espiritual, normalmente do grupo tal e tal, exigindo que todos se adaptem e engulam sem reclamar, isso é também a mentalidade revolucionária. 

Como vê a mentalidade revolucionária é bem comum, não pertence à um grupo específico, muitos de nós podemos desenvolver uma cadeia de pensamento com os três componentes já citados, que resultam numa incapacidade de abarcar a realidade, além de gerar obtusidades evidentes.

Por exemplo:

O padre que acredita que todos os caminhos dão no Céu e dois minutos depois reza por missionários, é uma obtusidade evidente.

Quando alguém defende a catolicidade da sociedade e não quer que cada leigo, homens e mulheres (me perdoe a redundância, mas se faz necessário) falem catolicamente em todos os meios, é uma obtusidade evidente.

Quando se defende a contra revolução em todas as possíveis realidades eclesiásticas e sociais, mas se evita o contato com esses mesmos meios, é uma obtusidade evidente.


Enfim, maluquices de cada dia. 









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