A dignidade da mulher - Carta Apostolica de SJPII
A primeira parte possui notas similares ao Tratado da Verdadeira Devoção tanto na temática quanto na estrutura do texto. O que não é surpreendente, o Tratado era o livro de cabeceira do então Papa João Paulo II.
"No cristianismo, de fato, mais que em qualquer outra religião, a mulher tem, desde as origens, um estatuto especial de dignidade" .
"Trata-se de compreender a razão e as consequências da decisão do Criador de fazer existir o ser humano sempre e somente como mulher e como homem".
"Cristo manifesta o homem no próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação"
O autor escolhe dar ao texto um caráter meditativo, tal escolha acentua ainda mais a característica de ser uma resposta meditativa aos caminhos que o tema tomou na sociedade. Seria uma contribuição do Papa na tão discutida participação e lugar da mulher.
Ele inicia com o Papel da Santíssima Virgem, "a mulher encontra-se no coração deste evento salvífico". Retoma ao Genesis e a meditação Eva x Maria.
O capítulo que me parece mais importante é o "V - Jesus Cristo". Ele aborda as diversas interações de Jesus com mulheres e como as fez, onde e como estavam essas mulheres. Ao fazer isso acaba por mostrar o papel masculino de proteção quando a "mulher é deixada só, é exposta diante da opinião pública", quando ela paga sozinha erros que foram de dois (homem e mulher). O Papa salienta, reiteradamente, que tais ações são causadas pela queda, quando o homem abandona o seu papel de genuíno protetor é como uma repetição do que Adão fez no Éden. O Papa salienta que foram "reciprocamente confiados um ao outro como pessoas feitas a imagem e semelhança do próprio Deus".
O homem tem uma responsabilidade em relação à mulher. A dignidade da mulher depende primeiro da própria mulher, como sujeito responsável por si, mas é ao mesmo tempo dada ao homem como responsabilidade. "Cada homem deve olhar dentro de si e ver se aquela que lhe foi confiada como irmã na mesma humanidade ou como esposa, não se tenha tornado objeto de adultério no seu coração". Como se vê, o Papa é bem profundo ao explicar a que ponto vai a responsabilidade do homem para com cada uma de suas irmãs.
Depois o autor aprecia a fidelidade das mulheres diante da mensagem da Boa Nova e no Calvário. "Naquela que foi a mais dura prova da fé e da fidelidade, as mulheres demonstraram-se mais fortes que os apóstolos".
"Que se tornem profetas os vossos filhos e filhas". Profetizar é colocar em palavras as grandes obras do Senhor. A personalidade feminina toma a medida das grandes obras do Senhor.
Nos próximos capítulos o Papa passa a veicular de forma teológica, digamos assim, temas já abordados por Gertrude von Le Fort e Edith Stein. Parece realizar uma validação do pensamento destas autoras de meados da década de 50. Ele não as cita, o que pode ser questionável. Mas para quem as conhece fica nítido que o Papa parece endossar, com as ideias delas, o que seria ser uma filha de Deus que tem a personalidade do tamanho das grandes obras do Senhor.
Ao terminar o autor aponta uma porta que poderia ser a resposta para as diversas questões atuais sobre a mulher, a porta seria algo que ele chama de "sacerdócio real". Para cita-lo o Papa usa o trecho usado para orientar o sacerdócio comum dos leigos. Como é uma seta, carece de definição e constituição. Ao que parece é como se ele dissesse " a resposta talvez esteja por aqui, talvez seja bom olhar isso".
E termina a sua contribuição.
Na praxis o autor oferece bases teológicas para a ação feminina equilibrada que ele chama de sacerdócio real, talvez por seu alto nível de consagração e entrega, ele as protege dos que acreditam que sua participação não é da vontade de Deus e as afasta das falas revolucionárias. Ao mesmo tempo parece colocar nos ombros dos homens a responsabilidade de protege-las e também de deixar que elas existam como Deus quer que elas existam, tomando o papel de fortes protetores.
Encontre o livro aqui.
Sugestão de leitura adicional:
Virtudes de Nossa Senhora (aqui)