Estudiosidade 3: Saia das bolhas

by - julho 05, 2023



Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso, e devemos uns aos outros uma terrível lealdade. (G. K. Chesterton)




O mundo é feito de ciclos sociais. Normalmente, toda a nossa percepção de mundo está embasada numa visão a partir dos ciclos em que estamos inseridos. Dentro desses ciclos, existem outros tantos ciclos.

No entanto, na medida em que entramos num ciclo e nele ficamos placidamente, podemos desenvolver uma ‘cultura da bolha’. A internet, de modo geral, com seu algoritmo desenvolvido para apresentar mais do mesmo, aumentou essa dinâmica das bolhas, que nos fazem desenvolver uma série de pensamentos distantes da realidade.

A bolha é um micro mundo que, somado à tríade da mente revolucionária, pode gerar uma mentalidade completamente embasada no ‘eu acho’, ‘eu sinto’ ou ainda distorcer alguns bons textos ou santos conforme o seu desejo reinante. Afinal, como já vimos, o analfabetismo funcional gera uma interpretação de texto segundo o próprio umbigo, embasada simplesmente no gosto pessoal.


"O fato de um milhão de pessoas participarem dos mesmos vícios não os transformam em virtudes”. (Gustavo Corção)




Mas, voltemos às bolhas. De modo geral, é natural buscar a sua turma, querer ter um ciclo de amigos e brincar de ciranda cirandinha. Mas a verdade é que amigos são tesouros e que divergências são comuns, que a solidão é algo natural na vida intelectual, mesmo acompanhado, e que as bolhas são a miopia que o estudioso não quer.

Toda a vida de estudo se alicerça em buscar a Verdade e, para tal, é preciso desenvolver acuidade da mente e da alma. Ver as coisas, suas causas, seus efeitos, os pontos de bifurcação com outros pensamentos. Acuidade.

No entanto, se inserir cegamente em bolhas interneteiras ou sociais é pedir para ficar cego de mente e alma, simplesmente por reduzir a porção da realidade na qual você está inserido, isso quando não distorce a realidade em que está inserido.



Portanto, quanto mais distante das bolhas, melhor. Quanto mais inserido na realidade, melhor. Por isso, vale a pena considerar, a depender das condições, realizar durante a sua vida de estudo:
  • trabalhos voluntários em regiões distantes, difíceis e humildes ou até mesmo diferentes culturalmente;
  • visitar comunidades das mais variadas classes sociais (escolas, creches, orfanatos, asilos etc.), no seu estado e fora do seu estado, no seu país e fora do seu país;
  • visitar mosteiros de diferentes ordens, frequentar a missa em português, em latim, também no seu país e fora do seu país (na língua do local);
  • observar quais são os motivadores e dificuldades da vida das pessoas nessas ocasiões;
  • realizar trabalho braçal voluntário e trabalho intelectual voluntário - fora da sua casa, obviamente - e guardar o que vier dessas vivências.


Todas estas tarefas, exercitadas como um fio condutor para a realidade, fora da sua realidade habitual, durante a vida de estudo, mantêm a mente lúcida e longe de bolhas alienantes. Nos fazem enraizar-nos no conhecimento que adquirimos e aplicá-lo à realidade com mais assertividade.

De nada vale o estudo se nos afasta da realidade, se nos tira a capacidade de nos comunicarmos com as pessoas.

No entanto, já aviso, você se sentirá deslocado em todos estes lugares. Embora sejam coisas queridas e boas lições, talvez as mais importantes, você se sentirá deslocado simplesmente por conta da acuidade. Afinal, você está fazendo tais coisas para ‘ver melhor’. Não há com o que se preocupar, é um pouco incômodo, mas você se acostumará. Basta saber que essas lições são importantes e não podem ser postergadas.

É muito triste ver alguém tomado pela mentalidade revolucionária, até mesmo sem saber, dentro dos meios católicos, mas também é muito triste ver alguém com bons estudos se alienando por se acomodar na própria bolha. Isso pode ser inofensivo em outros casos, mas em quem tem vida de estudo é desastroso, seja qual for a bolha.




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1 comments

  1. Sempre muito assertiva é clara nas palavras. Sinto isso em alguns momentos, um certo deslocamento da consciência, como não pertencimento ao meio, porém, observando e meditando no que vejo.

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