Estudiosidade 4: Honestidade Intelectual
A honestidade é uma qualidade que revela dignidade e elevação de caráter, está ligada à honra. Esta se refere a ter uma postura virtuosa e corajosa.
A honestidade intelectual se trata dessa qualidade aplicada à área do estudo.
Não é difícil corromper-se nesta questão. A nossa própria cultura promove a aquisição de atos desonestos nos estudos e na área do conhecimento desde muito cedo. Por exemplo: uma pessoa diz uma resposta mais baixa e outra escuta e diz em voz alta, tomando todo o crédito; cópias de trabalhos e aulas feitas sem a devida prestação de respeito ao que serviu de referência; desrespeito aos professores; deturpar conceitos e ensinos antigos para o próprio benefício; mentir. Estes são alguns exemplos corriqueiros que ganham, comumente, o nome de ‘esperteza’, sendo, no entanto, desonestidade intelectual.
"São Tomás tinha tanta reverência pelos seus mestres que acabou herdando a sabedoria de todos"¹
A desonestidade gera uma série de visões ilusórias e cria uma realidade em que a cópia é tida por verdade. A base dessa desonestidade intelectual é um mimetismo doentio que busca, normalmente, aplausos. Quantas pessoas você já não viu que, ligando seu nome a determinado professor, quiseram com isso partilhar de sua fama e prestígio? Quantos, por outro lado, roubam as ideias de um professor menos conhecido, já que nenhuma valia teria ligar o próprio nome ao dele? Pois é, isso acontece com assombrosa frequência, e o dano não é ao professor, mas ao coitado que acredita que terá algum crescimento intelectual agindo assim com seus professores e amigos de estudos.
"O mau caráter age contra a natureza da razão, e com isso torna-se incapaz de perceber a hierarquia dos valores que devem reger as ações humanas" ²
Outra forma de desonestidade intelectual é a defesa de algo que a pessoa acredita ser falso como se fosse verdadeiro. Quando se procede assim, tomando por verdade o sabidamente falso ou o falso por verdadeiro, ocorrem vários níveis de fragmentação, e o estudo se torna não mais o caminho para a Verdade, mas antes uma ferramenta de ilusões e enganação.
"Desonestidade intelectual é fingir que sabe aquilo que você não sabe e que não sabe aquilo que sabe perfeitamente bem" ³.
Fingir saber aquilo que não se sabe”. Muito podemos refletir sobre a cultura atual em que dizer “não sei” é praticamente uma ofensa a si e ao próximo. Talvez por conta dessa onda de gurus que respondem sobre absolutamente tudo ou na determinação em criar uma autoimagem sem falhas, passamos a acreditar que é possível existir alguém que verdadeiramente sabe de tudo. Obviamente que isso é impossível, portanto, dizer “não sei te responder”, “não estudei isso, se falar algo será por intuição” é uma atitude honesta e de acordo com a verdade das coisas.
Entretanto, existe ainda outra modalidade sutil de desonestidade intelectual que também pode ser chamada de “falsa modéstia”, que é quando a pessoa sabe e finge que não sabe, como se isso lhe desse um acréscimo de humildade. Fingir-se de burro não é humildade, é falsidade.
Também por conta da nossa cultura, é comum que quem sabe perfeitamente alguma coisa corra o risco de ser taxado de soberbo. Enfim, é um dos pontos estranhos dessa “pátria educadora” que rejeita o conhecimento. Saber alguma coisa é ofensivo, principalmente se você sabe mais do que a sua profissão exige. Estudar coisas fora da alçada profissional não é visto com bons olhos, uma vez que a intenção é ser um bom cidadão e não “alguém que sabe alguma coisa”. Dessa forma, se torna tentador fingir que não sabe. Em alguns ambientes, isso se faz mais tentador que em outros. Afinal, existe uma cartela grande de pessoas que possui uma dificuldade de se relacionar com gente que estuda; elas se sentem desconfortáveis, intimidadas, diminuídas e muitas vezes ofendidas, simplesmente com a existência daquela pessoa que estuda. Mas não há o que fazer. Isso é um problema delas com elas mesmas e suas prioridades na vida. Não dá para interpretar uma falsa burrice e acabar fragmentando a si mesmo e a própria vocação por conta da suscetibilidade infundada dos outros.
Se você sabe, você sabe. Se não sabe, não sabe. E pronto.
Referências
1) NOUGUE, Carlos. "Introdução ao tomismo 1", 2017.
2) SILVEIRA, Sidney. O mau-carater e a filosofia em Cosmogonia da Desordem, 2021. Disponível em: https://amzn.to/3NT4GWq
3) CARVALHO, Olavo. Imbecil Coletivo, 2021. Disponível em: https://amzn.to/3rBodTV
1 comments
Sensacional
ResponderExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.