A Virtude da Simplicidade| Virtude do Mês de Agosto

by - agosto 15, 2023






Virtudes

"É sempre nas profundezas que se ocultam as grandes coisas.

A virtude tomada em seu conjunto é uma vida; cada virtude é um de seus órgãos. Cada uma possui sem dúvida suas belezas próprias, mas também se reveste da beleza de suas irmãs, em função da unidade da vida e da lei das permutas. Algumas, no entanto, participam desta vida de uma maneira mais próxima, mais ampla, mais contínua e mais indispensável; a vida, a própria vida, se move em cada parte do conjunto, mesmo na mais ínfima, mas não se estende e não brilha em cada uma dessas partes de maneira igual. 






Orgulho

O orgulho não é mais que um desvio de duas tendências legítimas:

- o sentimento de superioridade, busca pela primazia, será porventura o orgulho uma recordação de nossa grandeza originária? Seu erro seria então não estar mais dentro de seu contexto. Rei caído por sua falta, e orgulhoso sob seus farrapos, "um Deus caído que se recorda dos céus", assim nos apareceria o homem em sua tendência ao orgulho.

- ou desordem e vício, ao invés de ser a marca da coroa perdida, não seria porventura o estigma da revolta vencida?


"Sereis como deuses". 

A tensão teria sido assim transmitida ao sangue para turvá-lo. 

A humildade é a virtude encarregada de se opor a esses desvios. Ela é, portanto, verdade e justiça. Ela é verdade, e, enquanto tal, traça a regra de direção. Ela é justiça, e , enquanto tal, inclina a agir em conformidade com essa regra.

...a verdade reside na inteligência, enquanto a justiça, reside na vontade. Mas, dado que estas faculdades agem uma sobre a outra, todo desenvolvimento na luz aumenta a força da inclinação, e todo desenvolvimento na inclinação conduz a melhor busca e a melhor apreender os motivos e as regras da humildade. 

[Devemos buscar] colocá-las em situação mais favorável, ora, a situação mais favorável da inteligência é a convicção e a situação mais favorável da vontade é a propensão. 

A verdadeira noção desta virtude decorre dos nossos dogmas fundamentais e sua prática completa depende da graça, ela é portanto eminentemente sobrenatural. É necessário, no entanto, conceder um papel bastante amplo às faculdades naturais na aquisição da virtude.

A humildade visa regular e conservar a ordem em relação à estima pessoal e ao desejo de louvor.

Daí se vê que, em geral, nos adultos, a virtude será caracterizada pelo esforço. As virtudes sobrenaturais, não são feitas para deixar inativas as forças naturais, ou para substituí-las; mas para elevá-las, completá-las e sustentá-las. Elas as elevam à ordem sobrenatural por meio de sua presença; elas as completam e sustentam pelas graças atuais que atraem. 





A importância da convicção:

1) não é tão fácil determinar, mesmo teoricamente, o que é orgulho e o que é dignidade pessoal! O cuidado com a própria reputação, o dever de conservar a própria posição ou de defender as próprias ideias justas autorizam um grande número de atos, os quais espíritos mal informados tomam facilmente por orgulho. Quanto orgulho, inversamente, podem autorizar delicadas reservas!

2) ... na prática o discernimento se torna ainda mais difícil. Com efeito, nada é tão sedutor quanto o vício: ele se dissimula, se transforma, cresce e se estende de maneira lenta; quando abriu seu espaço, dificilmente o sentimos, e, quando o entrevemos, nós o desculpamos.

3) O orgulho inspira pouco horror. Sua feiura e sua malícia nos impressionam menos que a feiura e a malícia dos outros vícios. Seus perigos nos parecem ainda menos temíveis porque, entre os cristãos, o orgulho raramente constitui por si mesmo um pecado mortal, e, enfim porque poucos dentre nós levam este defeito ao extremo. E, no entanto, sua perniciosa influência é tamanha que os santos o chamam o pai de todos os outros. 


Como adquirir a virtude

1) Atos e atos... os atos generosos, são eles que se estabelecem na praça forte e aí fazem reinar a humildade. 

2)... nós possuímos o recurso inesgotável dos atos, seja interiores, seja exteriores, aos quais comandamos. 

3) as demonstrações exteriores não devem ser negligenciadas (a atitude curvada de um suplicante, as vezes beijar a terra...)


Graças a todos esses meios longamente empregados, a inclinação não é mais um simples assentimento da inteligência à verdade, uma simples determinação da vontade à justiça: ela é esse assentimento e essa determinação convertidos em hábito, fixados no seio de nossas potências desenvolvidas e fortalecidas. Trata-se de força permanente que confere a facilidade, o movimento, e até mesmo o gosto; pois é da natureza de toda força impelir à ação e encontrar um certo desfrute em seu livre exercício. 


Influência geral

A humildade é verdade e justiça. A verdade ilumina toda a ordem intelectual e a justiça domina toda a ordem moral. 

A verdade conduz ao belo e a justiça ao bem. Ao afirmar o dever a justiça faz da verdade uma virtude moral. O dever se sintetiza na submissão universal, esta é a aceitação da leis de Deus e a fidelidade a todas as inspirações. Por ela Deus passa em nossos atos e os conduz para Ele, realizando, assim, toda a justiça. 

A humildade abre de maneira mais ampla o caminho em direção ao perfeito.


Por fim...

Às duas tendências que a humildade tem o encargo de regular e de conduzir (a estima por si e o desejo da glória)... apresentemos-lhes objetos mais nobres a alcançar, aprovações mais deliciosas a conquistar: este ímpeto sublime os afastará ainda mais de todo orgulho. Admirável educação a buscar! Todas as verdades religiosas, todos os sentimentos piedosos, todas as graças do alto emprestarão conjuntamente sua assistência a esta obra que coroará a humildade. Sendo mais bela esta virtude encantará o coração de Deus; sendo mais penetrante, conferirá ao nosso uma paz divina, e talvez até mesmo alegrias desconhecidas".¹





Admirável Educação


A humildade, a simplicidade, não é o mesmo que mediocridade. A humildade não é uma virtude contraria à magnanimidade (grandeza), que também é uma virtude. Infelizmente, na conjuntura brasileira, estas duas virtudes são colocados como rivais. Na educação religiosa frequentemente existe uma preocupação maior em sufocar um possível orgulho a encorajar boas práticas ou bons propósitos e projetos. Perdemos muito com uma educação religiosa não encorajadora. Pessoalmente, vi somente um encorajamento na minha vida de fé, foi de um padre americano, ele disse "beautiful, beautiful" ao ver uma das moças usando o véu na fila de comunhão e o padre ao lado nos recebeu com um sorriso. Foi a única vez que vi um encorajamento assim. Bem... e ao mesmo tempo todos estão interessadíssimos nos jovens e em receber a todos... sem encorajar ninguém...


"O encorajamento inspira as pessoas a usarem as suas capacidades, a lapidarem seus talentos e a usarem mais dos seus recursos físicos e mentais. Mas para tal é preciso acreditar que as pessoas podem fazer e ser mais. Acreditar que todos são repletos de talentos e graças.


Quanto não se perde por um professor que não acredita no potencial dos próprios alunos e lhes oferece uma abordagem baixa pois "afinal eles não vão entender", quanto não perde um padre que por não acreditar no potencial do povo (e na ação da Graça) faz uma homilia sem preparo, utiliza termos de programas matinais da TV e não utiliza nem mesmo 1% do que aprendeu em 7 ou 10 anos de seminário, pois "afinal, eles não vão entender".

Quanto não se perde com essa visão derrotada, desencorajadora e cômoda."²

Devidamente encorajados seremos capazes de cumprir a nossa verdadeira e radical missão (e dever) de louvar a Deus e viver a virtude da grandeza e da humildade características dos Filhos de Deus:

"Há uma pequena parcela de martírio na vida de cada pessoa que se compromete a seguir a Cristo; que procura, dia após dia, viver com fidelidade... muitas vezes, é mais fácil morrer por Cristo, do que viver por Ele.

O verdadeiro zelo, porém, não se limita às orações. São as nossas ações que evidenciam, com mais clareza, o nosso zelo. Há muita coisa que podemos fazer por Deus, se prezamos verdadeiramente os Seus interesses.

As tentações contra a Fé mais frequentemente fatais são as originadas por conflitos morais, mais do que por obstáculos de doutrina." ³



Referências:


1) BEAUDENOM, L. A Formação para a Humildade, 2023. 17-30 p. Disponível em: https://amzn.to/3YCaMzt.

2) LOVASIK, L. O poder oculto da amabilidade. Cultor de Livros, 2022. 256 p. Disponível em: https://amzn.to/44cbHb4.

3) TRESE, L. Dizer sim a Deus e não a mediocridade. Cultor de Livros, 2015. 140 p. Disponível em: https://amzn.to/3DYpzuY.

You May Also Like

0 comments

Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.