A Crise Comportamental da Igreja e a Maternidade Espiritual

by - outubro 13, 2023





Primeira versão deste texto: 27/03/2017
Segunda versão: 06/10/2023




"Ponde as vestes e chorai, sacerdotes, gemei, ministros do altar. Entrai no templo, deitai-vos em sacos, ministros de Deus; a casa de vosso Deus está vazia de oblações e libações.

Prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia, congregai os anciãos e toda a gente do povo na casa do Senhor, vosso Deus, e clamai ao Senhor: “Ai de nós neste dia! O dia do Senhor está às portas, está chegando com a força devastadora da tempestade.

Tocai trombeta em Sião, gritai alerta em meu santo monte; tremam os habitantes da terra, pois está chegando o dia do Senhor, ele está às portas. É um dia de escuridão fechada, dia de nuvens e remoinhos; como aurora espraiada nos montes, assim é um povo numeroso e forte, tal como jamais se viu algum outro nem jamais se verá, até os anos de gerações futuras” (Joel 1, 13-15; 2, 1-2).


Introdução 


Encontrei em 2017 uma orientação, em forma de livreto, da Congregatio pro Clericis, chamada Adoração Eucarística pela Santificação dos Sacerdotes e Maternidade Espiritual, reeditada em 2007 (disponível aqui)

Trata-se de um texto em que a Congregação para o Clero estimula a Adoração Eucarística nas Paróquias e uma ação, dos leigos, consagrados e religiosos, "como que em maternidade sacerdotal."

Além disso o texto explica vários aspectos da relação entre a Eucaristia e as vocações: a Eucaristia não se faz presente sem um padre e o padre não existiria se não fosse a Eucaristia. Uma interessante e maravilhosa relação. Por isso, não causa espanto ser a Adoração ao Santíssimo Sacramento a melhor via de santificação do clero e o adubo da vinha do Senhor para gerar vocações. 


Assim temos, as mulheres (a exemplo de Maria que é Mãe) e a Igreja (que é formada por cada um de nós), a vocação da Maternidade Sacerdotal. 

No entanto, a forma de exercer esta maternidade pode ser melhor entendida com exemplos. Exemplos de veneráveis leigas. Estas almas luminosas poderão nos apontar como ajudar o clero. Assim, visando este objetivo tão simples e eficaz, lhes apresento esta temática que se desdobrará em 3 partes. Espero que possa lhe orientar na realização da sua pequena e luminosa parte na messe do Senhor. 

Eis a cruz do Senhor! +
Fugi forças inimigas! +
Venceu o Leão de Judá, +
A raiz de David! Aleluia !

São Natanael, rogai por nós.





Primeira Parte: Os padres são pessoas


Nós não devemos abraçar o atual silêncio sepulcral que acometeu a Igreja na América do Sul. Este silêncio que não encoraja a virtude e não corrige o erro, é extremamente danoso e tem feito muitas almas morrerem em vida. Assim, tal proposta não se trata de um convite a cercar os padres com uma redoma, como as mães que não veem bem as mazelas dos próprios filhos; no entanto, também não se trata de criar em nós uma mãe muito dedicada a ver as falhas, ao ponto de ser alguém que só vê defeitos, minimizando o poder de crescimento dos próprios filhos e ação de Deus neles.

Eu sei, é estranho encarar o lado humano do padre. No entanto, tenho uma séria convicção, de que a crise atual é uma crise comportamental, uma crise humana. 

Os padres vieram do povo. Se eles não estão cumprindo o que deveriam, talvez seja porque o povo, também não está cumprindo o que deveria. O padre vem do povo. 

A crise é uma crise familiar. A Igreja é uma família e se comporta como uma família, uma família um tanto monárquica ou, no mínimo, aristocrática. Isso não é um defeito. A Igreja é uma das últimas monarquias do mundo, uma monarquia que funciona melhor que outras ainda existentes. No entanto, assim como em qualquer família atual, os filhos não entendem os pais e os pais não entendem os filhos. Somado a isso, existe a tendência de escutar mais a uns que a outros, o que gera a nítida percepção de certa preferência por parte dos padres, bispos e etc; para um determinado grupo, que normalmente reflete muito dele mesmo e suas convicções. 

Essa família enorme, tem uma dinâmica de funcionamento comportamental que difere de país para país, embora alguns se pareçam. Por exemplo, os EUA é similar a Europa e os países da América do Sul se parecem, um pouco. No entanto, o Brasil possui alguns aspectos que devem ser considerados por alguém que deseja rezar pelo clero com clareza sincera do estado comportamental real da hierarquia em seu país. 

Visando, portanto, ver com clareza tanto a bondade quanto a rudeza, abordarei alguns pontos comportamentais presentes em todo território brasileiro, coletados desde 2017. Espero poder contribuir para que a sua maternidade seja salutar: hora defendendo, hora empurrando, hora combatendo.



"O Sr. Cura Chelan viu nas suas maneiras um certo ar mundano bem diferente do que deveria animar um jovem levita.

- Meu amigo- disse-lhe ainda - seja um bom burguês, estimável e instruído, antes que um padre sem vocação.

Julian respondeu muito bem, quanto as palavras, a essas novas advertências: encontrava as palavras que um jovem seminarista fervoroso teria empregado; mas o tom com que eram pronunciadas e o ardor mal dissimulado que lhe lampejava nos olhos alarmaram o Cura Chelan." (Sthendhal, O Vermelho e Negro).



Segunda Parte: Crise comportamental



I- Qualidade das pessoas


Bem, você provavelmente sabe que não é a melhor versão da humanidade. Esta convicção moderna de que somos a melhor geração humana que já passou pela terra é o disparate mais amado atualmente. Seja na questão comportamental como intelectual nós somos realmente um tanto atormentados. 

Atormentados. Talvez seja esta a melhor definição para a realidade atual. Nós não somos de "alta qualidade". A maior parte de nós não consegue entender bem um texto, temos déficits formativos significativos e vivemos numa cultura que nos deu um espelho distorcido do que é ser brasileiro. Você, provavelmente, já sabe tudo isso. Mas frequentemente nos esquecemos que os padres também saíram desse mesmo lugar e infelizmente o seminário não dá conta, ou não fornece, os meios para suprir tantas coisas; assim como a nossa formação universitária não deu conta, ou não nos forneceu, o meio para suprirmos as nossas defasagens de formação. Nós é que fomos atrás disso ou não. 

Eu sei, gera certa revolta perceber isso, nós fomos ensinados a ver certas funções como extremamente sábias e o clero sempre esteve, desde que o Ocidente foi erigido pela Igreja, no topo do ensino, no topo do saber. Acontece que, agora, temos o slogan mas não o conteúdo. Afinal, nós o povo, não somos de tão alta qualidade assim para gerarmos padres de qualidade incrível. 

Existe o "ruim, o bacana, o joia e o incrível" no que se refere a formação humana, doutrinal e espiritual. E apesar dos pesares existe no país uma porcentagem enorme de gente bacana e joia, existe também um número grande de padres bacanas ou joias. E isso é muito bom. É bom ser incrível, mas nem sempre é possível, então ser joia é o suficiente para fazer uma função bem. 

Mas se existem tantos padres bons, o que acontece? Bem, é o mesmo que acontece com o povo. Respira fundo, fique calmo aconteça o que acontecer ao ler o nome... respira, lá vai: covardia. 



II- Covardia


Este comportamento é alimentado nos católicos brasileiros há décadas. É um mal que atinge boa gente. Passamos a pensar de uma forma e agir ou calar diante do que não é compatível com que acreditamos. Um silêncio sepulcral é um dos sinais da covardia. Não é o silêncio reflexivo, nem mesmo educativo, é o silêncio que permite o erro e desencoraja a virtude. Isto está presente no povo, está presente no clero e neste caso se torna difícil descobrir quem nasceu primeiro. No entanto, ainda mantenho a perspectiva de que nasceu no povo. 

Veja bem, primeiro aconteceu a separação entre espiritual e material após a Idade Média, depois aconteceu a separação da Ética e da Política, o resultado desta ultima separação foi a divisão entre "foro interno" e "foro externo", que possibilitou a seguinte frase "eu pessoalmente penso assim" mas publicamente votam e agem de outra forma, tal atitude passou a ser vista como um "justo meio"; algo que é solenemente contra a Virtude da Verdade. As leis morais não obrigam mais externamente apenas internamente, é por isso que a maior parte dos padres não falam sobre a moral (e depois querem que as pessoas entendam a necessidade de se respeitar um bebê na barriga... sendo que não respeitam nem o que veem; ou que os jovens vivam a castidade sem cuidar das outras virtudes filhas da Temperança). Isso aconteceu para tornar possível a premissa do Estado de não interferir na vida privada, enquanto o individuo, em troca, não expressa as opiniões da sua consciência. Talvez esta dinâmica tenha se infiltrado na Igreja em algum momento. 

No período do barroco ainda se mantinha o princípio que " o melhor interprete da lei é o costume", a consciência individual tinha a sua autonomia e campo de atuação, no entanto, instalou-se uma desconfiança da consciência. Foi preciso amordaçar as percepções individuais. Seja na política, na sociologia ou na religião vemos uma onda de mordaças. Quando não temos autonomia da consciência se torna fácil surgir pessoas sem remorso de consciência. As mordaças de consciência são aplicadas de diversas formas, algumas são:
 
- a cultura do cancelamento, que surgiu na ala da esquerda que diz defender a liberdade de expressão; 
- nas boas condutas politicas que são vistas como o suprassumo da cidadania e ao mesmo tempo retira a possibilidade de uma abordagem religiosa das questões, 
-a religião se tornou algo do foro interno, existe uma vigência instalada e velada para não expressão da religião católica, principalmente. 
-a civilização, a partir do iluminismo, não é mais "a civilização cristã", se torna a "civilização ocidental". Foi preciso desatar a sociedade da Igreja e depois de Deus. 

A moral cristã, que é embasada no encorajamento da virtude, foi substituída pela moral republicana em que o parâmetro é ser "um bom cidadão", ficar na sua e obedecer bem o Estado, independente da sua consciência. É a propaganda da falsa bondade, geradora de diversas frentes ideológicas dentro da Igreja. Essa falsa bondade, não incentiva a Virtude, no entanto, a Virtude é a força de fibra da alma. O "tipo católico" se forma com o treino nas Virtudes. Sem este treinamento a alma se torna covarde. Veja, todos somos covardes em alguma coisa, não há dúvidas. Mas infelizmente temos um estado covarde que tomou conta do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja (mais sobre em Alienação e Intolerância). 



III- Narcisismo


Este comportamento pode ser visto com facilidade no povo. Nós somos um povo extremamente auto centrado. A modernidade e a internet favorecem a auto centralização, tudo se trata da pessoa, mesmo que não tenha relação com ela. Somos um povo sensível e dedicado à pratica de se sentir ofendido. Como vimos, isto é resultado da falta do ensino moral que nasceu da separação entre "foro interno" e "foro externo".

Tudo é resultado desta mesma coisa, desde uma interpretação de texto segundo o próprio umbigo até a uma batalha de umbigos, de egos, nas paróquias e no clero. Neste contexto os cargos tomam uma função importante, e encontrar alguém tão bom ou melhor se tornou uma situação incômoda e ofensiva. Uma batalha de umbigos, de egos; que surge quando a formação humana não é bem realizada, somada a uma redoma de proteção encontrada nos cargos e nos ofícios de visibilidade. 



IV- Desencorajamento


A educação nas virtudes é encorajadora. Mas o silêncio sepulcral gera uma educação do desencorajamento. É comum encontrarmos pessoas que são responsáveis por educar que não acreditam no potencial do povo. Muitos padres e catequistas pensam "eles não vão entender". Bem, é a crença de que o povo é burro... sendo que eles próprios vieram do povo, veja bem. Tal convicção negativa impede ao povo o acesso às riquezas da Igreja, principalmente as crianças e jovens que crescem sem conhecer minimamente, por exemplo, a História da própria Igreja, sobre Arte Sacra ou sobre Arqueologia existindo em muitas dioceses padres bacanas, joias e até mesmo incríveis com mestrado em tais áreas. Não lhe parece que existe algo errado? 


V- Abuso de Autoridade


A Igreja não é uma democracia. A Igreja é uma monarquia, uma das últimas monarquias do mundo. No entanto, devemos também lembrarmo-nos que a monarquia é o governo de um só, no nosso caso Jesus Cristo, o Papa é seu representante na Terra, o Vigário de Cristo, o Pároco, digamos assim, o Sacerdote dos sacerdotes, é Cristo. Também é importante lembrarmo-nos, com frequência, que a deturpação de uma governança monárquica é o totalitarismo. O totalitarismo, também é um governo de um só, mas não possui os padrões morais da monarquia, que visa servir o povo, devotando a vida num serviço pelos demais e o crescimento dos mesmos; o totalitarismo visa somente o poder pelo poder da pessoa que esta a mandar. Como vê, é um diferença gritante (mais sobre em Doutrina Social da Igreja _ Introdução).

O abuso de autoridade no ambiente eclesial é o fruto de uma forma de governança totalitária, que não visa o bem espiritual e moral do povo, mas somente ser obedecido numa insana paixão pelo próprio cargo. Isso acontece seja entre leigos, seja entre padres e bispos. 

Como tal abuso advém do ego, da instância pessoal, normalmente, está fortemente entrelaçado às ideias pré-concebidas que o sujeito em questão tem sobre: religiosidade, piedade e vida espiritual. No entanto, como a vida espiritual da Igreja Católica é riquíssima, esta mesma pessoa, ao se deparar com um traço de piedade que não lhe agrada passa a munir-se de todas as armas em prol de extirpar aquilo que considera estranho. Quanto maior a autoridade maior e mais potente é o tiro.


O segundo resultado são as farpas disparadas do púlpito. Munidos do escudo do microfone, tornam o momento de catequese da Santa Missa em uma sessão de disparos que não encorajam o virtuoso, nem o bom, o belo e o justo.


O comportamento totalitário eclesial surgiu com a infiltração da mentalidade revolucionário dentro do clero brasileiro. Não existe outra forma de governo para uma mente revolucionária. E como existe uma aparente semelhança com a monarquia, todos passaram a acreditar que este silêncio sepulcral reinante é o normal, passando, assim a fazer parte do comportamento até mesmo dos bons. 


VI- Incompetência


Existem poucas funções no mundo em que o sujeito pode ser incompetente sem que lhe aconteça alguma coisa. Na Igreja atual todas as funções admitem incompetência, desde um canto sem talento, mundano ou protestantizado, até um padre que não prepara a homilia ou que é versado em abusos litúrgicos grotescos ou suaves como músicas a todo momento da Missa. Isso tudo pode ser exercido sem a devida advertência por parte dos superiores, os bispos (isso também é falta de competência). O resultado é que vivemos num ciclo de funções não executadas ou mal executadas. E ninguém faz nada, principalmente, porque acreditam que isso é caridade. Uma falsa caridade que para preservar o ego de um acabada destruindo as almas de muitos.


Veja bem, a maioria dos padres não frequenta outras Missas senão a que eles mesmos celebram, os bispos, idem. Nunca ouvi sobre um bispo que se vestisse a paisana e assistisse as Missas celebradas, como um fiel... se fizessem veriam muito abuso e teriam como corrigir. No entanto, nada disso acontece, o clero bom (no entanto, covarde) não tem a menor ideia do que o povo, de verdade, vê e escuta dos padres. Eles imaginam que a situação não é assim tão ruim quanto pintam. No entanto, é pavorosa. É importante lembrar-se disso: a maior parte dos padres bons está numa redoma criada por eles mesmos; a paróquia gira em torno dele, isso impossibilita que ele tenha uma real visão da realidade, exceto se ele buscar frequentar as Missas pavorosas que somos obrigados a tolerar. É por isso que quando você conta a algum deles sobre os fatos das Missas, eles dizem para que você mude de igreja, ou seja, na mentalidade do clero atual é o povo que tem que se virar, os padres não precisam mudar, nem receber advertência, nem mesmo estudar. "Eles que se virem" é o que está por trás da resposta de padres bons, perceba, assim ele não se compromete com a Hierarquia. 



A incompetência também é incentivada pelo simples fato do padre não ler livros católicos. Acredite, não são somente os leigos que estão a descobrir clássicos da literatura católica, muitos padres também estão. Os seminários e a faculdade de teologia incentivam muito a leitura protestante e de autores de ciências da religião, é ainda muito raro o uso somente de autores católicos. São poucos os seminários que estudam São Tomás, por exemplo. Então o recém ordenado tem uma carga grande de material para estudar, mas isso fica um tanto solto, como ele não receberá nenhuma advertência se ele vir a ser incompetente alguns deixam de estudar solenemente e se tornam replicadores de frases de programas matinais de TV, isso é muito comum em padres que se ordenaram nos anos 90. 




VII- Discrepâncias Contextuais


É claro que todos estes aspectos alteram a acuidade intelectual, gerando o fruto das discrepâncias contextuais. Por exemplo, um padre que diz que todos os caminhos vão para o Céu e dois minutos depois reza por missionários, esta em uma discrepância contextual, missionários existem justamente por existir só Um caminho; se todos os caminhos vão para o Céu nós não precisamos de Igreja, nem de Padre, muito menos de missionários. As discrepâncias contextuais, mesmo quando não notadas, semeiam as sementes que já germinam em muitos corações: desesperança.


Outro exemplo, é a abertura ao diálogo, essa abertura, na verdade, não existe. Pelos motivos já citados. É uma grande farsa. Salvo alguns padres que se abrem para escutar, mesmo que só pare no "escutar", já que a regra do silêncio os impede de tomar lados; a ação toda pró dialogo é uma farsa, exceto que seja considerado a escuta somente de alguns grupos e algumas espiritualidades. Realmente, existem grupos que precisam ser mais atendidos, mais escutados e a tensão entre os grupos sempre existirá. Mas o que estou a dizer é que a história de escutar a todos é, até o momento, falsa. Por exemplo, quantos retiros de silêncio existem neste país com extensões continentais? Bem, cabe em uma mão no máximo. Isso é um sinal latente do que escrevo. Mas outras vertentes que propagam o oposto são fortemente apoiadas. 

Os mais escutados, no entanto, são os grupos que estão alinhados com as pautas politizadas aprovadas pelo Colégio, que também tem seu grupo, como todos sabem, esses grupos alinhados são representados na grande mesa chamada sinodalidade. Que, por sua vez, ninguém sabe o que é, nem mesmo os padres. Depois de anos notaram que "sinodalidade" não tem definição, é um troço estranho que ninguém sabe o que é, nem para onde vai. Um híbrido estranho e disforme, que diz escutar a todos, mas na prática, renegou ao esquecimento um grupo inteiro de fiéis por desejarem ver a Igreja Católica Apostólica Romana e não a pauta tal ou nem mesmo o grupo espiritual tal.  Uma sinodalidade que nasceu alicerçada na exclusão totalitária dos filhos da Igreja que só querem o silêncio, a oração, a Igreja, sua Tradição e Doutrina. Nada mais. 


No entanto, não podemos esquecer: nosso Deus é Onipotente. E muitas vezes já resgatou a Igreja dos atos de seus membros. É por esta razão que acredito fortemente que cada leigo e padre, por si, deva defender o que acredita, fortemente e cordialmente. Se venceu a covardia, claro. Recentemente, escrevi sobre a falta de coragem dos leigos de escreverem para seus bispos. A escrita não visa uma resposta imediata e paternal, embora seja o correto a esperar. Antes visa primeiro combater em nós essa covardia desgraçada que se impregnou nos membros da Igreja, romper esse silêncio sepulcral que permite aos padres renegar um grupo inteiro de fiéis sem peso na consciência e se enveredarem em abusos barulhentos ou ideologias, nos permite também ter prova diante dos Céus e dos homens que nós pedimos aos responsáveis por nossas almas e eles não atenderam, nos deixando morrer na inanição de silêncio, de oração e da riqueza da Tradição Católica. Por isso, incentivo que escrevam e rezem, rezem e escrevam; as cartas enviadas ao Colégio se não forem acolhidas pelos bispos serão por Nosso Senhor e nós teremos o Céu por testemunha. Que nossa oração no silêncio não seja desculpa para covardia.


"Estava mergulhado nessa corrente com seu silêncio, como pedra em meio à correnteza. " (Dobraczynski, A sombra do Pai)



Exemplos Virtuosos de Maternidade Espiritual




Beata Alexandrina Balasar


O Inferno não!

Alexandrina da Costa, beatificada aos 25 de abril de 2004, demonstra de maneira impressionante a força transformadora e os efeitos visíveis do sacrifício de uma jovem doente e abandonada.


Jesus se havia dirigido a ela com estas palavras: “Minha filha, em Lisboa vive um sacerdote que corre o risco de se condenar eternamente; ele me ofende de maneira grave. Chama o teu padre espiritual e pede-lhe a autorização para que eu te faça sofrer particularmente, durante a paixão, por aquela alma”.


Recebida a licença de Padre Pinho, Alexandrina sofreu muitíssimo. Sentia o peso dos pecados daquele sacerdote, que não queria mais saber de Deus e estava prestes a se danar. A coitada vivia em seu corpo o estado infernal em que se encontrava o sacerdote e suplicava: “Não, no inferno não! Ofereço-me em holocausto por ele até quando Tu quiseres”. Ela chegou a ouvir o nome e o sobrenome do sacerdote.


Padre Pinho quis então indagar junto ao cardeal de Lisboa para saber se naquele momento algum sacerdote estivesse lhe dando muitos desgostos. O cardeal confirmou com sinceridade que de fato havia um sacerdote que o preocupava; o nome que pronunciou era exatamente o mesmo que Jesus dissera para Alexandrina.


Alguns meses mais tarde foi referido a Padre Pinho, por parte de um amigo sacerdote, Padre David Novais, um evento especial. Padre David acabara de dar um curso de exercícios espirituais em Fátima, ao qual também havia participado um senhor muito discreto que todos haviam notado pelo seu comportamento exemplar. Este homem, no último dia dos exercícios, sofreu um ataque de coração; foi chamado um sacerdote e ele pôde confessar-se e receber a Comunhão. Pouco depois falecia, reconciliado com Deus.

Descobriu-se que aquele senhor, vestindo roupas leigas, era um sacerdote e era exatamente aquele pelo qual Alexandrina tanto havia lutado.






O preço para um sacerdote santo







Berthe durante cada Santa Missa rezava pelo celebrante: “Meu Jesus, faze com que o teu sacerdote não Te cause desgostos!”.


Ela queria a vida religiosa, mas seu diretor disse que sua missão era ficar em casa e cuidar dos pais, ela obedeceu mas pediu a Nossa Senhora que em seu lugar fosse escolhido alguém para ser um sacerdote santo e zeloso.


O que ela não podia prever aconteceu 16 dias mais tarde: um jovem advogado de 22 anos, o dr. Louis Decorsant, estava rezando frente a uma estátua de Nossa Senhora das Dores. De repente e inesperadamente, ele teve a certeza de que sua vocação não era casar com a moça que amava e exercer a profissão de tabelião. Compreendeu com clareza que Deus o chamava ao sacerdócio. Essa chamada foi tão clara e insistente que ele não hesitou nem um instante em abandonar tudo. Após os estudos em Roma, onde havia terminado seu doutorado, foi ordenado sacerdote em 1893. Berthe tinha então 22 anos.

Nesse mesmo ano o jovem sacerdote, com 27 anos, celebrou a Santa Missa da meia noite num subúrbio de Paris. Esse fato é importante porque na mesma hora Berthe, assistindo à Santa Missa da meia noite em outra paróquia, prometia solenemente ao Senhor: “Jesus, quero ser um holocausto para os sacerdotes, para todos os sacerdotes, mas de modo especial para o sacerdote da minha vida”. Quando foi exposto o Santíssimo, a jovem viu de repente uma grande cruz com Jesus e aos seus pés Maria e João. Ela ouviu as seguintes palavras: “O teu sacrifício foi aceito, a tua súplica atendida. Eis o teu sacerdote... Um dia o conhecerás”. Berthe viu que os traços do rosto de João assumiram os de um sacerdote a ela desconhecido. Tratava-se do reverendo Decorsant, mas ela o encontraria somente em 1908, ou seja 15 anos depois, reconhecendo seu rosto.

O Reverendo Decorsant fez uma peregrinação à Lourdes para confiar à Nossa Senhora seu futuro de sacerdote. Carregando suas bagagens encontrou Berthe e sua amiga. Convidou-as para a Santa Missa. Enquanto Padre Decorsant elevava a hóstia, Jesus disse a Berthe no seu íntimo: “Este é o sacerdote para o qual aceitei teu sacrifício”.

Berthe revelou ao Padre Decorsant sua vida espiritual e sua missão para a Consagração ao Coração Doloroso e Imaculado de Maria. Ele, de sua parte, compreendeu que essa alma preciosa havia-lhe sido confiada por Deus. Aceitou ser transferido para Bélgica e tornou-se para Berthe Petit (mística belga) um santo diretor espiritual e um apoio incansável para a realização de sua missão. Sendo um excelente teólogo foi um mediador ideal com a hierarquia eclesiástica em Roma.




Berthe participou do Congresso Eucarístico de 1912 em Viena, presidido pelo imperador da Áustria-Hungria. Em 12 de setembro, imediatamente após a comunhão, ela recebeu uma profecia de que o herdeiro do imperador seria morto, o primeiro de uma cadeia de eventos "dolorosos, mas úteis" para o propósito de Deus; isso ficaria claro quando o arquiduque Francisco Fernando foi assassinado em 28 de junho de 1914. Após o início da Primeira Guerra Mundial, Berthe pôde viajar para a Suíça em 18 de julho de 1914, mas não podendo retornar à Bélgica, permaneceu na Suíça pelo resto da guerra. O reverendo Decorsant pôde transmitir uma mensagem, através do Cardeal Mercier, ao recém-eleito Papa Bento XV, que em maio de 1915 terminou uma carta aos bispos do mundo com uma recomendação para buscar a intercessão do "Coração Doloroso e Imaculado de Maria" ('Cuore addolorato ed immacolato di Maria'). O cardeal Bourne de Westminster se interessou particularmente pelas revelações de Berthe e liderou quatro atos de consagração ao Doloroso e Imaculado Coração de Maria na Inglaterra entre 1917 e 1919.

Em 1919, Berthe pôde retornar à Bélgica; no mesmo ano, ela recebeu uma profecia de um futuro conflito com nações cada vez mais divididas. Em 1927, Berthe mudou-se para Uccle quando ficou claro que sua residência pré-guerra não poderia ser restaurada. Entre 1919 e 1942, Berthe relatou várias profecias de nações sendo tentadas pelo orgulho e pelo poder; Itália e Alemanha foram mencionadas nominalmente. Em 24 de janeiro de 1940, ela falou da invasão da Bélgica com surpreendente rapidez - o que aconteceu em 10 de maio do mesmo ano.

Em 1943, Berthe tornou-se cada vez mais frágil, e recebeu o sacramento da extrema unção no domingo, 21 de março. Ela morreu por volta das 6h de sexta-feira, 26 de março, e durante três dias peregrinos se reuniram em seu leito de morte para rezar perto de seu corpo. Ela foi enterrada no adro da igreja em Louvignies, Hainaut.




Venerável Conchita


Jesus uma vez explicou para Conchita:

“Existem almas que receberam uma unção através da ordenação sacerdotal. Porém há também almas sacerdotais que têm uma vocação sem ter a dignidade ou a ordenação sacerdotal. Elas se oferecem em união comigo... Essas almas ajudam espiritualmente a Igreja de maneira poderosa. Tu serás mãe de um grande número de filhos espirituais, mas eles custarão ao teu coração como mil martírios. Oferece-te como holocausto, une-te ao meu sacrifício para obter as graças para eles” ...

“Desejaria voltar a este mundo...nos meus sacerdotes. Desejaria renovar o mundo, revelando-me neles e dar um impulso forte à minha Igreja, derramando o Espírito Santo sobre os meus sacerdotes como num novo Pentecostes”.

“A Igreja e o mundo necessitam de um novo Pentecostes, um Pentecostes sacerdotal, interior”.


Quando jovem Conchita rezava com frequência frente ao Santíssimo: “Senhor, sinto-me incapaz de te amar, portanto quero casar. Doa-me muitos filhos para que eles possam te amar mais do eu sou capaz.”.

De seu casamento muito feliz nasceram nove filhos, duas mulheres e sete homens. Ela os consagrou todos a Nossa Senhora: “Entrego-os completamente a Ti como se fossem teus filhos. Tu sabes que eu não os sei educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas Tu, Tu o sabes”. Conchita viu morrer quatro de seus filhos e todos tiveram uma morte santa.

Conchita foi realmente mãe espiritual para o sacerdócio de um de seus filhos; e sobre ele escreveu: “Manuel nasceu na mesma hora em que morreu Padre José Camacho. Quando ouvi a notícia, roguei a Deus que meu filho pudesse substituir este sacerdote no altar. Desde quando o pequeno Manuel começou a falar, rezamos juntos para a grande graça da vocação ao sacerdócio... No dia de sua primeira Comunhão e em todas as festas importantes renovei a súplica... Aos dezessete anos entrou na Companhia de Jesus”.


Em 1906 da Espanha, onde estava, Manuel (nascido em 1889 e terceiro filho por idade) comunicou-lhe sua decisão de se tornar sacerdote e ela lhe escreveu: “Doa-te ao Senhor com todo o coração sem nunca negar-te! Esquece as criaturas e principalmente esquece a ti mesmo! Não posso imaginar um consagrado que não seja um santo. Não é possível doar-se a Deus pela metade. Procura ser generoso com Ele!”.




Em 1914 Conchita encontrou Manuel na Espanha pela última vez, porque ele não voltou nunca mais ao México. Naquela época o filho lhe escreveu: “Minha querida, pequena mãe, me indicaste o caminho. Tive a sorte, desde pequeno, de ouvir de teus lábios a doutrina salutar e exigente da cruz. Agora queria pô-la em prática”.

A mãe também experimentou a dor da renúncia: “Levei tua carta frente ao tabernáculo e disse ao Senhor que aceito com toda minha alma esse sacrifício. No dia seguinte coloquei a carta no meu peito enquanto recebia a Santa Comunhão para renovar o sacrifício total”.





Dá-nos Padres


Durante a perseguição comunista, Anna Stang sofreu muito e, como tantas outras mulheres em suas condições, ofereceu seus sofrimentos aos sacerdotes. Na velhice tornou-se, ela mesma, uma pessoa com espírito sacerdotal.

Com apenas dezessete anos, cuidou dos irmãos e das irmãs menores mas:

“…nosso pároco também morreu naquela época e muitos sacerdotes foram presos. Assim ficamos sem pastores! Isso foi um duro golpe. A Igreja na paróquia vizinha ainda estava aberta, mas ali também não havia nem um sacerdote. Os fiéis reuniam-se assim mesmo para rezar, mas sem o pastor a igreja estava abandonada. Eu chorava e não conseguia me acalmar. Quantos cantos, quantas preces a haviam enchido e agora tudo parecia morto”.

Depois dessa escola de profundo sofrimento espiritual, Anna começou a rezar de modo especial para os sacerdotes e missionários. “Senhor, dai-nos novamente um sacerdote, dai-nos a Santa Comunhão! Tudo sofro de bom grado pelo Teu amor, grandíssimo Coração de Jesus!”

Anna ofereceu pelos sacerdotes todos os sofrimentos sucessivos de modo especial, mesmo quando numa noite de 1938 seu irmão e seu marido – estava felizmente casada há sete anos – foram presos e não voltaram mais.


Em 1942 a jovem viúva Anna foi deportada em Kazakistan com seus três filhos. “Foi duro enfrentar o frio do inverno, mas depois chegou a primavera. Naquela época chorei muito, mas também rezei muitíssimo. Eu tinha a sensação que alguém estivesse segurando a minha mão. Na cidade de Syrjanowsk encontrei algumas mulheres de fé católica. Nos reuníamos às escondidas todos os domingos e dias de festa para cantar e rezar o rosário. Eu suplicava com frequência: "Maria, nossa mãe querida, veja como somos pobres. Dai-nos novamente sacerdotes, mestres e pastores!”.

A partir de 1965 a violência da perseguição diminuiu e Anna pôde ir uma vez por ano à capital do Kirghizistan, onde vivia um sacerdote católico em exílio. “Quando em Biskek foi construída uma igreja, fui para lá com Vittoria, uma minha conhecida, para participar da Santa Missa. A viagem era longa, mais de 1000 quilômetros, mas para nós foi uma grande alegria. Há mais de 20 anos não víamos um sacerdote nem um confessionário! O pastor daquela cidade era idoso e passara mais de dez anos na prisão por causa da sua fé. Enquanto estava ali, foram-me confiadas as chaves da igreja, assim eu pude fazer longas horas de adoração. Nunca imaginei poder estar tão próxima do tabernáculo. Cheia de alegria ajoelhei-me e o beijei”...

Não é possível imaginar a gratidão de Anna quando em 1995 encontrou pela primeira vez um sacerdote missionário. Chorou de alegria e com emoção exclamou: “Veio Jesus, o Sumo sacerdote!”. Rezava há décadas para que chegasse um sacerdote à sua cidade, mas chegando aos 86 anos de idade tinha perdido a esperança de ver com seus olhos a realização desse desejo profundo.

A Santa Missa foi celebrada na sua casa e esta maravilhosa mulher de alma sacerdotal pôde receber a Santa Comunhão: no resto do dia Anna não comeu nada, para manifestar dessa forma, seu profundo respeito e sua alegria.


Leituras que podem lhe ajudar:


Devocionário da Maternidade Espiritual (aqui)

A última ao Cadafalso (aqui)

As fundações (aqui)

O ideal da alma fervorosa (aqui)

Elevação da mente a Deus (aqui)

Peregrino Russo (aqui)

Pequena Filocalia (aqui)

O Dom de Pentecostes (aqui)

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