As fontes da paz intelectual| Parte 1: A paz moral
"[Léon] Em 27 de junho de 1862, contando com 23 anos, anota a seguinte reflexão:
Seguirei com vivacidade o plano de estudo proposto pelo Padre Graty aos amigos da verdade e da sabedoria: seis anos empregados no estudo sério das ciências e da Teologia. Hesitei; gostaria mais de um trabalho mais fácil... Mas o que eu poderia responder? Que não tenho coragem? Mas essa é uma palavra digna de um homem e de um cristão? Fizeste, meu Deus, reprovações interiores à minha laxidão. Procurei-Vos na oração e tomei minha resolução. Ó Jesus, abençoai essa resolução e me dê a força de cumpri-la. Ó Jesus, eu me consagro a Vós. Começarei amanhã. Vida regrada, trabalho constante, oração viva e interior, meditação profunda"
"Deus, a alma, a vida futura: sobre esses grandes objetos a filosofia de hoje está cheia de dúvidas e questões, e se não se filosofa a este respeito, a incerteza é a mesma: a atmosfera intelectual esta perturbada em todo lugar. Quanto mais o tempo passa, mais raros são aqueles que, fora do cristianismo, ou, mais propriamente, fora da Igreja Católica, tem convicções firmes e claras sobre esses assuntos."
"E não haverá paz para as almas a não ser que a maior parte delas se reencontre ou, para melhor dizer, se reúna em uma vontade comum e uma ação comum. Querer o mesmo sobre certos pontos essenciais, decidir-se pelos mesmos motivos na condução da vida... eis a paz moral"
"A unidade moral sem acordo intelectual é uma quimera".
"Notemos bem que é no domínio moral, no domínio prático, que se procura o ponto de união. Todas as noções permanecem incertas, todas as questões permanecem sem solução, ou, que é o mesmo, cada um pensa, julga e afirma o que lhe parece bom sobre qualquer coisa. A divisão dos espíritos é extrema."
"...concebo que escritores de talento tomem a resolução de respeitarem as almas nos seus escritos e de renunciarem a toda exibição literária malsã. Esses seriam os companheiros do dever de um novo gênero, homens decididos a fazer uma obra prima sem se sacrificar à moda. Se eles se reunissem aos artistas, escultores, pintores, músicos e a associação crescesse, ela seria capaz de produzir bons efeitos, sem outra ligação intelectual estre tantos homens diferentes que o pensamento de que a salubridade moral é um bem precioso, e que não há razão para corrompê-lo, não tendo a arte nada a perder, mas tudo a ganhar."
"Imagino um país onde este tipo de associação se multiplicaria. Este seria sinal de despertar moral muito sério. Eu veria nele o indício de uma crescente busca por restauração, e ao mesmo tempo, a prova de que este povo começaria a compreender que ele precisa fazer um esforço para se salvar".
"Ireis virar as costas porque quereis proibir a especulação? E estais decididos a proibir toda especulação por que as divergências de opinião se produziriam imediatamente e viriam a ter consequência na aliança moral sonhada e desejada? Mas o que seria isso, senão omissão política ou cortesia que não tem aqui o seu lugar?"
"Todas as declarações que abreviam e diminuem devem ser temidas. Elas marcam o que podemos ter, o que é um espécie de supressão do resto. Como o que elas fixam é em si muito vago, e como, devido a essa impressão, elas não fixam nada realmente, elas só reúnem o espírito de forma aparente; a unidade que elas criam é fictícia e estéril. Elas lembram o que chamei acima de convenções políticas e da cortesia".
"Estamos aqui. Tudo está instável. A confusão está em todo lugar. É àqueles que tem ideias claras e firmes que compete trabalhar para fortalecer e esclarecer o seu entorno... Eis a primeira condição de toda influência que conta: importa mais o que se é do que o se diz ou mesmo o que se faz. Portanto, é preciso dizer e fazer... É preciso criar em torno de uma ideia, julgada essencial, todo um "movimento de opinião", toda uma agitação... dessa forma uma ideia forte como que cria órgãos que a tornam palpável e operativa. Ela faz o seu caminho. Ela vai se realizando apesar de tudo".
"Este é o poder das ideias. Mas o que queremos são ideias que refaçam os espíritos e as almas. Há muitas ideias no mundo que são capazes de os desfazer, e que conseguem isso. Nós queremos as capazes de refazer, e que tenham sucesso nisso. Onde encontraremos tais ideias?"
"A quem, então, caberia assumir a frente do movimento e presidir ao grande trabalho de restauração intelectual e moral?
É claro que não é aos políticos enquanto tais. Não aos eruditos e nem aos filósofos enquanto tais; os eruditos não podem atingir o fundo dos espíritos e das almas, e nem os filósofos, embora por outras razões. A quem caberá a grande tarefa de que falamos? Aos homens de pensamento? Não precisamente. Aos homens de boa vontade? Sem dúvida. Mas de onde eles tomarão suas ideias inspiradoras e reguladoras? Eis o ponto.
A anarquia intelectual e moral, que é visível, é claramente um mal. Julgamos que é preciso trabalhar para fazê-la cessar. Isto é um dever para todo homem que pensa.
Aqui só falamos deles e para eles. Filósofos, letrados e escritores, nós dizemos a nós mesmos, dizemos entre nós, e dizemos ao público, que temos um dever: o de trabalhar, na medida dos nossos meios e forças, para fazer cessar a anarquia intelectual e moral que todos sofrem, que tudo sofre. Queremos, portanto, trabalhar pela pacificação dos espíritos. Sabemos que a paz completa, definitiva, não é deste mundo. Não sonhamos com uma paz impossível.
Faço uma bela imagem do nosso mundo moderno enfim pacificado. A paz, ou seja, a ordem, que é a concórdia. Cada coisa em seu lugar, em seu devido posto e todas unidas conspirando para um fim superior... As fontes da paz e as fontes da regeneração moral e intelectual são as mesmas. Os espíritos e as almas serão pacificados com o que é capaz de refazer espíritos e almas. O que é capaz de refazer os espíritos e as almas é a verdade, a verdade moral inteira. Pois bem, onde está a verdade moral inteira?"
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