Crônicas| O telefone sem fio da Educação no Brasil

by - outubro 06, 2023







Um dia escutei uma pedagoga dizendo "hoje tudo é o brincar, brincar, brincar". Me lembro nitidamente de concordar que não é possível reduzir a educação "ao brincar". Afinal, brincar faz parte do processo educacional, tanto no descanso como na atividade, mas também faz parte do processo educacional conhecer os próprios talentos, superar limitações, entender horários e a vida com outras pessoas. Bem, depois de um tempo, estava na pós graduação de Neuro Educação, escutando, novamente, sobre o tal do brincar e a educação.

 O professor era um italiano com carinha de vovô que dava a aula em espanhol. Me espantou muito escutar o professor, que tinha um pezinho no "revolucionário", dizer coisas que eram, na verdade... da Educação Clássica. Pasme, não tinha nada novo na aula, exceto o fato da proposta ter aspectos da Educação Clássica, como:

- leitura em voz alta para crianças não alfabetizadas e alfabetizadas, leitura como centro da formação, leitura das crianças mais velhas para as mais novas, 

- formação de oficinas e laboratórios, que segundo apresentado pelo professor, me lembraram as "mesas de educação" da Educação Clássica, em que se estuda um tempo na mesa de Ciências, depois outro tempo na de História e outro na de Literatura, cada mesa é uma oficina, um pequeno universo de estudo e os estudos se interligam. O professor apresentou esta ideia sem o nome "Educação Clássica", só que numa escala maior. Cada sala seria uma oficina. Bem, quem estudou ou trabalhou em escola pública sabe que existe a mudança de sala pelos alunos, em outras escolas são os professores que mudam de sala, na proposta dada seria necessário a mudança dos alunos. 

- uso dos espaços abertos da escola, museus e patrimônios da cidade como oficinas e laboratórios. Que me lembrou as visitas aos Museus realizadas na Educação Clássica, estudo da história da cidade e pontos históricos da mesma, assim como lavouras, a observação de alguma criação animal ou de uma coleção de pedras e rochas. 

Também me lembro que foi abordado a "educação pela cidade", pela beleza e acesso à natureza com facilidade, uma cidade para pessoas e não para carros. Numa cidade assim é possível brincar, uma brincadeira sem a constante ação adulta de "fazer uma atividade educativa". O brincar, na proposta abordada, não está no lugar da educação, é o tempo de recreação. Na verdade, me pareceu muito o brincar dos anos 90: nós dizíamos "mãe, vamos brincar" e a mãe nos orientava dos perigos, do horário da volta e pronto. Nada mais. 

Estes pontos me pareceram muito alinhados com a Educação Clássica. Outros não. Mas continuando.

Sabia que foi um padre que inventou a história que a "escola não reprova"? Pois é, a ideia era assim: a escola deve acolher e encorajar, se ela não consegue suscitar os talentos, encorajar, tem algo errado com o método. Não posso dizer que isso seja uma abordagem errada. Pois a Educação Clássica favorece justamente este aspecto, por exemplo, se um menino quer se dedicar mais ao aprendizado do grego por ter facilidade e interesse em línguas, isso é encorajado e usado como gancho para o aprendizado de outras matérias. O mesmo com o xadrez, o ballet, a literatura, as artes, invenção, matemática ou qualquer outro talento. Entretanto, conseguimos transformar isso em "aprovação automática", mas estou me adiantando.

Me lembro, chegaram os professores do Brasil. 

Interessante como o discurso parecia o mesmo, mas não era. No lugar de uma cidade para pessoas e não carros, se propunha "parques e pontos brincáveis", que era exatamente o que o professor havia dito que não era brincar (brincar é inventar). No lugar de oficinas e laboratórios se propunha um certo louvor da "baderna educativa". No lugar do encorajamento educacional, que não reprova talentos focando em defeitos - por exemplo, o fulana (o) é ótimo em literatura ou ballet e péssimo em química, normalmente todos focam no que ele não é bom, enquanto a propulsão vem do que ele é bom, como se faz na Educação Clássica - temos a aprovação automática que na verdade não reprova o defeito mas tão pouco encoraja a habilidade ou o talento. 

Diante dos meus olhos vi um telefone sem fio horroroso, chegou até nós que a proposta "abrasileirada" é não ter plano de aula ou se o tem que seja muito "lúdico", enquanto a proposta real é focar em objetivos duráveis. Por exemplo, existe uma história muito conhecida de um professor de literatura que se viu numa sala com alunos sem hábito de leitura. Diante disso ele resolveu deixar um pouco o plano de aula de lado e dedicar vinte minutos de suas aulas para ler em voz alta um livro. Só ler, sem atividade, sem exercícios, ler para saber a história dos personagens. O ano terminou e o professor não havia terminado a história... o resultado foi que muitos alunos compraram seu primeiro livro para saber o final e muitos adquiriram o hábito da leitura. Um objetivo durável atingido, que nada tem com notas de vestibular ou o lúdico mirabolante, tampouco o desempenho baseado unicamente em notas sem notar, encorajar e validar mudanças de comportamento, maturidades atingidas e bons hábitos desenvolvidos. Isso vale para a educação em todas as idades, seja a educação escolar ou a religiosa.



"A árvore jovem, se cresce torta, nunca mais se endireita! E depois…e depois…e depois…"
"Coragem!... Continuai a servir alegremente o Senhor."
"Educar bem as crianças é transformar o mundo e conduzi-lo à verdadeira vida."

Santa Paula Frassinetti





















 

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