Adão e Eva: Reflexões sobre a Complementariedade Cristã (ou a falta dela)

by - setembro 02, 2024



Obra: A felicidade do paraíso. V. Vasnetsov. 1885–1896. Fragmento dos afrescos da Catedral de São Vladimir em Kiev



Primeiro Esboço em 13 de novembro de 2023
Publicado em 02 de setembro de 2024



Introdução



Nos últimos anos, muitos descobriram que as linhas revolucionárias criaram um ideal de homem e mulher que não seguem as orientações bíblicas e católicas sobre ser um homem cristão e uma mulher cristã.

Ao se depararem com as mentiras propagadas pelas diversas frentes revolucionárias, as mulheres se refugiaram numa percepção de feminilidade que pode ser facilmente reduzida à prática de “feminices”, e a masculinidade foi reduzida à aparência de “macho alfa”. Nos dias atuais, isso é entendido como correto. Mas será que este é um caminho saudável para a edificação cristã? Ou seria uma resposta imediata baseada unicamente em fazer o oposto dos revolucionários, achando que somente isso seria o suficiente para proteger tudo que amamos?

Bem, em 2018, iniciei o curso Mulher Católica (que não é só para mulheres), idealizado desde 2015, que visa esclarecer e aprofundar a abordagem de que essa resposta reativa, masculina e feminina, focada em fazer somente o oposto, não será suficiente. Já não é suficiente. É extremamente ilusória. Somente uma mudança profundamente cristã poderá nos auxiliar na devida ordenação do caos que nos atinge.



A visão Católica da Complementariedade


Antes de mais nada, é importante salientar que é preciso ordenar a vida interior e sacramental para bem entender a visão católica e os exemplos que nos foram deixados sobre a complementariedade.

A complementariedade é a minha aposta para este curso e para todo o trabalho no Educa-te. No entanto, preciso que a noção de complementariedade cristã e católica se torne mais palpável. Esta série não é um pedaço do Educa-te; o Educa-te é bem maior e mais profundo. Me vejo inclinada a fazer esta pequena série na esperança de veicular a abordagem católica sobre o assunto e ajudar na maturação das abordagens que são um tanto confusas da temática. Para tal, também elaborei o Calendário Literato Católico, composto por seis homens e seis mulheres intelectuais.

Segundo, a complementariedade não se restringe aos casais. A maior parte dela, como verão, acontece na execução de uma missão, e a dos casais é uma delas, mas existem outras.



"Filósofos, letrados e escritores, nós dizemos a nós mesmos, dizemos entre nós, e dizemos ao público, que temos um dever: o de trabalhar, na medida dos nossos meios e forças, para fazer cessar a anarquia intelectual e moral que todos sofrem, que tudo sofre. Queremos, portanto, trabalhar pela pacificação dos espíritos. Sabemos que a paz completa, definitiva, não é deste mundo. Não sonhamos com uma paz impossível.

Faço uma bela imagem do nosso mundo moderno enfim pacificado. A paz, ou seja, a ordem, que é a concórdia. Cada coisa em seu lugar, em seu devido posto e todas unidas conspirando para um fim superior... As fontes da paz e as fontes da regeneração moral e intelectual são as mesmas. Os espíritos e as almas serão pacificados com o que é capaz de refazer espíritos e almas. O que é capaz de refazer os espíritos e as almas é a verdade, a verdade moral inteira" (Ollé-Laprune, 1892).





Adão e Eva

Como todos sabem, Adão e Eva são os nossos primeiros pais. Foram criados com dons preternaturais, ou seja, não morriam, nem adoeciam, tinham inteligência infusa (sabiam sobre algo sem precisar estudar) e não tinham concupiscência, ou seja, as paixões estavam sob a tutela da razão. Eles eram virgens e puros.

Então, a serpente enganou Eva e todos conhecem o desfecho: nós e a nossa tendência à autodestruição pelo pecado.

Adão amava Eva, ela era a sua imagem e semelhança. Os dois cuidavam do jardim do Éden, foram criados como filhos de Deus e possuíam dons preternaturais. A missão deles era povoar a terra, multiplicar e cuidar da Criação. Deus lhes deu a vida e, ao gerar, eles continuavam o dom da vida.

A missão de Adão e Eva estava intrinsecamente ligada ao dom da vida: cuidar do jardim e da criação, gerar filhos e crescer. Eles eram, ambos, guardiões da vida. Este é o primeiro aprendizado da ação complementar entre Adão e Eva. Esta complementariedade não cessou após a queda, ela permaneceu. O castigo do Senhor foi: para a mulher, as dores do parto e se sentir atraída pelo homem e se ver por ele dominada; e para o homem, trabalhar e obter o alimento com o suor do rosto.

Antes da queda, a vida fluía lindamente e o amor entre Adão e Eva era puro e equilibrado; o trabalho e o alimento eram fáceis. Sempre houve vida e trabalho no Éden, mas ambos ganharam a nota da fadiga e da dor. Gerenciar essas duas coisas é a tarefa conjunta após a queda, assim como gerenciar a alteração dessa relação. O pecado original mudou o relacionamento original entre o primeiro homem e a primeira mulher. Todas as rusgas e brigas de poder, seja vindas do homem ou da mulher, são resultado da queda.

Por isso, como cristãos, temos, além das lições anteriores, a grande responsabilidade de, mergulhados no Sangue que nos remiu do pecado original, sair das condutas que replicam o resultado do pecado original.

Este é um dos resultados da Grande Graça que o Nosso Salvador conquistou para nós. Por isso, não se deixe levar pela replicação de padrões e estereótipos, tomando como ponto de partida apenas fazer o oposto da conduta revolucionária. Antes, homens e mulheres profundamente cristãos devem colher os ensinos da Igreja e das Sagradas Escrituras, formando-se numa vida católica manifestada numa conduta santa.

Para tranquilizá-lo, comunico que, segundo a Sagrada Tradição, Adão e Eva, após serem expulsos do Éden, foram para uma gruta e fizeram penitência. Sofreram muito ao verem o primeiro assassinato da humanidade entre seus dois filhos, Abel e Caim. Após longos anos, morreram e ficaram no Limbo, até que o Senhor Jesus desceu à Mansão dos Mortos (o Limbo) e os libertou, assim como todos os patriarcas e profetas tementes a Deus do Antigo Testamento, para entrarem no Céu, agora aberto, pelo Seu Sacrifício na Cruz.




Pontos de Aprendizado:

"O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres, e solícito em aprender de boa vontade de todos. Nunca presuma de sua ciência; não queira parecer douto, mas sê-lo; busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre os seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho" (Hugo de São Vítor).


Lição 1: Adão e Eva nos ensinam a ação complementar na execução da tarefa de serem guardiões da vida (na geração de filhos, no gerenciamento da criação, no trabalho).

Lição 2: Após a queda, a ação complementar ganha a tarefa de guardar a vida em meio à hostilidade interna e externa que o pecado gera.

Lição 3: As rusgas entre homens e mulheres, pessoais e sociais, são resultado do pecado original. Como católicos, devemos nos esforçar para, através de uma conduta santa, não replicar os efeitos do pecado original numa constante batalha de superior-inferior que gera uma falta do genuíno deleite e admiração pelos talentos um do outro.

Mesmo em meios mais tradicionais, é comum notar a replicação do enaltecimento de um em detrimento do outro, numa incapacidade de sair da conduta advinda do pecado original. Também é comum que, dada a falta de interesse e respeito genuíno pelo trabalho e talento feminino, se abra um espaço forçoso para a sua presença. Muitos destes espaços são desajustados, outros não; no caso, se houvesse um interesse genuíno e verdadeiro, não haveria necessidade de se abrir um espaço forçosamente, simplesmente se pensaria na pessoa como alguém adequado, detentor do talento e habilidade para tal tarefa ou execução. Numa ação complementar, evitam-se as constantes separações “para homens” e “para mulheres”. Ambos aprendem, se edificam, crescem e multiplicam juntos, num aprendizado e admiração mútuos.

As separações são resultado de uma conduta moduladora da incompetência em lidar com as feridas do pecado original no meio social. São muito diferentes dos motivos que levam uma ordem religiosa a separar os homens e as mulheres; uma coisa é um mosteiro, outra coisa é uma interação social. O motivo da conduta moduladora é facilitar o “convívio de iguais” (homens com homens e mulheres com mulheres), o que dificulta muito o nascimento de um respeito genuíno entre homens e mulheres. No entanto, favorece largamente o comportamento embotado e “clubista” dos homens e a excessiva sensação de incapacidade e afetação das mulheres. Duas coisas que podem ser facilmente educadas numa interação complementar sadia.















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