Minhas etapas de refinamento pela Modéstia
Eu conheci a virtude da Modéstia há 10 anos. Me lembro que quando escutei e li textos sobre esta virtude fiquei muito feliz, por ser a resposta à uma questão que tinha em mente: "como fica o corpo no caminho espiritual?" Saber que o Senhor nos concede um "virtus" (uma força) para educar, guardar e preservar o corpo, foi a resposta para uma pergunta feita durante três anos, estava esperando a resposta pacientemente e um tanto inertemente.
Eu sempre fui católica, nascida e criada, mas precisei estudar para entender esta virtude. Estudar e viver, estudar e viver. Revi também todo o Catecismo. A Total Consagração e a Modéstia me tiraram da inércia.
Não existiam muitos apostolados de internet sobre o assunto, a maioria dos que existiam e entraram pelo mesmo caminho que eu, não existem mais. Mas acredito que isso fora oportuno no meu refinamento, muitas vozes ditas ao mesmo tempo costumam confundir a mente e torná-la preguiçosa no estudo, enfraquecendo a vontade. Então, ao ter que me dedicar sem o apoio de padres, um grupo de iguais ou influências da internet acabei criando alguma fibra interior que, acredito, não seria possível em outra situação. Mas, confesso, um padre encorajador da virtude, abertamente, faz falta e ocupa um lugar que fica vazio na alma durante todo o caminho.
Deus e eu
O meu primeiro refinamento, logo depois de conhecer a virtude e ainda estudando- a, foi olhar o meu guarda roupa e tirar o que não era compatível. No entanto, veja bem como é a Providência, eu não usava roupas curtas, nem transparência, nem decotes, nem roupas apertadas, enfim, sem um olhar atento eu não conseguiria fazer nenhuma abnegação. Então, restava uma coisa, as calças. Eu nunca tive muitas roupas, então tinha poucas calças, não eram apertadas. Portanto, resolvi que esta seria a minha abnegação. Foi estranho notar que eu fiquei com blusas (eu usava muitas camisas femininas com botões antigos) uma saia (que não era tão boa assim, era uma preta rente ao joelho, poderia ser mais longa, mas era o que tinha).
Passou algumas semanas e eu encontrei uma loja, eu acho que ela estava fechando ou algo assim, encontrei saias com valores muito baixos e consegui comprar quatro ou cinco, com valor de duas, ou algo assim. Usei estas mesmas saias por três ou quatro anos. Eram boas e longas. Foi a primeira vez que comprei alguma coisa com uma intenção forte no que e em Quem eu acredito.
No meu primeiro refinamento aprendi um pouco sobre abnegação, a virtude da pobreza, sobre a Providência. Foi também o começo da mudança de comportamento de gestos e tom de voz.
Meu segundo refinamento aconteceu quatro ou cinco anos depois. Dois anos antes eu já tinha começado a usar o véu. O que me permitiu mais um tanto de refinamento da minha fibra interior, isso me ajudou muito na criação de um ambiente interno independente do exterior (que nem sempre é tranquilo). Neste refinamento, me lembro que foi a primeira vez que pensei na minha personalidade. Eu já tinha notado que muitas coisas que eu tinha não tinham nada comigo, muitas eram ganhadas... eu nunca fui de comprar roupas. Já tinha doado essas peças, mesmo sendo boas, por este motivo. Mas não tinha pensado muito em mim, acho que isso foi muito bom, porque me fez notar como a abnegação nos faz pensar na virtude (agradar a Deus) antes de nós mesmos. Neste segundo refinamento foi a primeira vez que comprei coisas em brechó e consegui ter peças que expressam quem eu sou além do que eu acredito, sem sair da virtude. Foi um refinamento muito tranquilo, baseado somente no que eu já sabia de mim mesma: não gosto de babados, não gosto de muitos detalhes, não gosto de estampa, não gosto de coisas rodadas, não gosto de muitos acessórios, eu gosto de coisas simples, clássicas com uma delicadeza sutil. Tenho estas peças até hoje, algumas passaram pela costureira, mas são boas porque atendem à virtude e depois à minha personalidade.
Neste refinamento eu aprendi que a virtude vem antes de mim e da minha personalidade. E ao mesmo tempo ela me dá clareza do que eu gosto ou não, independente da minha vocação. Isso também poupa dinheiro e tempo. Neste refinamento eu já estava com a fala e os gestos bem moderados, com alguns retornos esporádicos à minha natureza colérica, mesmo sendo ela uma aliada muito boa quando se tem um objetivo a ser alcançado.
Meu terceiro refinamento foi exclusivamente interior. É muito interessante como a virtude trabalha o exterior no interior, o interior no exterior. Durante todo este processo, que não acabou, encontrei a expressão "elegância espiritual" usada pelo Monsenhor Idelfonso Villar. Entendi, numa expressão, o caminho que entrei com a Santíssima Virgem. Elegância é a arte de eleger, escolher. A Modéstia me ensina a escolher, usar meu livre arbítrio com uma intenção espiritual, para o meu crescimento espiritual. E no meu caso, colocar em prática a resposta que recebi: desde já cultivar a alma e o corpo numa conduta santa. A alma e o corpo caminhando juntos num caminho espiritual que se plasma no temporal, de certa forma, transfigurando a matéria. Eu me esqueci disso, por algum tempo e reaprendi (ou aprendi, de fato) no meu terceiro refinamento.
Existem outras coisas que não consigo escrever, no entanto, espero que estas palavras sejam oportunas na sua disposição para o seu refinamento.
Singelamente, Ana
8 comments
Escrito esplendoroso!
ResponderExcluirObrigada, Ana! Por compartilhar tamanha preciosidade. Também passo por esses refinanciamentos e seu apostolado tem contribuído significadamente para alcançar plenamente a virtude da modéstia. Bendito seja Deus 🙏
ResponderExcluirAna me identifiquei com suas palavras e seus ensinamentos
ResponderExcluirQuerida Ana, quão acalentadora são suas palavras, poderia passar horas lendo sobre esse assunto. Despertou em mim alguns questionamentos que devo me aprofundar. Siga sempre com essas inspirações!!!
ResponderExcluirmaravilha!!!
ResponderExcluirPreciso refinar mais minha fala e meus gestos.
ResponderExcluirGraças a Deus pela sua generosidade, preciso refinar fala, gestos, tanta coisa... seu texto veio em momento certo. Gratidão.
ResponderExcluirPaz e bem Ana, você deu exemplos bem claros do que viveu, isso nos ajuda muito neste caminho, se puder partilhar mais sobre como foi e como é a sua caminhada no dia a dia nos ajudará muito.
ResponderExcluirOlá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.