Natan Pimenta
Ana Paula Barros
Escrita colaborativa iniciada em 18 de março de 2024 e finalizada em 27 de maio de 2024.
"Louco não é o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a razão." (G. K. Chesterton).
Em um mundo com excesso de respeito humano, tudo torna-se relativo, e virtuoso é aquele que não possui certezas. Quantos não enchem o peito e dizem, com ar de superioridade: “tenho medo de quem tem muitas certezas, eu tenho muitas dúvidas, estou sempre mudando”? Ou ainda: “ninguém tem a verdade absoluta sobre algo”. Que tipo de pessoa é o próprio símbolo da inconstância? Os jovens! Assim, até os mais velhos agora estão sendo guiados pelos mais jovens, contrariando neste ponto a própria cultura pagã, que via nos mais velhos um porto seguro de confiança e sabedoria. Assim, a geração que pela primeira vez na história tem o QI mais baixo que seus antecessores, guia esses próprios antecessores rumo ao abismo da superficialidade, da imaturidade e da inconstância.
Que a sociedade tem se paganizado nos últimos tempos não é surpresa para ninguém (legalização do assassinato de bebês nos ventres de suas mães em diversos países, aumento das religiões animistas etc), e essa própria ideia de mudança constante é de um pagão: Heráclito de Éfeso.
Porém, se tudo muda, nada permanece?! Se nada permanece, quem sou eu? As dúvidas dos “jovens” de 30 anos de hoje soariam pueris para qualquer senhor da área rural das décadas passadas. Esse senhor sabia onde estava, quem era e que deveria seguir certas regras da natureza se quisesse ter boa colheita. Estava instalado na realidade.
As certezas guiam nossas vidas, das coisas pequenas (piso no chão pois tenho certeza que ele estará lá) às maiores (a certeza do amor de Deus pela humanidade, por exemplo). Só não tem certezas aquele que não sabe o que é a verdade. E se a verdade é definida por Santo Tomás de Aquino como a “adequação entre o intelecto e a coisa”, não é surpreendente que haja tantas pessoas sem certezas, já que, cegos pelas ideologias, não conseguem mais enxergar a realidade tal como ela se apresenta.
Destarte, posso dizer sem medo de ferir certas suscetibilidades alheias, que tenho muitas certezas. Dentre elas as matemáticas (que 2 mais 2 são 4, e quando afirmo isso estou obviamente com a verdade absoluta) e a certeza de tudo aquilo que nos foi revelado (por Deus, claro). Assim, a certeza que tenho hoje de que a fé católica é a verdadeira, é a que quero ter na hora de minha morte (ainda que deseje crescer muito ainda em fé, esperança e caridade). Afinal, se Deus — que não se engana nem nos engana, pois é a Verdade — revelou algo, como posso eu duvidar desse dado revelado? A própria fé, como no-lo diz o autor da carta aos Hebreus, é a “certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11, 1).
Certas dúvidas são boas e salutares, pois nos movem rumo ao conhecimento, mas duvidar de tudo e de todos, sempre, não é virtude, mas superficialidade, infantilidade, preguiça (por não querer buscar a resposta para as coisas) e…. burrice. O elogio efusivo aos jovens e à mudança constante é fruto da podridão da sociedade hodierna, que além de não mais reconhecer que a grama é verde, tenta proibir que aqueles que ainda enxergam o óbvio possam se pronunciar . Nesse tempo de delírio coletivo, ressoam as palavras do bispo Fulton Sheen: “Dizem que a América sofre devido à intolerância - não é verdade. O sofrimento dela se origina da tolerância, já que tolera iqualmente o certo e o errado, a verdade e a falsidade, a virtude e o vício, o Cristo e o caos. Comparada à invasão dos dogmáticos, é a invasão dos compreensivos em uma ameaça muito maior a nossa pátria.”
As certezas conduzem ao reto questionamento. Ter certezas, acreditar na existência de uma verdade absoluta, oferece as bases necessárias para gerar questionamentos sadios sobre: se uma ordem é justa ou não, se algo é certo ou errado. Possibilitam o acesso aos princípios de uma boa conduta social, princípios estes que nos levam à um critério de julgamento com o mínimo de fundamento. Ou seja, diferente do que muitos pensam, ter certezas possibilita o questionar. Quando não existe um critério para o verdadeiro, não existe também questionamento. Não é à toa que com tantas possibilidades de relativização estejamos vivendo uma maré de silêncio de morte diante de erros e corrupções em várias instâncias sociais e eclesiásticas.
Vivemos uma “espécie de ditadura do relativismo, que mortifica a razão”, disse Bento XVI, e esse relativismo mina a fibra moral que somente a Verdade, a firme convicção, é capaz de nutrir. Isso gera uma percepção de mundo incerta e flutuante porque a instância interior está alicerçada na mais profunda incerteza, mas também gera uma apatia mordaz diante do que é errado, uma apatia zumbi que não reflete sobre nada, não é capaz de questionar sobre nada, já que não tem convicção ou pontos de referência sobre a verdade, o certo, o bom. Lançando mão do silenciamento como a ferramenta mais eficaz em defesa dessa divindade neo pagã chamada relativismo a apatia se espalha sorrateira em todos os ciclos sociais, eclesiásticos e clericais.
A história está aí para comprovar que aqueles que possuem convicções são os que detêm realmente algum poder. Povos inteiros caíram quando perderam suas convicções, povos inteiros ascenderam, em poder e influência, quando mantiveram firmes suas convicções.
Vemos agora mesmo o resultado de se perder as certezas e deixar-se afundar numa incerteza que não é capaz de questionar retamente: a Europa cristã se foi e agora temos uma Europa islâmica. O cristianismo europeu caiu porque os cristãos perderam suas convicções, perdendo com isso sua história e identidade; cedeu terreno e foi culturalmente conquistado.
Isso deveria servir de alerta a todo cristão sobre o preço cobrado ao cultuar o relativismo.