“Feminino não é um atributo da mulher, masculino não é um atributo do homem. São dois construtos sociais que nós, tempo a tempo, sociedade a sociedade, classe a classe, raça a raça, gênero a gênero, localização geográfica a localização geográfica, inventamos. Feminino, feminilidade é uma coisa que você compra, literalmente, da unha ao cabelo, da prótese ao espartilho, do sapato à meia-calça. Você vai comprar, está à venda. Ela se constrói a partir do que pode ser comprado.”
Esta fala é de um comunista.
No entanto, me pergunto se está perceptível que a concepção da construção do denominado “gênero”, conforme a literatura revolucionária e seus defensores, fundamenta-se na aquisição de certos apetrechos que conferem ao seu portador a feminilidade ou a masculinidade, independentemente de ser este ente homem ou mulher. A feminilidade e a masculinidade são edificadas pela aquisição de determinados adornos, sendo, portanto, transitórias. O indivíduo está homem ou está mulher, podendo amanhã estar de outra forma.
Muito bem, certamente, isso já é de conhecimento do leitor. Portanto, adentremos o Pantheon contemporâneo que é a percepção da feminilidade atual.
A educação católica tradicional é bastante clara, tanto na Patrística quanto nos textos Sagrados, ao afirmar que os apetrechos e acessórios não são determinantes para a definição de um sexo (por isso o homem não deve se vestir de mulher e a mulher de homem). O sexo é uma condição intrínseca, assim como a nacionalidade e a genealogia; ou seja, você nasce com um sexo, uma nacionalidade e em uma família (numa linhagem, mesmo que você a desconheça). Isto está dado.
Ao adotarmos o discurso da feminilidade como a adesão a acessórios, além de confortarmo-nos em nossas próprias afeições e afetações, também nos propomos a um flerte perigoso com a ideia materialista revolucionária de construção do sexo por meio de apetrechos externos. Isso é bastante contraditório e grave para aqueles que não acreditam em “fluidez identitária” ou em uma “sexualidade construída”.
Compreendo que o exercício de análise do discurso e crítica cultural é exaustivo. Contudo, neste estágio, torna-se necessário revisitar os discursos dos cristãos, conservadores e da direita. Nós, cristãos, estamos replicando, ingenuamente ou burguesamente, mas certamente, solenemente e alegremente, discursos marxistas em menor escala.
Todavia, esses discursos são deletérios em termos morais, sociais e políticos, pois encerram uma contradição intrínseca.
Qual seria a conduta adequada?
Alinhar os atributos da feminilidade à sua verdadeira essência.
A maioria das mulheres não sabe definir o que é a feminilidade. Sabem citar atributos, e metade deles tem alguma relação com imagem e aparência. Isso é realmente preocupante, pois a redução da feminilidade a apetrechos também reduz a percepção da beleza. A mulher é o ícone visível da Beleza Suprema. Reduzindo a percepção da beleza temporal, reduzimos também a moralidade. A moral, por sua vez, nos permite trilhar o caminho até o Belo Supremo.
Novamente, observe que o discurso atual está servindo à pauta revolucionária e inviabilizando a conduta cristã genuína, mesmo que revestido do verniz conservador-culto-cristão.
O que é a feminilidade?
Tentemos, mais uma vez, destruir as estátuas de Ísis e das deusas da toalete feminina espalhadas por aí.
Santa Hildegarda, ao descrever o momento da criação de alguns minerais e plantas, narra que cada um deles recebeu um atributo ou potência em determinado momento. Embora nem todos apreciem a linha teológica da Santa, o exemplo se torna oportuno para explicar o feminino e o masculino para além das análises materiais.
É uma potência conferida ao corpo da mulher e que somente nele reside, possuindo a função física e/ou espiritual de receptáculo, de gestar e gerar. Tal potência nos credibiliza o direito à proteção, ao amparo e à recepção de dádivas. É desta potência que advêm a docilidade, a fortaleza, a delicadeza, a sabedoria e a firmeza. Quando esta potência se encontra suprimida, desregulada ou deseducada, surgem: as revoltas, as afetações e apegos, os vícios, a brutalidade e a falta de docilidade ao ser educada ou corrigida. Independe dos apetrechos.
Estas questões não são insignificantes; todo acolhimento de discurso é uma aprovação de uma mentalidade. E se isso acontece, é pela fraca mentalidade cristã moderna.
A expressão material da feminilidade é, indubitavelmente, a virtude da modéstia.
A expressão material da feminilidade é, indubitavelmente, a virtude da modéstia.
É evidente que a potência feminina norteia os atos. A virtude responsável por moderar o comportamento é a virtude da modéstia e, por meio dela, ocorre a moderação da mente pela estudiosidade, da percepção de si pela humildade e dos gestos, vestimenta e fala pela modéstia. A manifestação da feminilidade não se realiza pela aquisição de apetrechos, mas sim pela transformação da ordem interior que gera uma conduta refinada espiritual e moralmente. Desta forma, cumpre-se o pedido do Apóstolo Pedro para que as mulheres cristãs se adornem de piedade, sabedoria, firmeza e coragem: “Não seja o vosso adorno exterior: cabelos frisados, adereços de ouro, gala e preparo dos vestidos — mas (resida) no interior do vosso coração, na incorruptibilidade de uma alma doce e serena; eis o que é de grande valor diante de Deus” (1 Pedro 3, 3-4).
A instância material não pode oferecer tais coisas; as escolhas materiais são reflexos da ordem interior e das preocupações da mente. O Apóstolo propõe que façamos boas escolhas na esfera material, mas que, acima de tudo, estejamos firmes na certeza de que somos fortes, sábias e corajosas na piedade, não buscando tais atributos em modas ou apetrechos. E continuamos sábias, fortes e corajosas com poucos apetrechos ou sem apetrechos, pois a beleza não reside neles.