Literato Católico: John Wu e sua Filosofia do Direito
A Família Wu em visita ao Santo Padre. Dr. John Wu, vestido de preto, está à direita do Pontífice, usando uma veste tradicional chinesa moderna (aparentemente, um Zhiduo).
Crítica de Cultura (por Professora Ana Paula Barros)
Seria bom se todos os interesses humanos pudessem ser reconhecidos e protegidos pela lei, mas na verdade eles constantemente entram em conflito e, em todos os tipos de situações [sic], alguns interesses precisam ser sacrificados para que outros possam receber total atenção nas mãos da lei. No direito, como na vida em geral, temos que aprender que "por tudo o que temos, abrimos mão de outra coisa"; e devemos ser ensinados a "definir a vantagem que ganhamos contra a outra vantagem que perdemos e a saber o que estamos fazendo quando elegemos".
— Dr. John Jingxiong Wu
Ficha de Leitura
Dr. John Ching Hsiung Wu (28 de março de 1899 - 6 de fevereiro de 1986) foi um jurista, filósofo, educador e autor sino-americano. Nascido em Ningbo, na China, ele foi um católico convertido que se destacou por suas obras em direito, literatura chinesa, e espiritualidade cristã. Ele desempenhou um papel importante como o principal autor da Constituição da República da China (Taiwan) que foi promulgada em 1947. Esta constituição é distinta da lei fundamental da República Popular da China, vigente desde 1982. Ele também atuou como juiz na Corte Permanente de Arbitragem em Haia e foi professor na Seton Hall University School of Law, em Nova Jersey.
Contribuições Filosóficas e Teológicas
Sua filosofia refletia a síntese de tradições ocidentais e orientais, buscando harmonizar a profundidade espiritual das religiões com a racionalidade do direito e da moralidade. Ele é amplamente reconhecido pelas suas traduções da Bíblia para o chinês, bem como pelo seu trabalho "Além do Oriente e Ocidente".
Obras Principais
"The Interior Carmel: The Threefold Way of Love": Um estudo profundo sobre caminhos espirituais em sintonia com a tradição carmelita.
"Beyond East and West": Uma obra autobiográfica que oferece uma visão penetrante das interseções entre as espiritualidades oriental e ocidental.
"A tradução do Tao Te Ching": uma visão cristã elogiada por sua precisão e sensibilidade ao texto original.
"The Science of Love: A Study in the Teachings of Thérèse of Lisieux": Livro sobre as lições espirituais de Santa Teresa de Lisieux, que influenciou grandemente a conversão de Wu ao catolicismo.
O tópico inter-religioso sempre foi uma temática delicada e, recentemente, tem se tornado ainda mais sensível. Inquestionavelmente, a ação inter-religiosa geral católica nos fez perder nossa própria tradição e história, optando por caminhos confusos e distantes da luz da verdadeira evangelização. Como consequência, muitos adotaram uma postura de rígida reserva quanto ao estudo religioso de outras culturas, visando à evangelização. Este raciocínio surge da segurança encontrada em países católicos e da falta de envolvimento em missões. No entanto, tal perspectiva não está em consonância com a tradição católica sobre o assunto.
Nos registros de santos missionários e nas obras de missão ocidentais após a queda do Império Romano Ocidental, aprendemos que o missionário deve estudar a cultura dos povos para encontrar os sinais deixados por Deus para a evangelização. Essa é uma tarefa árdua e diversificada. Todas as culturas possuem sinais que podem ser usados para a conversão ao cristianismo, seus mitos, filosofias e até mesmo suas religiões. O missionário é um estudioso das culturas, empenhado em descobrir a porta que o Senhor deixou em cada uma para que o cristianismo adentre. Vale destacar que rejeitar um dos pilares da evangelização tradicional, somente semeia desrespeito à história e aos povos, dificultando, principalmente, a evangelização de culturas como a chinesa, profundamente enraizadas no respeito.
Assim, o estudioso da cultura em missão encontra diversas portas: uma tribo das Filipinas, por exemplo, possui uma lenda sobre o primeiro homem chamado Adam, enquanto na China há múltiplas lendas que falam de um Criador gerando um filho, o Imperador Celestial (ou o Imperador Celestial tendo um filho que excede tudo no Reino Celeste). Ademais, há orientações nos textos taoístas e budistas que apontam ao cristianismo. O cristianismo não imitou outras religiões; são as outras religiões que possuem fragmentos da Verdade e do Caminho.
Infelizmente, a cultura da conveniência nos fez perder o ardor missionário, fazendo-nos olhar tudo com medo em vez do olhar corajoso de um filho de Deus que pretende levar a todos ao império de Cristo, usando e purificando a cultura. De um lado, há um medo covarde que impede a missão, enquanto do outro, uma adesão sem purificação transformou a Igreja em um Frankenstein cultural.
John Wu nos mostra como percorrer esse caminho, encontrando as portas de conversão nas diversas culturas e purificando-as com respeito, interesse e verdadeira capacidade de realizar o texto bíblico: "Eu o preservei para ser um elo de aliança entre os povos" (tradução da Liturgia das Horas de Isaías 49), aplicável tanto ao Messias quanto a Seus co-herdeiros.
A filosofia do direito de John Wu nasceu dessa união respeitosa entre o melhor das filosofias oriental e ocidental. Tal dinâmica foi também praticada pelos padres medievais, inclusive Santo Tomás, que, ao ler as traduções e produções árabes, uniram o melhor do Ocidente e do Oriente.
Em sua obra "Castelo Interior", John Wu mostra como unir todas as áreas do saber na aplicabilidade da Teologia Prática. Ele retira os temas das trevas e os coloca sob a luz clara do Ressuscitado, para que possamos discuti-los abertamente. Sua escrita é gentil, exata e erudita, digna de um antigo erudito chinês e, acima de tudo, de um cristão.
Trechos para apreciação
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