Literato Católico: John Wu e sua Filosofia do Direito

by - sexta-feira, janeiro 03, 2025

A Família Wu em visita ao Santo Padre. Dr. John Wu, vestido de preto, está à direita do Pontífice, usando uma veste tradicional chinesa moderna (aparentemente, um Zhiduo).



Seria bom se todos os interesses humanos pudessem ser reconhecidos e protegidos pela lei, mas na verdade eles constantemente entram em conflito e, em todos os tipos de situações [sic], alguns interesses precisam ser sacrificados para que outros possam receber total atenção nas mãos da lei. No direito, como na vida em geral, temos que aprender que "por tudo o que temos, abrimos mão de outra coisa"; e devemos ser ensinados a "definir a vantagem que ganhamos contra a outra vantagem que perdemos e a saber o que estamos fazendo quando elegemos".

— Dr. John Jingxiong Wu





Ficha de Leitura

Dr. John Ching Hsiung Wu (28 de março de 1899 - 6 de fevereiro de 1986) foi um jurista, filósofo, educador e autor sino-americano. Nascido em Ningbo, na China, ele foi um católico convertido que se destacou por suas obras em direito, literatura chinesa, e espiritualidade cristã. Ele desempenhou um papel importante como o principal autor da Constituição da República da China (Taiwan) que foi promulgada em 1947. Esta constituição é distinta da lei fundamental da República Popular da China, vigente desde 1982. Ele também atuou como juiz na Corte Permanente de Arbitragem em Haia e foi professor na Seton Hall University School of Law, em Nova Jersey.


Contribuições Filosóficas e Teológicas

Sua filosofia refletia a síntese de tradições ocidentais e orientais, buscando harmonizar a profundidade espiritual das religiões com a racionalidade do direito e da moralidade. Ele é amplamente reconhecido pelas suas traduções da Bíblia para o chinês, bem como pelo seu trabalho "Além do Oriente e Ocidente".


Obras Principais

"The Interior Carmel: The Threefold Way of Love": Um estudo profundo sobre caminhos espirituais em sintonia com a tradição carmelita.

"Beyond East and West": Uma obra autobiográfica que oferece uma visão penetrante das interseções entre as espiritualidades oriental e ocidental.

"A tradução do Tao Te Ching":  uma visão cristã elogiada por sua precisão e sensibilidade ao texto original.

"The Science of Love: A Study in the Teachings of Thérèse of Lisieux": Livro sobre as lições espirituais de Santa Teresa de Lisieux, que influenciou grandemente a conversão de Wu ao catolicismo.




Panorama do século XX



O século XX foi um período de grandes transformações e acontecimentos históricos que moldaram a sociedade como a conhecemos hoje. Foi marcado pelas duas Guerras Mundiais, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que trouxeram devastação e mudanças geopolíticas significativas, incluindo o colapso de impérios e o surgimento de novas superpotências como os Estados Unidos e a União Soviética. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo mergulhou na Guerra Fria (1947-1991), uma disputa ideológica, tecnológica e militar entre o capitalismo e o socialismo, que influenciou profundamente a política global e levou à corrida espacial, com momentos marcantes como o lançamento do satélite Sputnik pela União Soviética em 1957.

O século também viu o processo de descolonização, intensificado após a Segunda Guerra Mundial, com diversos países da África, Ásia e Oriente Médio conquistando sua independência ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, como a independência da Índia em 1947.

Ao mesmo tempo, os avanços tecnológicos e científicos revolucionaram todos os aspectos da vida humana, desde a medicina, com o desenvolvimento de vacinas como a da poliomielite nos anos 1950, e antibióticos como a penicilina na década de 1940, até as comunicações, com a invenção do rádio (década de 1920), da televisão (anos 1930), do computador (década de 1940) e, mais tarde, da internet (década de 1980). A exploração espacial tornou-se uma realidade, culminando com a chegada do homem à Lua em 1969.

Socialmente, o século XX foi palco de movimentos transformadores em busca de direitos civis, "igualdade de gênero" e inclusão de grupos marginalizados, como o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960 e as ações feministas ao longo de todo o século. Na cultura, o modernismo (início do século XX), o surrealismo (década de 1920) e outras correntes artísticas redefiniram as fronteiras da criatividade, enquanto a globalização conectou as nações como nunca antes, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.





Livros da Literatura do Século XX 



No modernismo, autores como James Joyce, com Ulysses (1922), e Marcel Proust, com À Sombra das Raparigas em Flor (1919), introduziram inovações como o fluxo de consciência. Na literatura existencialista, obras como O Estrangeiro (1942), de Albert Camus, e A Náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, exploraram a liberdade e a alienação.


O realismo mágico emergiu com força na América Latina, com escritores como Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão (1967), e Juan Rulfo, com Pedro Páramo (1955), que mesclaram o cotidiano ao fantástico. No cenário pós-colonial, autores como Chinua Achebe, com O Mundo se Despedaça (1958), e Salman Rushdie, com Os Filhos da Meia-Noite (1981), abordaram a  independência cultural.


A poesia modernista também se destacou, com T.S. Eliot publicando A Terra Desolada (1922), uma obra repleta de alusões fragmentadas, enquanto Pablo Neruda publicava sua poesia romântica e política, como em Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada (1924). No teatro, Samuel Beckett desafiou as convenções com Esperando Godot (1953), representativo do Teatro do Absurdo, enquanto Federico García Lorca explorou as tensões sociais em peças como A Casa de Bernarda Alba (1936).


A literatura distópica também floresceu com obras como 1984 (1949), de George Orwell, que lançou uma poderosa crítica ao totalitarismo, e Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, que examinou os perigos de uma sociedade controlada. Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo (1949), enquanto Virginia Woolf publicou Uma Janela para o Amor (1927).


No Brasil, Clarice Lispector se destacou como uma das maiores escritoras do século, trazendo uma linguagem introspectiva e poética em obras como sua obra A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Por outro lado, autoras afro-americanas como Zora Neale Hurston, com Seus Olhos Viam Deus (1937), e Toni Morrison, ganhadora do Prêmio Nobel em 1993, trouxeram narrativas sobre a experiência afrodescendente, como em Amada (1987).


O mercado também abriu espaço para narrativas de suspense, como as de Agatha Christie, a "Rainha do Crime", cujas obras, como Assassinato no Expresso do Oriente (1934) e E Não Sobrou Nenhum (1939). 



Gertrud von Le Fort destacou-se com Hymnen an die Kirche (1924), um tributo à Igreja Católica, e Die Letzte am Schafott (1931), que narra o martírio das Carmelitas de Compiègne. Edith Stein, filósofa e santa católica, deixou importantes escritos como On the Problem of Empathy (1916) e The Science of the Cross. Maria Luiza Chaveut publicou o seu A virgem cristã na família e no mundo em 1930.


Na África, Margaret Ogola contribuiu com The River and the Source (1994), uma celebração de gerações de mulheres quenianas, além de I Swear by Apollo (2002) e Place of Destiny (2005). Flannery O'Connor, uma renomada escritora americana, trouxe contos e romances que abordam a graça divina e a complexidade humana, como em Wise Blood (1952). Alice Thomas Ellis explorou a fé e a moral em obras como The Sin Eater (1977), enquanto Caryl Houselander destacou-se por seus escritos espirituais, como The Reed of God (1944), que reflete sobre a Virgem Maria.


Ademais, Irmã Miriam Joseph, acadêmica e autora católica, deixou um importante legado com The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric (1937), uma obra que revitaliza as artes liberais na educação, e Shakespeare's Use of the Arts of Language (1947), que analisa o uso da retórica nas obras de Shakespeare. 







Crítica de Cultura (por Professora Ana Paula Barros)

O tópico inter-religioso sempre foi uma temática delicada e, recentemente, tem se tornado ainda mais sensível. Inquestionavelmente, a ação inter-religiosa geral católica nos fez perder nossa própria tradição e história, optando por caminhos confusos e distantes da luz da verdadeira evangelização. Como consequência, muitos adotaram uma postura de rígida reserva quanto ao estudo religioso de outras culturas, visando à evangelização. Este raciocínio surge da segurança encontrada em países católicos e da falta de envolvimento em missões. No entanto, tal perspectiva não está em consonância com a tradição católica sobre o assunto.


Nos registros de santos missionários e nas obras de missão ocidentais após a queda do Império Romano Ocidental, aprendemos que o missionário deve estudar a cultura dos povos para encontrar os sinais deixados por Deus para a evangelização. Essa é uma tarefa árdua e diversificada. Todas as culturas possuem sinais que podem ser usados para a conversão ao cristianismo, seus mitos, filosofias e até mesmo suas religiões. O missionário é um estudioso das culturas, empenhado em descobrir a porta que o Senhor deixou em cada uma para que o cristianismo adentre. Vale destacar que rejeitar um dos pilares da evangelização tradicional, somente semeia desrespeito à história e aos povos, dificultando, principalmente, a evangelização de culturas como a chinesa, profundamente enraizadas no respeito.


Assim, o estudioso da cultura em missão encontra diversas portas: uma tribo das Filipinas, por exemplo, possui uma lenda sobre o primeiro homem chamado Adam, enquanto na China há múltiplas lendas que falam de um Criador gerando um filho, o Imperador Celestial (ou o Imperador Celestial tendo um filho que excede tudo no Reino Celeste). Ademais, há orientações nos textos taoístas e budistas que apontam ao cristianismo. O cristianismo não imitou outras religiões; são as outras religiões que possuem fragmentos da Verdade e do Caminho.


Infelizmente, a cultura da conveniência nos fez perder o ardor missionário, fazendo-nos olhar tudo com medo em vez do olhar corajoso de um filho de Deus que pretende levar a todos ao império de Cristo, usando e purificando a cultura. De um lado, há um medo covarde que impede a missão, enquanto do outro, uma adesão sem purificação transformou a Igreja em um Frankenstein cultural.


John Wu nos mostra como percorrer esse caminho, encontrando as portas de conversão nas diversas culturas e purificando-as com respeito, interesse e verdadeira capacidade de realizar o texto bíblico: "Eu o preservei para ser um elo de aliança entre os povos" (tradução da Liturgia das Horas de Isaías 49), aplicável tanto ao Messias quanto a Seus co-herdeiros.


A filosofia do direito de John Wu nasceu dessa união respeitosa entre o melhor das filosofias oriental e ocidental. Tal dinâmica foi também praticada pelos padres medievais, inclusive Santo Tomás, que, ao ler as traduções e produções árabes, uniram o melhor do Ocidente e do Oriente.


Em sua obra "Castelo Interior", John Wu mostra como unir todas as áreas do saber na aplicabilidade da Teologia Prática. Ele retira os temas das trevas e os coloca sob a luz clara do Ressuscitado, para que possamos discuti-los abertamente. Sua escrita é gentil, exata e erudita, digna de um antigo erudito chinês e, acima de tudo, de um cristão.




Trechos para apreciação






Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025). 

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