Literato Católico: Léon Ollé-Laprune e sua Filosofia Espiritualista
Ficha de Leitura
Sob a influência do filósofo Elme Marie Caro e do livro Les Sources, de Auguste Joseph Alphonse Gratry, Léon Ollé-Laprune, após dedicar-se a estudos brilhantes na École Normale Supérieure (1858 a 1861), enveredou pela filosofia. Sua trajetória acadêmica o viu lecionar primeiro nos liceus e, a partir de 1875, na École Normale Supérieure.
Frédéric Ozanam, notável por seu papel como professor católico de história e literatura estrangeira na universidade, inspirou Ollé-Laprune a almejar o mesmo destino na filosofia. O teólogo jesuíta Théodore de Régnon escreveu-lhe: "Alegro-me em pensar que Deus deseja, em nosso tempo, reavivar o apostolado dos leigos, como nos tempos de Justino e Atenágoras; é você, especialmente, quem me inspira esses pensamentos".
O governo da Terceira República, embora pressionado por setores da imprensa a punir o "clericalismo" de Ollé-Laprune (o governo fez tal coisa, veja bem, não os padres), foi dissuadido por sua reputação filosófica. No entanto, por um ano (1881-82), após organizar uma manifestação em favor das congregações expulsas, ele foi suspenso de suas funções docentes por Jules Ferry.
Em 1897, Ollé-Laprune foi eleito para a seção filosófica da Academia de Ciências Morais e Políticas, sucedendo Vacherot. Poucos meses após sua morte, William P. Coyne comentou que ele era "o maior leigo católico a surgir na França desde Ozanam" (New Ireland Review, junho de 1899, p. 195).
Beato Frédéric Ozanam
Frédéric Ozanam (1813-1853) foi um ilustre acadêmico, advogado, jornalista e escritor francês, notoriamente conhecido por seu trabalho social e pela fundação da Sociedade São Vicente de Paulo. Nascido em Milão, Ozanam dedicou-se ardorosamente à causa dos pobres.
Iniciou suas atividades filantrópicas como estudante em Lyon, formando, com alguns amigos, a Sociedade São Vicente de Paulo. Enquanto professor de literatura estrangeira na Sorbonne, suas aulas conquistaram grande popularidade. Ozanam acreditava na unificação da fé e da razão, e seu trabalho abarcava a defesa da doutrina social católica juntamente com o combate às injustiças sociais de sua época.
Prematuramente falecido aos 40 anos, seu legado perdurou, levando à sua beatificação pelo Papa João Paulo II em 1997.
Elme Marie Caro
Elme Marie Caro foi um renomado filósofo francês, nascido em 4 de março de 1826, em Poitiers, França. Ele foi influenciado pelo pensamento espiritualista e teve uma carreira acadêmica brilhante. Caro estudou no Collège Stanislas de Paris antes de se formar na École Normale Supérieure em 1848, destacando-se como um dos alunos mais brilhantes de sua classe. Inicialmente lecionou em diversas universidades provinciais antes de se estabelecer em Paris como mestre de conferências na École Normale Supérieure.
Ao longo de sua carreira, Caro escreveu extensivamente, defendendo o Cristianismo contra a filosofia positivista prevalecente na época. Ele foi membro da Académie Française e contribuiu para publicações como La France e Revue des deux Mondes. Era conhecido por suas qualidades de exposição e crítica, mais do que pela originalidade do pensamento. Entre suas obras notáveis estão L'Idée de Dieu (1864) e Le Pessimisme au XIXe siècle (1878).
Auguste Joseph Alphonse Gratry
Auguste Joseph Alphonse Gratry (1805-1872) foi um influente teólogo, filósofo e escritor francês. Sua obra Les Sources é uma coleção de reflexões filosóficas e teológicas escritas no final do século XIX. O livro aborda principalmente a importância do cultivo das faculdades intelectuais e espirituais, destacando o valor do silêncio, da solidão e do estudo rigoroso para o crescimento pessoal e o esclarecimento.
Gratry enfatiza a necessidade de introspecção e reflexão profunda como meio para adquirir sabedoria, argumentando que a distração da vida contemporânea pode ser um obstáculo à verdadeira compreensão. Ele encoraja os leitores a se envolverem em uma espécie de conversa divina durante seus estudos, buscando alcançar a Verdade.
Terceira República Francesa
A Terceira República Francesa, vigente de 1870 a 1940, constituiu um período crucial na história política francesa. O regime foi oficialmente proclamado em 4 de setembro de 1870, após a queda do Segundo Império durante a Guerra Franco-Prussiana, e perdurou até a invasão alemã e o subsequente estabelecimento da França de Vichy.
O Segundo Império Francês, instaurado por Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, marcou um período de monarquia bonapartista de 1852 a 1870. Sob o governo de Napoleão III, houve uma centralização do poder e esforços de modernização da economia e infraestrutura francesa. Contudo, essa era chegou ao fim durante a Guerra Franco-Prussiana, quando o exército francês foi derrotado e Napoleão III capturado.
A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) foi um conflito decisivo que resultou na queda do Segundo Império e na proclamação da Terceira República. A guerra teve início devido ao aumento das tensões entre a França e a Prússia, exacerbadas pela nomeação de um candidato prussiano ao trono espanhol, vista como uma ameaça pela França. Otto von Bismarck, o chanceler prussiano, manipulou a diplomacia para incitar a França a declarar guerra. A Prússia, com seus exércitos bem equipados e organizados, venceu rapidamente os franceses. Na batalha decisiva de Sedan, Napoleão III foi capturado, levando à queda de seu regime. Após a derrota, a França foi forçada a ceder territórios à Prússia e pagar pesadas indenizações.
Economicamente, o período da Terceira República foi de significativa mudança. A industrialização avançou, e Paris tornou-se um centro cultural e econômico global. A Exposição Universal e a construção da Torre Eiffel em 1889 simbolizaram o progresso e a modernidade do país.
Culturalmente, a Terceira República foi uma era de florescimento artístico e literário, conhecida como a Belle Époque. Artistas e escritores como Émile Zola, Marcel Proust, Claude Monet e Henri de Toulouse-Lautrec contribuíram para o rico cenário cultural dessa época.
Politicamente, os primeiros anos da república foram tumultuados, com o governo enfrentando a difícil tarefa de lidar com as consequências da guerra.
O filme "O Conde de Monte Cristo" (2002), embora centrado na vingança de Edmond Dantès, se passa durante e após o Segundo Império e "Os Miseráveis" (2012), a adaptação do famoso musical, que captura bem os conflitos sociais do século XIX, ocorre especialmente durante a época da Terceira República.
Crítica de Cultura (por professora Ana Paula Barros)
A filosofia espiritualista, especificamente o Espiritualismo Cristão, é uma corrente filosófica que floresceu principalmente no século XIX na França. Ela é caracterizada por uma profunda valorização da espiritualidade e da vida interior, em contraste com o materialismo e o positivismo predominantes da época. Lembra um pouco a anterior Devotio Moderna (séculos XV e XVI), que tanto influenciou Santo Inácio de Loyola, já mencionados na aula "Alienação e Intolerância" lecionada em 2022. Há uma tentativa clara de conciliar a fé com a razão filosófica. Esta filosofia valoriza a moralidade e a ética como fundamentais para a formação do caráter humano e para a orientação das ações no cotidiano.
Além disso, o Espiritualismo Cristão busca oferecer respostas às questões existenciais e morais suscitadas pelas revoluções industrial e democrática dos séculos XVIII e XIX.
Panorama do Século XVIII
Frequentemente referido como o "Século das Luzes" ou "Século da Razão", esta época destacou-se pela ascensão do Iluminismo e por várias revoluções significativas. Na política, o século XVIII foi marcado por eventos que redesenharam o mapa global. A Revolução Francesa (1789-1799) foi um evento monumental que inspirou movimentos libertários em outras partes do mundo. Este século também viu a Revolução Americana (1775-1783), que levou à independência das treze colônias britânicas na América do Norte. Estas revoluções desafiaram a legitimidade das monarquias e aristocracias estabelecidas, promovendo ideais hoje tão conhecidos de liberdade, igualdade e fraternidade. Sobre esses ideais, falamos na aula "Nova Ordem Mundial" lecionada em 2017.
Na economia, a Revolução Industrial começava a tomar forma, especialmente no Reino Unido. A mecanização da produção e a introdução de novas tecnologias, como a máquina a vapor, mudaram drasticamente a economia. Houve um aumento na produção e eficiência em indústrias têxteis e outras manufaturas. Com a expansão colonial europeia, o comércio global intensificou-se, trazendo riquezas e produtos exóticos para o continente.
A sociedade do século XVIII foi profundamente influenciada pelo Iluminismo, que trouxe uma nova era de pensamento crítico e ceticismo em relação às tradições e superstições. Voltaire, Montesquieu e John Locke propuseram ideias que defendiam a razão, a ciência e a separação dos poderes do Estado. Uma nova classe de intelectuais e burgueses começou a influenciar a sociedade.
Na música, compositores como Johann Sebastian Bach, George Frideric Handel e Wolfgang Amadeus Mozart criaram algumas das obras mais memoráveis da história. Este período também testemunhou o auge do barroco tardio e o surgimento do estilo clássico, mais estudados nos volumes da Revista Digital Salutaris.
Livros da Literatura do Século XVIII
Na literatura inglesa, algumas das figuras mais proeminentes incluem Jonathan Swift, com suas sátiras mordazes como As Viagens de Gulliver (1726), e Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoé (1719), que é considerado um dos primeiros romances modernos. Samuel Richardson inovou com seus romances epistolares, como Pamela (1740), enquanto Henry Fielding é lembrado por obras como Tom Jones (1749).
Na literatura francesa, Voltaire destacou-se com sua prosa incisiva e bem-humorada, sendo Cândido (1759) uma de suas obras mais conhecidas. Jean-Jacques Rousseau, com sua obra Emílio, ou Da Educação (1762), influenciou profundamente as teorias educacionais e filosóficas. Pierre Choderlos de Laclos também contribuiu com Ligações Perigosas (1782), um romance epistolar que explorava a intriga e a moralidade na aristocracia francesa.
A literatura alemã do século XVIII foi marcada pelo Sturm und Drang, um movimento literário e musical que precedeu o romantismo. Johann Wolfgang von Goethe emergiu como uma figura central, com obras como Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), que teve um grande impacto na juventude da época, afinal, ele era um bom moço perdido em seus pensamentos e um tanto inclinado a amores infrutíferos, mas com reflexões muito úteis. Friedrich Schiller também foi uma figura importante, com seus dramas influentes, como Maria Stuart (1800) e Guilherme Tell (1804).
Na literatura russa, figuras como Aleksandr Sumarokov e Mikhail Lomonosov foram pioneiros no desenvolvimento da literatura russa moderna. Os contos e poesias de Aleksandr Sumarokov ajudaram a estabelecer uma nova tradição literária, enquanto Mikhail Lomonosov contribuiu significativamente para a língua russa com suas obras científicas e poéticas.
A literatura americana do século XVIII viu o surgimento de escritores como Benjamin Franklin, cujas Autobiografias (1791) oferecem uma visão sobre a vida e as realizações de um dos fundadores dos Estados Unidos. Thomas Paine é outra figura importante, com seu influente panfleto O Senso Comum (1776), que inspirou os colonos americanos a buscar independência da Grã-Bretanha.
Panorama do Século XIX
O século XIX foi um período de profundas transformações políticas, econômicas, sociais e culturais, marcando o início da era moderna.
Política: A Revolução Francesa (1789-1799) deixou um legado duradouro que influenciou eventos subsequentes. A primeira metade do século viu a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte, cujas conquistas militares redesenharam o mapa da Europa. O Congresso de Viena (1815) tentou restaurar a ordem pré-revolucionária, mas ideias de nacionalismo e liberalismo se espalharam, culminando nas revoluções de 1848, que buscaram reformas políticas e sociais em várias partes da Europa. A segunda metade do século foi marcada pela unificação da Alemanha e da Itália, e pela expansão dos impérios europeus na África e na Ásia.
Economia: A Revolução Industrial, que começou no final do século XVIII, teve seu auge no século XIX. Este período viu a transição de economias agrárias para economias industrializadas, baseadas em manufatura e produção em massa. A invenção de máquinas como o tear mecânico e a máquina a vapor impulsionou a produção industrial, enquanto a construção de ferrovias e navios a vapor facilitou o transporte e o comércio. As mudanças econômicas também levaram à urbanização, com milhões de pessoas migrando para cidades em busca de trabalho nas novas fábricas.
Sociedade: A sociedade do século XIX passou por mudanças significativas devido à industrialização e às revoluções sociais. As condições de trabalho nas fábricas eram frequentemente duras e perigosas, resultando em movimentos trabalhistas e na formação de sindicatos que buscavam melhores direitos e condições para os trabalhadores. O tema da educação também ganhou destaque, com vários países reformando seus sistemas educacionais para atender às demandas de uma economia industrial. Questões de gênero e direitos das mulheres emergiram com força, levando ao desenvolvimento dos movimentos feministas.
Cultura: O século XIX também foi uma época de florescimento cultural. O romantismo surgiu como um movimento literário e artístico que valorizava a individualidade e a natureza, em oposição à racionalidade da era anterior. Escritores como Victor Hugo, Mary Shelley e Johann Wolfgang von Goethe produziram obras icônicas que refletiam as preocupações e o ideal da alma bela mencionado nas publicações Salus Beleza (2023) e Estética (2024). O realismo e o naturalismo, que vieram depois, focaram em representar a vida cotidiana e os desafios sociais com precisão. A música também floresceu, com compositores como Ludwig van Beethoven, Richard Wagner e Pyotr Ilyich Tchaikovsky criando algumas das peças mais memoráveis da história.
Livros da Literatura do Século XIX
Na literatura inglesa, Jane Austen destacou-se com suas obras como Orgulho e Preconceito (1813) e Emma (1815). Charles Dickens é outro gigante da literatura, conhecido por seus romances sociais como Oliver Twist (1837-1839) e Um Conto de Duas Cidades (1859), que abordam questões de pobreza e justiça. As irmãs Brontë também se destacaram, com Charlotte Brontë publicando Jane Eyre (1847) e Emily Brontë lançando O Morro dos Ventos Uivantes (1847). Mary Shelley, por sua vez, criou o icônico Frankenstein (1818), um marco na literatura de ficção científica. Elizabeth Gaskell, em 1854, escreveu seu famoso "Norte e Sul", que trata da revolução industrial e das mudanças cotidianas resultantes dessas transformações.
Na literatura francesa, Victor Hugo é um escritor de destaque com suas obras Os Miseráveis (1862) e O Corcunda de Notre-Dame (1831). Stendhal contribuiu com O Vermelho e o Negro (1830) e seu protagonista dúbio, e Gustave Flaubert com a perturbada Madame Bovary (1857). Honoré de Balzac também deixou sua marca com Ilusões Perdidas (1837-1843), parte de sua vasta coleção de romances conhecida como A Comédia Humana, que inaugurou uma forma de escrita única em séries com "personagens ponte". Marcel Proust iniciou a série Em Busca do Tempo Perdido em 1913, também marcada pela complexidade psicológica dos personagens.
A literatura russa do século XIX é notável por suas obras de grande profundidade psicológica e social. Liev Tolstói escreveu os épicos Guerra e Paz (1869) e a estranha Anna Karenina (1877), enquanto Fiódor Dostoiévski explorou temas de moralidade e redenção em Crime e Castigo (1866) e Os Irmãos Karamázov (1880). Nikolai Gógol, por sua vez, é lembrado por sua sátira social Almas Mortas (1842).
Na literatura americana, Herman Melville escreveu Moby Dick (1851), uma complexa história sobre a obsessão com referências bíblicas abundantes. Nathaniel Hawthorne é conhecido por A Letra Escarlate (1850), um romance que explora temas de culpa e redenção. Mark Twain contribuiu com clássicos da literatura infantil As Aventuras de Tom Sawyer (1876) e As Aventuras de Huckleberry Finn (1884), que também exploram temas sociais mais amplos.
Por fim, na literatura alemã, Johann Wolfgang von Goethe deixou um legado duradouro com Fausto (1808 e 1832), uma obra-prima que aborda a luta humana pela compreensão e anseio espiritual. Theodor Fontane, com sua obra Effi Briest (1895), destacou-se na descrição dos costumes e da sociedade da época.
Estas obras não apenas capturaram as realidades sociais, econômicas e políticas do século XIX, mas também influenciaram profundamente a literatura e a cultura dos séculos subsequentes. Elas oferecem uma visão rica e diversificada das experiências humanas pela perspectiva feminina e masculina. e ainda outros aspectos abordados na publicação Salus Literatura: Entre a Edificação e a Perversão (2015). Que bom seria se todos vissem as obras como Dickens, tão ávido em ver nas obras de Elizabeth Gaskell outro prisma da mesma realidade.
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