Literato Católico: Maria Luiza Chaveut e sua Teologia Educacional
Ficha de Leitura
Título: A Virgem Cristã
Autor(a): Maria Luiza Chaveut
Ano de Publicação: 1927
Gênero: Instrução Católica
Tema: Teologia Prática, Teologia Moral, Teologia Educacional, Celibato leigo
Crítica de Cultura (por professora Ana Paula Barros)
Maria Luiza Chaveut escreveu o livro "A Virgem Cristã em Família e no Mundo". Apesar de pouco se saber sobre a autora, é notável que ela tenha publicado este guia valioso sobre o celibato leigo em 1927, muito antes de existirem os variados locais de consagração que temos hoje nesta modalidade.
Este é um dos livros mais admirados sobre o tema. A autora se destaca pela clareza, gentileza e firmeza na medida certa, sendo uma verdadeira pedagoga das celibatárias. A leitura de seus escritos traz felicidade e esperança de que um dia ele seja novamente publicado. Acredita-se que Maria Luiza escreveu com base em sua própria experiência, o que torna o livro um excelente manual para celibatárias, especialmente aquelas que vivem fora de uma comunidade consagrada.
O livro impressiona por sua riqueza de detalhes e orientações práticas, revelando a influência de um bom padre na vida diária da autora, combinada com sua determinação. É surpreendente que, em 1927, o celibato leigo fora de uma comunidade religiosa já fosse um tema de destaque.
Com uma escrita elegante e espirituosa, a autora apresenta uma estrutura para a vida cristã celibatária que, sem dúvida, pode ser de grande proveito para muitas pessoas. O livro transcende barreiras, preconceitos e obtusidades ao explorar um tema pouco abordado no Brasil, inclusive nos meios religiosos.
Com seu característico humor francês, permeia de maneira exemplar a Teologia Prática. Esta área da Teologia Sistemática possui diversas subdivisões, incluindo a Teologia Moral e a Teologia Educacional.
A Teologia Prática é a aplicação concreta dos princípios teológicos na vida cotidiana, preocupando-se com a maneira como a fé é vivida, expressa e transmitida. Englobando desde a pregação e educação até a devoção pessoal e a vida comunitária.
Dentro da Teologia Prática, encontramos a Teologia Moral, que focaliza questões de comportamento, ética e valores cristãos. A Teologia Moral abrange diversos temas, como vocação e moralidade, fornecendo uma base sólida para decisões e ações alinhadas com a fé católica.
A Teologia Educacional é outro ramo crucial da Teologia Prática. Esta área dedica-se à formação espiritual e intelectual, através de métodos e práticas educacionais que integram a fé à vida cotidiana. A Teologia Educacional inclui a catequese, a educação formal e programas de formação contínua, de todas as idades.
Os temas abordados por Maria Luiza, como vocação, moral e instrução, pertencem ora à Teologia Moral, ora à Teologia Educacional, abrangendo, de modo satisfatório, os múltiplos aspectos da Teologia Prática.
Este livro é de inestimável valor para celibatários devotos e convictos, tão raros em um mundo hedonista – um mundo que, aliás, é mais hedonista do que o da autora.
Reflexões secundárias
De fato, existe um paralelo entre o celibato e a esperança, o qual se conecta à segunda vinda do Messias. O celibato simboliza a espera da Esposa – a Igreja – pelo Cristo reinante – o Esposo. No reino de Cristo, tão ansiosamente esperado, ninguém se casará ou se dará em casamento. Nenhum estado permanecerá, exceto aquele que se comprometeu com Cristo em noivado. Os outros relacionamentos seguirão seus próprios cursos, conforme descrito no "até que a morte nos separe".
O celibato, como estado de noivado, culminará em glória e esplendor, sendo o único vínculo construído na terra que se torna eterno. No Céu, no reinado de Cristo, não existirão mais os cargos e ofícios que conhecemos hoje no clero, nem os laços do casamento; mas o laço devoto e concreto do celibatário permanecerá: o laço do casamento celestial. Isso concede ao celibato uma vida per se em Cristo e em Seu reinado, não como algo acessório numa execução de trabalho temporal, mas como um estado que antecipa a condição da Igreja no reinado eterno do Messias e imita a vida terrena do próprio Messias.
Portanto, o celibatário está intimamente unido à segunda vinda de Cristo, e ambos estão ligados à esperança que, por fim, não existirá mais no Céu. Desde os primeiros tempos do cristianismo, os celibatários foram revestidos de respeito e justa admiração por suas orientações, independentemente das vocações dos ouvintes. Isso se deve ao compromisso com o Senhor, que é superior, como ensinam os santos da Igreja, pois superior é o Esposo, Seu poder e influência, e superior é, portanto, a vocação e o laço de compromisso com Ele.
Contexto Histórico
No que concerne à época de publicação, podemos apontar os acontecimentos da década de 1920. Os "Loucos Anos 20", também conhecidos como Roaring Twenties ou Années Folles, foram um período de grande efervescência cultural, social e econômica que se seguiu à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Essa década foi marcada por uma explosão de modernidade e inovação em diversas áreas, incluindo moda, música, arte e estilo de vida. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, muitos países experimentaram um período de rápida recuperação econômica. As indústrias cresceram, a produção em massa se tornou comum e houve uma grande expansão do consumo. O jazz se tornou extremamente popular, especialmente em cidades como Nova York, Nova Orleans e Chicago. O jazz clubs e a música ao vivo proliferaram, e artistas como Duke Ellington, Louis Armstrong, Billie Holiday e Ella Fitzgerald se tornaram ícones dessa nova era musical. Também foi o período em que surgiram as danças vibrantes como o Charleston, que conquistou jovens e entusiastas da dança.
Na moda, Coco Chanel revolucionou o vestuário feminino, introduzindo vestimentas que contrastavam com os estilos anteriores. As mulheres começaram a usar roupas mais soltas, saias mais curtas e cabelos curtos. As flappers simbolizavam essa nova liberdade, adotando um visual com lábios vermelhos, pálpebras pintadas de escuro, vestidos na altura dos joelhos e uma atitude desafiadora.
A disseminação do automóvel, do rádio, do cinema e da eletricidade transformou vidas e facilitou o crescimento das cidades. Após a restrição e o sofrimento da guerra, as pessoas buscavam prazer e indulgência, levando a uma época de festas glamorosas e excessos.
Lançar um livro sobre o celibato leigo em meio a este cenário exigia muita coragem. Maria Luiza Chaveut, ao publicar "A Virgem Cristã" em 1927 na França (veja bem!), apresentava um contraste fascinante com o espírito da época, que estava mergulhado em novidades e abusos. Os Loucos Anos 20 terminou abruptamente com o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, que deu início à Grande Depressão, uma época de grande sofrimento e dificuldades econômicas que se seguiu na década de 1930. No entanto, essa devassidão enfraqueceu as pessoas, que diante de uma crise se virão, mas uma vez, diante de uma guerra.
Política, Economia e comportamento
A Grande Depressão foi uma grave crise econômica mundial que teve início com o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 29 de outubro de 1929, evento que ficou conhecido como Terça-Feira Negra. Durante essa época, houve uma queda dramática na produção industrial, um aumento massivo do desemprego e uma queda brusca no produto interno bruto (PIB) de diversos países. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego saltou de 3,2% em 1929 para 24,9% em 1933, exemplificando a severidade da crise.
Essa crise não se limitou aos Estados Unidos, mas teve repercussões globais, impactando duramente a Europa, em especial a Alemanha, que ainda se recuperava dos efeitos do Tratado de Versalhes imposto após a Primeira Guerra Mundial. A economia alemã, já fragilizada pelas severas sanções e reparações exigidas pelo Tratado, foi devastada pela Grande Depressão. Isso resultou em elevadas taxas de desemprego e hiperinflação, aprofundando o sofrimento econômico da população.
A crise econômica criou um ambiente propício para o crescimento de ideologias extremistas e movimentos políticos radicais. Na Alemanha, Adolf Hitler e o Partido Nazista capitalizaram a insatisfação popular, prometendo revitalizar a economia, restaurar o orgulho nacional e anular o Tratado de Versalhes. O desespero econômico e a instabilidade política facilitavam a ascensão de Hitler ao poder em 1933, circunstâncias que foram decisivas para o desenvolvimento dos eventos subsequentes.
A necessidade de melhorar a economia e enfrentar os desafios impostos pela Grande Depressão levaram muitos países, especialmente a Alemanha, a investirem na rearmamentação e na indústria bélica. Isso teve o efeito de criar empregos e revitalizar a produção industrial, ao mesmo tempo em que preparava o cenário para futuros conflitos.
Assim, a Grande Depressão e suas consequências políticas e sociais estabeleceram um percurso inexorável em direção à Segunda Guerra Mundial. As tensões geradas durante esses anos de crise, aliadas à ascensão de regimes totalitários e à mobilização massiva para o conflito bélico, formaram uma ligação indelével entre esses dois eventos históricos.
Comportamentalmente, as pessoas vivenciaram um abalo sísmico. Aqueles que haviam dançado nas festas luxuosas e desfrutado da efervescência cultural de repente se encontravam num deserto de incerteza. A euforia cedeu lugar ao pragmatismo; o consumismo desenfreado foi substituído pela austeridade. A confiança na prosperidade infinita foi desafiada, forçando uma reavaliação dos valores e prioridades.
Quando a crise econômica parecia insuperável, as ideologias extremistas encontraram um terreno fértil. Em meio ao desespero e à busca por soluções rápidas, muitos foram seduzidos por promessas de redenção e renovação nacional.
Na década de 1930, o otimismo dos anos 20 se converteu em resignação e preparação para uma nova conflagração global. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) materializou-se como um desdobramento trágico dessas décadas anteriores, onde os sonhos de progresso foram hipotecados pelas realidades brutais de um conflito total.
As pessoas que atravessaram esses períodos de crise econômica e guerra foram forjadas em um cadinho de luta e sobrevivência. Que, por sua vez, não durará muito nos ciclos de acontecimentos mundiais.
rompendo limitações de entendimento e conhecimento
Na presente conjuntura, testemunhamos a injusta vinculação do celibato leigo às práticas da ala modernista da Igreja, como se esse setor fosse o gerador do celibato leigo. Contudo, conforme detalhado no estudo "Celibato Leigo", essa análise é profundamente obtusa tanto do ponto de vista teológico quanto histórico. O celibato não é, de forma alguma, um legado de grupos progressistas, nem tampouco está vinculado ao Concílio Vaticano II. Este estado de vida é, na verdade, resultado direto do influxo do Sagrado Coração do Senhor Jesus e de Seu corpo puríssimo e santo em Sua Igreja, que, em última análise, produz esse fruto em imitação e vivência escatológica do que há de vir.
Reduzir a augusta vida celibatária a meras bagatelas políticas clericais e eclesiais constitui uma grave ofensa ao poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo provê àqueles que a Ele consagram alma e corpo em resguardo. É também um desrespeito a um dos frutos mais nobres da Santa Tradição Católica. O celibato leigo, devoto e convicto, é um raio terreno da Glória de Deus.
Trechos para apreciação
"Não profaneis o título de "Virgem".
Não o deis indistintamente a todas que não abraçaram o estado de matrimônio.
Não deis, também, este título tão nobre àquelas que, por não terem achado a quem dar seu coração, vivem desgostosas, despeitadas, procurando agradar a todos em compensação por não terem sabido agradar a um só.
Nunca deis, também, o título de "Virgem" àquelas que levam sobre a terra uma existência inútil e egoísta, e que aviltam seu amor, até o ponto de consagrá-lo aos irracionais; que vivem inquietas por causa de seu gato, de seus passarinhos, tendo, no entanto, para os infelizes, um coração de gelo.
Dai este belíssimo título somente àquela que, não tendo senão um amor - Deus; uma preocupação - sua glória; um desejo - a salvação e o bem das almas, vive afastada das vaidades do mundo, desapegada dos bens da terra, e não quer ornar-se com outra joia a não ser sua angélica modéstia, nem ter outro diadema senão sua caridade.
Chamai Virgem àquela que na primavera da vida, na flor da sua juventude, renuncia às doçuras da maternidade, às alegrias de um lar, às esperanças de um futuro brilhante para se imolar, para sempre, ao grande e santo amor de Cristo.
Àquela a quem Deus, por favor especial e por um especial chamamento, inspira este irresistível desejo de amá-Lo sem reserva e sem medida. Entre Deus e a Virgem não há intermediários: nem esposo, nem filhos, nem criatura alguma. Deus só ocupa todo o seu coração, e a Ele só ela pertence!
Deus e a terra apresentaram-se à sua contemplação, e a Deus só ela quis pertencer, embora para esse fim tivesse de renunciar a todos os bens da terra. A bondade infinita, a beleza divina, por uma espécie de sedução, fascinou-a e apossou-se dela para sempre!
Àquela que não tem na terra senão os desejos do Céu por alegria, Jesus Cristo por Esposo e a geração das almas por maternidade.
Chamai Virgem só àquela que, por livre vontade, renuncia a toda e qualquer aliança terrena, para poder, livre de afeições humanas e dos cuidados da família, consagrar seu coração a Jesus Cristo e trabalhar mais eficazmente para a glória de Deus."
A Obra dos Catecismos
Nas circunstâncias dolorosas que atravessa a Igreja, parece-nos muito importante insistir mais particularmente na obra dos catecismos ou da instrução religiosa que se deve dar às crianças.
É necessário que a Virgem cristã de nossos dias seja um apóstolo, como o era a da primitiva Igreja. É, com efeito, um espetáculo tocante e digno de admiração, o que nos oferecem as Virgens dos primeiros séculos do cristianismo, devoradas pelo zelo de espalhar por toda parte os tesouros da verdade. Iluminadas pela fé, sentiam-se devorar pelo desejo de esclarecer todas as almas que viviam mergulhadas nas trevas do paganismo. Quem poderia contar as conquistas que faziam no seio da família, entre os seus amigos, seus criados, e mesmo seus algozes? Muitas vezes, a prisão e o martírio foram para elas as ocasiões mais fecundas para ganharem as almas para o amor de Cristo.
Aqui vemos Marta, a irmã de Maria Madalena e de Lázaro, que traz as primeiras luzes da fé à Provença.
É Catarina de Alexandria, que não receia entrar em discussão com os mais sábios filósofos de seu país em presença do próprio imperador romano, e força-os a reconhecerem seus erros, leva-os a abraçar a religião do Salvador e a derramar o sangue pouco depois por amor a Ele.
É Cecília, a quem o papa Urbano chamava a ovelha eloquente, e que converteu Valeriano, seu irmão Tibúrcio e os outros moços que extasiados a escutavam, e que, apenas saídos da fonte batismal, voaram com ela ao martírio. Conduzida à morte, Cecília falava de Jesus Cristo aos soldados que a cercavam e que pediram o batismo; foi no meio deste triunfo do apostolado que a ovelhinha eloquente ofereceu a cabeça ao seu algoz e, como dizem os atos de sua canonização, emigrou para o Senhor.
É Eulália, que contando apenas 13 anos, no meio dos mais atrozes tormentos, falava de Jesus Cristo e da eternidade, com tal convicção que chamou à vida da graça as testemunhas de seu suplício, semelhante ao aloé que morre ao dar as primeiras flores.
Columba tira milagrosamente das garras de um urso furioso o libertino que quisera atentar contra a sua pureza e anuncia-lhe o Evangelho, faz dele um generoso discípulo da Cruz e, mais tarde, um glorioso mártir.
Santa Tecla acompanha São Paulo em suas primeiras excursões apostólicas e passa todos os dias, até à idade de noventa anos, no exercício de um zelo tal que os doutores a apelidaram o apóstolo e o evangelista de seu sexo.
Santa Beneditina conquista onze de suas companheiras ao amor de Jesus Cristo e da santa virgindade e faz delas missionárias que de Roma trazem as luzes da fé aos territórios de Soissons e de Beauvais.
Ao nome de Patrício, o apóstolo da Irlanda, está eternamente ligado o nome de Santa Brígida, cuja ciência e caridade enchiam de pasmo os reis e grandes senhores, como ao nome de São Bonifácio, o apóstolo da Germânia, une-se o nome de Lioba, a predileta que consegue reunir, por meio de suas lições e exemplos, inúmeras discípulas.
Ainda poderíamos citar cenas não menos admiráveis que vos lembrariam os esforços e os sucessos das primeiras Virgens cristãs, que com todo ardor trabalhavam para o aumento do reino de Jesus Cristo nas almas. O divino Esposo comunicou-lhes esse fogo sagrado com que Ele veio abrasar a terra: por toda parte, elas arrancam as almas da escuridão do pecado, preparam os corações, incutindo-lhes o amor à religião, e os conduzem aos Apóstolos, aos seus sucessores que as batizam e confirmam na fé.
O Senhor, diz a Escritura, chama as estrelas das profundezas do firmamento e elas respondem: "eis-nos aqui". Obedientes, espalham por toda parte o seu doce fulgor. Assim foram as Virgens dos primeiros séculos. Quando a noite do paganismo envolvia o mundo, elas brilhavam no firmamento da Igreja como puríssimas estrelas, iluminando milhares de almas.
Em nossos dias, ó Deus, para quantos cristãos a luz do dia ainda não despontou no horizonte!
O Soberano Pontífice e os Bispos clamam contra a educação que as sociedades civis querem dar à infância. O nome de Deus deve ser proscrito das escolas: Jesus Cristo deve ser desconhecido, sua imagem tirada da vista dos alunos, sua Cruz adorável deve ser retirada das paredes da escola, para ser muitas vezes calcada aos pés dos sectários.
Chama-se a isto neutralidade: neutralidade falsa, mentirosa e que termina necessariamente no ateísmo e no mais grosseiro materialismo.
Que será desta geração educada assim fora dos princípios religiosos que são a única salvaguarda das sociedades?
As famílias ricas poderão ainda dar a seus filhos professores católicos. A escola livre talvez ainda se possa abrir em alguns lugares favorecidos, e com as esmolas dos fiéis, receber um certo número de alunos que aprenderão a conhecer a Deus, a amá-Lo e a servi-Lo.
Mas que será dos meninos que frequentam as escolas públicas? É possível que os filhos do operário, do pobre, fiquem completamente privados do ensino religioso? Quem lhes falará de Deus, de sua alma, de seus deveres, de seus imortais destinos? Quem os preparará para o grande ato da primeira comunhão? As explicações do catecismo que se faz na paróquia serão suficientes para eles? Poderão eles aprender tudo que se contém nesse precioso livro e que não lhes será explicado nem na escola, nem na casa paterna? Na escola é proibido falar-se de Deus: em casa, os pais, em geral, não têm nem o tempo, nem a necessária instrução para darem essas explicações. Os padres, apesar do seu zelo, são poucos, e vivem muito absorvidos pelas outras funções de seu ministério e não podem se ocupar desta nova obra.
Quem se encarregará de instruir esses pobrezinhos que são batizados, são filhos de Deus e membros da Santa Igreja, Esposa de Jesus Cristo? Pedem o pão da vida, e é possível que ninguém lhes queira distribuir com abundância?
Não o ignoramos; obras admiráveis se organizam em nossas cidades: o apelo do Papa e dos Bispos foi ouvido. Inúmeras cristãs, fervorosas donzelas, viúvas, e mesmo mães de família, se unem, se põem à disposição dos párocos, distribuem entre si as crianças que lhes são confiadas, e fazem-se suas dedicadas professoras.
É muito bom; esse concurso é precioso, mas será suficiente? Para tornar-se eficaz é necessário que seja constante, regular... essa regularidade é fácil de manter por moças, por senhoras a quem os deveres domésticos, a falta de saúde ou as exigências da sociedade retêm muitas vezes em casa?
É a Virgem cristã que deve estar sempre pronta para preencher esses vazios e assegurar a continuidade do ensino. Deve estar à disposição dessas crianças, sobretudo nos lugares do interior, nas pequenas freguesias onde é tão difícil manter uma escola paroquial, onde há um só padre ou onde muitas vezes não há sacerdote algum. Deveis receber essas crianças nas quintas-feiras, nos domingos e mesmo nos outros dias da semana, nas horas em que as escolas públicas não funcionam. Deveis atraí-las pela vossa bondade, pela vossa dedicação e por meio dessas pequenas recompensas que ganharão esses coraçõezinhos, e os tornarão mais dóceis e aplicados. Deveis continuamente redobrar de esforços; não vos fatigueis jamais, não desanimeis diante da inconstância, e talvez da ingratidão dessas crianças, nem diante da aparente esterilidade de vossas palavras. A colheita não se faz logo após a semeadura. São necessários longos meses para que os grãos germinem, que cresçam e que produzam depois as belas espigas. As obras de zelo exigem grande paciência. A ovelha reconduzida ao aprisco ainda pode fugir, e o bom pastor não deixará de procurá-la, para reconduzi-la de novo para o bem.
Tereis que lutar contra a indiferença e muitas vezes contra a hostilidade dos pais dessas crianças. Servi-vos, para vencer a ignorância ou a má vontade deles, de todos os recursos de vossa industriosa caridade e vosso ardente amor por Nosso Senhor e pelas almas vos inspiram. Em breve encontrareis inesperadas compensações no afeto que vossos discípulos vos testemunharão, e sentireis inefáveis consolações no dia em que os virdes, recolhidos e alegres, aproximarem-se pela primeira vez da mesa da comunhão e ali receberem o pão da verdadeira vida. Ah! então sentireis a necessidade de guiar ainda durante algum tempo seus passos incertos, e de assegurar a sua perseverança, dando-lhes ainda algumas lições de doutrina cristã.
Deveis, entretanto, contar com o mau êxito, com o abandono de muitos, mas conservai sempre a esperança de que vossos esforços não serão baldados, e que um dia essas almas voltarão para Deus, que para o futuro haverá conversões, devidas talvez às vossas lições de catecismo que, a princípio, pareceram ineficazes. Como diz o profeta, tereis algumas vezes de semear entre lágrimas: mas tereis em seguida a consolação de recolher uma abundante colheita, que oferecereis ao Pai celeste, para os seus eternos celeiros.
Armai-vos, pois, Virgem cristã, com o catecismo, para conquistar as almas das criancinhas, cujos anjos veem constantemente a face de Deus."
0 comments
Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.