Literato Católico: Irmã Miriam Joseph e a Educação Liberal
A educação baseada nas artes liberais, conhecida como Educação Liberal, tem suas raízes na educação clássica da Antiguidade e na Idade Média, onde o foco era desenvolver habilidades intelectuais fundamentais através do estudo de sete artes liberais: gramática, lógica, retórica, aritmética, geometria, música e astronomia. Enfatiza a importância do aprendizado ao longo da vida e do desenvolvimento intelectual em diversas áreas do conhecimento.
Irmã Miriam Joseph Rauh, C.S.C., PhD (1898–1982), foi integrante das Irmãs da Santa Cruz e obteve seu doutorado na Universidade de Columbia. Ela lecionou inglês no Saint Mary's College de 1931 a 1960 e é autora de diversos livros, incluindo "The Trivium" (1937), um texto desenvolvido para o currículo básico do Saint Mary's College. No prefácio da edição de 1947, ela menciona a inspiração e instrução do professor Mortimer J. Adler, da Universidade de Chicago, e reconhece suas dívidas intelectuais com Aristóteles, John Milton e Jacques Maritain. O livro aborda a educação medieval em artes liberais, com foco na gramática, lógica e retórica.
Em 1935, a carreira da Irmã Miriam Joseph deu uma guinada significativa após uma palestra do Dr. Mortimer J. Adler, da Universidade de Chicago, no Saint Mary's College. Adler destacou a importância das artes liberais e criticou a especialização que separou gramática, lógica e retórica, levando à deterioração de suas funções educacionais.
Após a palestra, o Padre William Cunningham, C.S.C., professor de Educação em Notre Dame, perguntou a Adler sobre a viabilidade de restaurar o Trivium no curso de inglês para calouros. Anos mais tarde, a Irmã Miriam Joseph escreveu que, quando a pergunta foi feita, “muitos na plateia viraram-se e olharam para mim”. As irmãs Madeleva, Miriam Joseph e Maria Theresa estudaram com Adler em Chicago e na Columbia University em Nova York. No outono de 1935, a Irmã Miriam Joseph começou a lecionar o curso "The Trivium" no Saint Mary's College, que se tornaria uma instituição essencial. O curso, ministrado cinco dias por semana durante dois semestres, treinava os estudantes a pensar corretamente, ler inteligentemente, falar e escrever de maneira clara e eficaz.
Sem um livro-texto adequado, a Irmã Miriam Joseph escreveu "The Trivium in College Composition and Reading", publicado pela primeira vez em 1937.
Obras Publicadas
- Joseph, Irmã Miriam (1937). O Trivium Integrado com a Composição da Faculdade (1ª ed.).
- Joseph, Irmã Miriam [1948]. McGlinn, Marguerite (ed.). O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica (3ª ed.).
- Joseph, Irmã Miriam [1948]. O Trivium na Composição e Leitura da Faculdade (3ª ed.).
- Joseph, Irmã Miriam [1947]. O Uso das Artes da Linguagem por Shakespeare.
- Joseph, Irmã Miriam (1962). Retórica na Época de Shakespeare: Teoria Literária da Europa Renascentista.
- Joseph, Irmã Miriam (1940). Lógica Cotidiana.
- Joseph, Irmã Miriam (1954). Ortodoxia no Paraíso Perdido.
- Referências a Mulheres nas Epístolas de Cícero, Sêneca e Plínio (1954).
- Joseph, Miriam (abril de 1962). "Hamlet, uma Tragédia Cristã". Estudos em Filologia, 59(2): 119-141. Imprensa da Universidade da Carolina do Norte.
- Joseph, Miriam (1959). "Uma Leitura 'Trivial' de Hamlet". Laval Théologique et Philosophique, 15(2): 182-214. Universidade Laval. DOI: 10.7202/1019978AR. ISSN 1703-8804 (versão impressa).
Crítica de Cultura (por Professora Ana Paula Barros)
O que chama a atenção na história da irmã Miriam é a pergunta do padre ser automaticamente ligada a ela. Ou seja, o reverendo já tinha em mente colocá-la a cabo dessa tarefa. Valorização clara, evidente. Esquecida completamente. Uma ação realizada fora da cultura de massa.
Mas um ponto importante do esquecimento é a cultura de massa. Por exemplo, quando você aceita a pessoa que possui muito alcance, números, como se ela fosse uma autoridade, sem nenhuma formação para ministrar coisa alguma, isso é movimentado pela cultura de massa. No Brasil, a cultura de massa é veiculada pelas celebridades. O celebrismo é um atributo que confere à pessoa o nível de autoridade automaticamente, sem nenhuma reflexão. Essa dinâmica do celebrismo é bem conhecida no jornalismo cultural e norteia praticamente toda a recepção dos conteúdos gerados em cultura no Brasil. O público é treinado para ver somente o que tem o brilho do celebrismo, assimilando com isso a fala e os trejeitos da celebridade.
No meio católico, não é diferente: as autoridades são as celebridades. Não importa a formação, se são de fato sensatas e corretas segundo as regras da Igreja; basta que tenham visibilidade para ganharem automaticamente autoridade. O que faz com que todo produtor de conteúdo vise antes ser celebridade, populista e polemista do que qualquer outra coisa, já que vocês, o público, querem isso. Compram qualquer coisa vendida por celebridades, mas desprezam qualquer bom trabalho feito por alguém não conhecido. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.
Também é cultura de massa quando, dentro do mecanismo da imitação de comportamento, você escolhe citar em suas redes sociais a celebridade feita de autoridade para navegar por alguns segundos na fama da celebridade, mas não cita um professor desconhecido que oferece um conteúdo mil vezes melhor. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.
Também é cultura de massa quando o consumo, os temas e as opiniões são modulados pela maioria, quando você só procura ler algo se alguém, "celebridade", mostra nas redes sociais que leu. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.
É crença que a cultura de massa está vinculada somente à TV, funk, pagode. Não, a cultura de massa está ao nosso redor, e não acredite que, por ser católico e consumir conteúdos católicos, você está a salvo. Não está, porque você consome conteúdo das celebridades católicas. Você imita os gostos, roupas, jargões das celebridades católicas, você cita em seus stories a celebridade e não cita o professor que mais oferece conteúdo de verdade. Você ainda está na cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.
Por este motivo, pelo interesse da massa ser moldado pelas celebridades cheias de jargões e pouco cérebro, autoras como a irmã Miriam são esquecidas. Uma mulher consagrada a Deus com um alto nível de conhecimento clássico simplesmente não tem obras traduzidas nesta terra das celebridades.
Este padrão não pode ser mantido durante uma vida de estudo sério. Da mesma forma como não pode ser mantido o ridículo proceder masculino de não ler obras de mulheres. Ou das mulheres de não buscarem conhecimento em arte e beleza que realmente seja sério e não um deleite diante da própria imagem. Não sei se isso acontecerá, no entanto, tenho quase certeza de que, se uma celebridade lançar um curso com preço absurdo para resolver algo profundo em dez aulas, haverá uma massa moldada e manipulada para pagar. E a massa é você.
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).
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